quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Dodge Dart 1977, Branco Valencia

                               No início da década de oitenta eu era tremendamente fascinado por quilometros de arranca e pegas de rua. Certa vez, em um domingo à noite, eu e meu amigo Ganso estávamos no centro de Taquara entediados, sem opções nenhuma de alguma coisa nova. Alguns minutos depois, apareceram dois conhecidos e pararam para conversar. Não vou citar o nome deles aqui, por razões óbvias. Vocês entenderão no decorrer da narrativa.
                               Conversa vai, conversa vem, os dois nos contaram à respeito de um local na cidade de Novo Hamburgo, onde, regularmente, estariam acontecendo pegas nas madrugadas de domingo para segunda feira. Disseram que era uma estrada abandonada em um local bem retirado da cidade. Nós dois, sedentos por alguma coisa diferente para fazer, acabamos aceitando o convite deles para ir até lá assistir os pegas. Entramos todos no fuca de um deles e seguimos direto para o tal lugar. A animação dentro do carro era total, era visível nossa ansiedade para  chegar e assistir os pegas.
                               Uma hora depois, perto das 23:30hr. chegamos! Ate então, eu nunca havia estado naquele lugar, era muito ermo, sem iluminação alguma. A noite estava muito estrelada e quente. Na chegada já me espantei com a quantidade de carros e pessoas que estavam no local. Tinha uma fila enorme de carros alinhados, em par, esperando a sua vez de largar. A estrada já estava lotada, tinham muitos carros fazendo pegas. Por aproximadamente um quilometro, os dois lados do acostamento estavam lotados de gente berrando e acenando quando os carros, geralmente alinhados, passavam.
                               Logo procuramos um lugar para estacionar e se misturar a multidão. Feito isto, descemos e nos atiramos no meio daquele aglomerado de gente. Eu e o Ganso começamos a caminhar e nos distanciamos dos outros dois, acabamos parando mais ou menos no meio da grande reta, onde os carros passavam "fedendo". Tinham diversas marcas e modelos de carros, entre eles, Dodges, Opalas, Mavericks, Chevettes, Passats e mais uma infinidade de outros!
                               Lembro que eu e o Ganso gritavamos quando passava cada dupla de carros! Gozavamos dos Chevettes, Fucas e Passats e todos que não fossem Dodge ou Maverick. A noite estava agradável e nós estávamos eufóricos com tudo aquilo. Cada dupla que largava, nós ficavamos acompanhando fixamente. De repente, olhamos no ponto de largada, dois Fucas alinhados!! Imediatamente nos olhamos e falamos praticamente juntos:"-Não pode ser!! Mas era!! Nosso amigo, dono do fuca, entrou na briga. Começamos a dar gargalhadas, gargalhadas compulsivas!!
                               Atentamente acompanhamos o pega do nosso amigo, rindo, berrando:"-Vai,vai,!! Não adiantou, levou pau!! Mas tudo bem, a nossa diversão não tinha precedentes. Alguns minutos depois, passou nosso amigo de volta, buzinando e gritando dentro do fuca, como se tivesse ganho um troféu!!
                               Bom, lá pela 1hr da manhã, tudo ia muito bem, estávamos nos divertindo muito, mas disse aos outros que eu tinha de ir embora, pois trabalhava com meu pai naquela época, e cedo da manhã, teria que sair de viagem! Embarcamos no fuca e quando nos preparávamos para sair daquele fervo de carros e gente, começou uma debandada geral. Era gente correndo para dentro do mato, carro patinando, se batendo, um inferno! Nós sem entendermos nada, paramos. Desci do carro e olhei lá para o início da estrada, fiquei petrificado!! Tinham umas trinta viaturas da polícia, tinham acabado de fechar a estrada!! Entrei no fuca, contei aos amigos e disse: "-Vamos em frente, vamos ver onde esta estrada vai dar e vamos embora. Um cara que estava com um carro ao nosso lado ouviu e nos disse que a estrada era sem saída!!  Ninguém mais poderia sair daquele local, pelo menos sem passar pela polícia!!
                                Fiquei puto da cara, quanto tempo iriamos ficar ali até a polícia resolver nos liberar! Sem saída, ficamos dentro do carro conversando. Os minutos foram passando e comecei a me acalmar, já conformado com a situação. O negócio era esperar. Afinal, nós não tínhamos nada do que temer. O máximo seria explicar o que estávamos fazendo ali, mostrar os documentos e ir embora.
                                O tempo passando, eu e o Ganso conversando normalmente, só esperando. Os outros dois calados, estáticos!! Alguns minutos depois, olhei para a frente, vinha vindo um policial. Este, parava ao lado de cada carro estacionado, falava brevemente com todos os ocupantes e ia ao próximo carro. Vindo em nossa direção, faltando apenas alguns carros, eu perguntei ao motorista do fuca:"-Estamos legais, né?? Tá tudo certo?? Carteira de motorista e documentos do carro??" Ele mudo!! Dei um berro dentro do carro:"-Qual o problema???????
                                Neste instante, o policial chegou em nosso carro, baixou a cabeça e nos disse, com um tom de voz alto e nada amigável:"-Seus malandros!!! Desçam todos do carro, com seus documentos de identidade!! O condutor com a habilitação e o CRLV". Virou as costas e foi para o próximo carro que estava logo atrás do nosso!
                                Momento tenso!! Inesperadamente comecei a suar frio, tremendo de raiva e medo, indaguei novamente meu parceiro:"-Cara, pela última vez, qual o problema?? Eu vou te matar se tu não falar!!!" Ele olhou pra mim com "cara de cachorro que caiu da mudança" e disse: "-Tô sem carteira!!! Ela tá presa na delegacia de Taquara!!" Eu disse:"-Seu irresponsável!!! Mas tudo bem, eu tenho a minha aqui comigo e digo que sou eu que estou na boleia!! Tudo certo!
                                Alguns segundos depois, em completo silêncio dentro do carro, como em doses homeopáticas, meu parceiro soltou o segundo problema:"-O fuca tá com os documentos vencidos"! Quase infartei dando um novo berro!!!! "-Mas o que é isto???? Tu tá de brincadeira?? Como pode tu ter nos colocado nesta fogueira???  Seu chinelão!!" E baixei o verbo!
                                Ele e o outro amigo não trabalhavam, apenas eu e o Ganso tínhamos que acordar cedo. Eu as  6hr!! Minha vontade era de sair correndo mato à dentro, abandonando todo mundo, só não o fiz , pelo meu amigo Ganso, ele não merecia isto! Sempre foi muito parceiro. Então resolvi ficar e ver no que ia dar!
                                Minutos depois, começamos a ver os policiais chegarem em massa, de bando!! Vinham em sequência, abordando e passando a revista em todos que estavam a nossa frente, um por um! Quando faltavam apenas uns dois carros para chegar nossa vez, o outro elemento que estava junto no fuca abriu o bico e deu a terceira cacetada, a derradeira! "- Tô com erva aqui dentro! (Eu tô me mijando de rir agora!) Só o que se escutou foi mais um grito meu:-"HHHHHhhhhhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!! Eu vou matar vocês dois!!!! Me dá esta merda!!!!!!" Peguei aquilo e, sorrateiramente, atirei longe, no escuro, no meio do mato. Graças ao bom Deus, ninguém percebeu!
                                Naquela época, eu era bem jovem, não tinha vício algum. Tinha pavor de cigarro, nunca tinha tomado sequer uma cerveja!! Que dirá drogas!! Eu e o Ganso eramos uns guris inocentes, sem maldade alguma. Por muito pouco, tinha me enrascado por andar em péssima companhia. Mas o destino quis que assim não o fosse!
                                Bueno, chegada a nossa vez da abordagem, eu disse ao parceiro do fuca:"-Não posso fazer nada com minha carteira, então, tudo contigo! Assume tua irresponsabilidade! Neste momento chegaram os brigadianos em nosso carro e começamos a explicaar a nossa situação ao brigadiano, este nos falou com tom de voz rude: "-Vão pra lá, entrem na traseira daquele camburão!! Vai todo mundo para a delegacia!!" Quase infartei de novo. Eu, um guri que só queria me divertir, entrei numa fria".  Começamos a caminhar na direção de uma Veraneio "vascaína", tal qual os bois entram na fila do matadouro!!" Eu estava inconsolável, parecia o fim do mundo. Quando estava para por o pé no estribo da cachorreira da Veraneio, um dos brigadianos perguntou gritando:"-Quem tem carteira de motorista?? " Imediatamente eu levantei o braço. Ele chegou perto, me pediu a carteira e disse:"-Não tem guincho que chega pra levar tantos carros aprendidos, tu entra naquele Opala e vai dirigindo. Segue a viatura que está na tua frente e não tenta fugir!!"
                                 A sensação que senti foi de ter ganho na mega-sena sozinho, não precisaria ir dentro do camburão!! Bom, chegando na delegacia, tinha uma fila de espera enorme. Não sei quantas pessoas, centenas!! Eram aproximadamente 4hr da manhã quando chegou nossa vez de dar explicações, um policial verificou nossos documentos (meu e do ganso), perguntou se nós trabalhávamos e depois nos disse que estávamos liberados. Aliviei naquela hora. Só tinha que chegar em casa antes das 6hr. Perguntei ao policial por algum ônibus que saísse naquele horário para Taquara, este informou que só na rodoviária, as 6hr.
                                  Comecei então a ficar nervoso novamente, não tinha coragem para ligar para casa e contar para meu pai o que estava havendo. Foi então que tive uma ideia. Entrei na delegacia e falei novamente com o inspetor. Pedi a ele para falar com o delegado. Este me mandou aguardar, mas logo em seguida, me passou para uma sala ao lado. Ao entrar na sala quase caí duro. Atrás de uma escrivaninha, estava sentado um senhor enorme, não gordo, forte!! Um Negro, com "N" maiúsculo, dono de uma das caras mais feias que já vi na vida. Quando entrei, ele ficou olhando fixamente para mim!
                                  Fiquei em pé na sua frente e lhe contei, humildemente, minha angústia. Entre várias coisas, disse a ele que precisava estar em casa as 6hr, por temer perder meu emprego.
                                 Naquela época, do regime militar, emprego era uma coisa muito séria e honrada. Não como hoje, nesta onda de bolsa tudo do governo, incentivo ao "não" trabalhar. Não ter emprego naquela época, era quase um crime!! O enorme homem se sensibilizou com minha história, no fundo, acho que viu em mim uma pessoas boa e confiou em mim. Liberou o fuca, mesmo sem documentos, para voltarmos para casa. Fez meu parceiro, dono do fuca, assinar um papel, se comprometendo a se apresentar naquela delegacia, na manhã da terça feira próxima, com o fuca e seus documentos.
                                  Cheguei em casa passava das 6hr. Meu pai já estava acordado, tomando seu café. Me olhou fundo nos olhos,  não disse uma única palavra. Então, disse a ele que tinha passado uma noite terrível, mas estava tudo bem, não tinha feito nada de errado, nada que pudesse envergonhar seu nome. Alguns minutos depois estávamos na estrada, viajando para bem de atender seus clientes.
                                 Este Dart que conto na história de hoje, era de um cliente meu. Quando foi comprado, ou seja, apereceu em Taquara, já era bem acabado. Muito podre e muita massa plástica!!
                                 O  seu dono, praticamente sem recursos, adaptava o que podia de outros carros. A suspensão tinha buchas de corcel, amortecedores de F1000, bieletas de Opala e assim por diante!! Era uma verdadeira cobra dágua!
                                  Este sujeito andou com o carro até terminar, quando certo dia quebrou a logarina dianteira e o carro parou. Fui até a casa dele e fachamos negócio, por míseros metais!!
                                  Busquei o carro com um guincho e o dart foi direto para o machado, sendo totalmente desmanchado em pouco tempo!

Nesta foto ele aparece junto ao LeBaron 80 e ao fundo um Landau Limosine (virado contra a parede) que conto a história mais pra frente

Nesta foto está em uma oficia anterior a da outra foto. Junto com o Dart (Charger preto/cinza)
                               Na proxima postagem , Dodge Dart 1975, Prata Lunar

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Dodge Magnum 1979 Azul Cadet

                                     Já falei aqui neste espaço, por inumeras e repetidas vezes, a respeito do enorme apreço que tenho pelos antigos ferros-velhos! Quando falo "antigos", estou querendo dizer sobre aqueles estabelecimentos que praticamente não existem mais nos dias hoje, que por certo, ou quase, os meus amigos mais novos não conheceram. Eram locais nostálgicos, onde se podia entrar e caminhar livremente por entre os carros. Locais estes, em que exibiam automóveis de todas as épocas e idades, marcas e modelos!! Desde um Ford 1940 até um dodge ou galaxie com um ou dois anos de uso! Onde cada carro tinha uma história de vida, curta ou longa, mas que paralelamente, se misturava a história de seu dono!
                                    Conforme o homem foi "evoluindo"e usando a maldita palavra "tempo é dinheiro", os nostálgicos ferros-velhos de antigamente foram morrendo, também! Hoje em dia, quando um carro vai para o desmanche, não fica lá mais do que um ou dois anos, neste tempo, o que não é logo vendido, vai  para a siderúrgica. Antigamente, e não tão antigamente assim, os carros iam chegando no desmanche, e lentamente, iam se amontoando. Os mais antigos eram arrastados para o fundo do terreno para dar lugar aos novos, e assim sucessivamente. Então, quando se ia a um local daqueles, se encontrava de tudo. Os carros literalmente se acabavam em meio ao mato e árvores.
                                   Lembro de alguns amigos que fiz, donos de antigos ferros-velhos. Quando ia até eles, os caras tiravam tempo para sentar e conversar por horas à sombra de uma árvore. Dava para prosear e apreciar ao mesmo tempo. Hoje não, os caras te atendem correndo em um balcão fechado, impossibilitando a passagem da gente para que possamos caminhar entre os carros e procurarmos nós mesmos as peças que nos serão úteis! E quando não tem o que tu precisas, te mandam embora e pedem para tu passar no próximo dia, eles vão dar um jeito de arranjar o que tu quer durante à noite!!!??? E a gente logo tem que ir embora porque precisam atender outros clientes, é uma loucura o mundo de hoje, Deus me livre!!
                                    Claro que este é um gosto particular meu, e por certo, de algumas pessoas afins. Falo isto porque tem gente que não vê nada além de lixo em um desmanche. Sempre comento com minha mulher, em Shopping eu me nego a entrar, só amarrado!!! Por certo, outras pessoas nem amarradas entrariam em um ferro-velho!! Uma ou duas vezes por ano, eu e minha mulher viajamos à cidade de Restinga Seca, na região central do estado. Ela tem uma tia e primos que moram lá. Em uma viagem  que normalmente se faz em 4hr, nós levamos entre 6 e 7hr. Tudo isto por conta das minhas paradas em alguns desmanches que ainda acho por aquelas bandas. Ao chegarmos em Restinga, as primas Rosaura e Silvana, sabedoras da minha tara por ferro-velho, sempre me perguntam: "-Como foram as compras???"  No fim acabamos dando boas risadas.
                                    Bom..., por  diversas vezes também, falei sobre o ferro-velho do Turco, na cidade de Três Coroas. Mas hoje, quero lhes contar sobre o ferro-velho que me instigou pela primeira vez, portanto, o primeiro em que coloquei os pés! Este, ficava aqui na minha cidade, Taquara! Era também, assim como o do sr Turco, um enorme ferro-velho, do qual lembro muito bem, e sua história remete a um tempo perdido do meu passado, de muitas e agradaveis lembranças! Com certeza, ali, senti pela primeira vez o prazer de observar e caminhar entre antigos carros abandonados. Tentar imaginar e desvendar quais foram seus donos, segredos e por quais motivos foram parar ali. Em poucas palavras, vou tentar descrever para vocês como era este ferro-velho e como foi a primeira, dentre as milhares de visitas que fiz aquele lugar!  
                                    Meados da década de setenta, eu ainda uma criança! Na época, deveria ter uns 12 anos, não mais do que isto. Este ferro-velho ficava exatamente no lado oposto da cidade em relação a casa dos meus pais. Depois de muito pensar, certo dia resolvi ir ate lá!  Peguei minha bicicleta Monareta, da Monark, e me larguei, com destino certo e sabido.
                                    Depois de muito pedalar, cheguei ao sonhado lugar! Em meu primeiro contato, ainda na rua, já tive um prévio do que seria aquela manhã! A primeira imagem que tive, e tenho ainda muito viva na memória, foi um enorme, e lindo, caminhão Chevrolet Apache, datado do final da década de cinquenta. Esta maravilha sobre rodas estava abandonada bem em frente ao portão do ferro-velho. E para me surpreender mais ainda, este caminhão tinha um enorme guincho atrás!! Talvez aí uma explicação pelo meu fascínio por guinchos. Era uma imagem triste, e bela! O caminhão Apache era, é, e vai ser lindo, por toda a eternidade!! O guincho que tinha acoplado no lugar da sua carroceria, era enorme!! E forte!! As barras de ferro ponteadas e rebitadas com perfeição e muito bem escalonadas, davam um aspecto de poder ao velho guerreiro Apache, um conjunto harmonioso e perfeito!! A torre era enorme, como não se vê mais nos guinchos de hoje! Acreditem, eu poderia ficar por horas, horas e horas, olhando aquele caminhão!!
                                 Em sua frente outro caminhão, não tão raro e belo, mas com certeza também transportava em sua carroceria uma  história não menos bela e triste! Era outro Chevrolet, boca de sapo, do início da década de 50, verde garrafa. Muito mais inteiro que o primo Apache à sua frente, mas condenado ao mesmo destino!!  Até hoje, quando vejo um velho caminhão, de imediato, imagino ele trabalhando nas antigas estradas deste Rio Grande, nos infindáveis rincões e serras deste estado. E sempre sendo severamente castigado, tansportando um peso sempre além da sua capacidade, gemendo nas subidas de serra!! Não me perguntem o porque, eu não saberia responder!! 
                                    Depois deste primeiro impacto, entrei portão à dentro, olhando para todos os lados, não querendo deixar desacautelado um só pedacinho do lugar. O filme que passa em minha mente agora é indescritível! Vejo, Simcas, Veraneios, C14, F1, Aero Willys, Galaxies, DKWs, Gordines, Opalas, Mavericks e mais uma infinidade de modelos.
                                 Me aprofundo mais e mais, derrepente, dou de cara com o carro na qual sua marca faria parte da minha vida em um futuro próximo! Mal sabia eu, mas o encontro daquele momento faria parte das lembranças mais remotas do resto da minha vida, um Dodge!De imediato, mergulhei em desatino, de corpo e alma, em sua direção.
                                 Muitas idas depois, fui descobrir que se tratava de um Gran Cupe, 73 ou 74, azul, que estava em um canto, jogado ao lado de um enorme galpão. Na época já haviam sido tiradas algumas peças do dodge, se não me engano, já não tinha mais a suspensão dianteira.
                                 Naquele dia, quando tentava entrar para dentro do Gran Cupe, primeiro tive de travar uma luta com uma pequena hóspede que lá se amoitava. Uma galinha poedeira havia feito seu ninho lá dentro, estava chocando um monte de ovos!! Quando eu entrei, ela saiu berrando e cacarejando, esta cena eu não esqueço!! Bom... depois que a coitadinha se acalmou, pude entrar e sentar pela primeira vez ao volante de um dodge! Imediatamente fiquei hipnotizado pelo desenho do painel de instrumentos. Por isto sou apaixonado até hoje pelo painel do 73/74, para mim, o mais bonito de todos.
                                  Depois de alguns instantes sonhando ao volante daquele dodge, saí de dentro dele e continuei minha minuciosa peregrinação pelo local. Que eu lembre, naquele dia deveriam ter entre 10 e 15 dodges amontoados por lá! Entrei dentro de quase todos, apertando em pedais, acelerando e girando a direção, ensaiando passeios inimagináveis para um adulto. Em certo momento, caminhando por trilhas dentre os carros, dei de cara em um motor 318, azul, atirado no chão! Fiquei fascinado com a visão!! Por vários minutos fiquei observando aquela máquina, que à época, eu mal sabia do que era capaz!! Apenas tinha vaga idéia de que aquele motor tinha 8 cilindros, simplesmente o dobro do motor do Opala do meu pai. Apenas este detalhe já me fazia sonhar e imaginar, o quão bom seria se meu pai tivesse um carro com um motor daqueles!! Naquela época, apesar da pouca idade, já estava apresentando surtos mentais!! kkk!!
                                   Alguns instantes depois, continuando minha busca, olhando ainda ávido por descobertas dentro do ferro-velho, esbarro em uma parede humana! Levo um susto ao olhar para cima e ver uma cara feia, que um enorme homem fazia para mim!! Era um homem gordo, alto, pouco mais alto do que eu hoje, devia ter por volta de 1,95m. Tinha um chapéu de palha na cabeça, um dente de ouro e um palheiro no canto da boca. Este, fica parado na minha frente, interrompendo minha busca! Um instante depois me indaga com voz rude, o que eu estaria ziguezagueando por lá!! Antes que eu pudesse responder, ele acrescentou:"-NÃO GOSTO DE CRIANÇAS AQUI!!! NÃO QUERO TE VER MAIS ANDANDO AQUI DENTRO!!! ENTENDEU GURI???SE TE PEGAR DE NOVO ANDANDO AQUI DENTRO, TE DOU UMA SURRA!! AGORA... FORA DAQUI!!!!!!! Relembrando agora estas palavras, comecei a rir, pois também não gosto de crianças no meio das minhas coisas, já fiz coisa parecida!!
                                  Naquele momento, não conseguia nem olhar para o rosto dele, que dirá, argumentar alguma coisa. Baixei a cabeça, fui em direção ao portão, subi em minha Monareta e sumi em direção à minha casa. Este foi meu primeiro contato, de muitos que tive posteriormente, com o grande ferro-velho de Taquara. Justamente com seu proprietário, o sujeito chamado Arsenor Homem!
                                  Nas semanas seguintes, as imagens daquele lugar raramente saiam da minha lembrança. Durante os posteriores dois meses, economizei todo o dinheiro que ganhava do meu pai. Sendo os que me dava para comprar merendas no colégio ou revistinhas em quadrinhos (tinha coleção do Tio Patinhas). Não gastei nem um tostão sequer até juntar uma soma, que para mim, seria suficiênte para comprar algo que tinha visto e me enfeitiçado no ferro- velho.
                                 Juntada a quantia em dinheiro, fui até o ferro-velho, e, morrendo de medo, procurei por aquele Urso disfarçado de homem, e me parei em frente dele. Estático como uma pedra, fiquei esperando que me desse atenção. Algum tempo depois de estar ali parado, ele olhou pra mim e disse,aos berros:"-O QUE TU QUER AQUI GURI??? JÁ TE FALEI QUE NÃO GOSTO DE CRIANÇA!! VAI BRINCAR LONGE DAQUI, TE SOME!!!" Com a voz embargada e morrendo de medo, lhe disse: "-Vim até aqui para fazer uma compra!!" Ele me pergunta:"-O QUE TU QUER??" Eu:"- Queria comprar do senhor aquele motor azul, de dodge, que está atirado lá no pátio!" Ele me olhou com mais raiva ainda e disse:"-O QUE TU QUER COM AQUILO??? AQUELA PORCARIA  NÃO PRESTA, VAI EMBORAAA!!!". Apesar de toda grossura do "ogro", refiz minha propósta:"-Mesmo assim, eu insisto, quero compra-lo, tenho dinheiro aqui comigo."
                                 Ele me pegou pelo braço e me mandou mostrar onde tinha visto o motor. Então levei ele até lá e mostrei o 318. "-É este motor que eu quero!!!", disse a ele apontando com o dedo para o motor! Provavelmente, naquele momento, aquele homem achou que eu não era bem certo da cabeça. Mas mesmo assim,como todo mundo gosta de dinheiro, naquele instante, fechei meu primeiro negócio envolvendo dodge. E de lambuja, ainda comprei um par de grades do RT 73/74. Daquele dia em diante, minha vida mudou para sempre, e... os dodges começaram a fazer parte dela.
                                 Uns 14 anos depois...
                                 Era um final de tarde, eu terminava de istalar uma caixa de câmbio em um Galaxie, quando vejo por baixo do carro em que eu estava, vinha entrando um amigo no patio da oficina. De lá mesmo onde eu estava, gritei para ele puxar um banco e sentar, que logo que eu  terminasse de apertar alguns últimos parafusos, sairia.
                                Alguns minutos depois, terminado o serviço, saí de baixo do carro, me lavei, peguei uma pepsi na geladeira e começamos beber e conversar. Este amigo morava, e ainda mora, no interior de Taquara. Ele era na época vendedor de produtos quimicos,  e portanto , viajava por vários municípios do estado. Quando tinha alguma folga, passava na oficina para conversar e também para me passar algum produto de limpeza, principalmente de motor.
                                Naquele dia, depois de muita conversa, me contou que enquanto atendia um cliente em Porto Alegre, entrou um carroceiro, destes que catam papeis e latas, enfim, sucatas em geral, na oficina em que ele fazia uma venda. Disse que o homem (papeleiro) olhou para o dono da oficina e perguntou:"-Vai ficar com o carro ou não??" Este lhe respondeu que ia pensar,  então o papeleiro deu meia volta e foi embora. O meu amigo, curioso em saber qual carro o carroceiro teria para oferecer ao dono da oficina, lhe perguntou: "-O que o carroceiro quer te vender?? Um carro??" Este respondeu que o tal carroceiro teria um dodge em meio à montanhas de sucata, e a alguns meses estaria tentando vender o carro para ele, o dono oficina!
                                  Meu amigo na hora lembrou de mim! Perguntou ao cliente se este se importaria que ele desse uma olhada no dodge, este lhe respondeu que não, então, ao terminar de atende-lo, foi até o endereço em que o papeleiro tinha seu depósito. Chegando lá, chamou pelo homem que tinha visto puxando a carroça, mas este não estava no lugar. Então , falou com um rapaz que estava lá, e este permitiu que meu amigo olhasse o dodge. Quase caiu duro. O carro estava todo coberto de latas, papel velho, arames, era um lixo só!!
                                  Mas , ao voltar à Taquara, resolveu me contar a história. Perguntei a ele que modelo de dodge era, ele não soube me dizer. Me disse que o carro era azul claro, tinha teto de vinil azul, também claro e em uma parte da lateral tinha uma faixa azul, divida em varias listinhas, contornando o vinco da lateral. Matei a charada, Magnum 79!!
                                  Na hora peguei o endereço do papeleiro e coloquei na minha mesa. Disse que quando fosse a Porto Alegre, passaria para dar uma olhada no Magnum azul.
                                  Uma semana depois tive que ir à Porto Alegre, aproveitei e no final do dia passei no endereço do papeleiro. Tinha um muro alto na frente, da rua não dava para olhar para dentro do depósito. Na entrada um portão de ferro, todo remendado por vários pedaços de lata, mas igualmente fechado. Quase derrubei o portão batendo, e nada!! Pensei, já passava das 18hr, o cara deveria ter ido para casa. Olhei no outro lado da rua, tinha um pequeno bar, daqueles inferninhos mesmo. Fui até lá!! Naquela hora o bar já estava cheio de matungos bebendo e garganteando. Me senti um intruso no ambiente. Fui até o balcão, pedi uma pepsi e perguntei pelo proprietário do sucatão em frente. O dono do bar, demonstrando uma cara nada amigável, apontou para um canto do bar onde tinham três elementos, cada um com uma cara mais mal encarada que o outro, conversando!
                                   Receoso, me aproximei e perguntei pelo dono do local, os três se entreolharam e um deles me encarou fixo e perguntou: "-Porque tu quer saber??" Aí eu senti a maldade!! Por de certo, acharam que eu fosse algum cobrador, ou talvez mandado por algum desafeto dele. Mas , tratei de logo explicar o motivo pelo qual estava ali. Em seguida, o mais retraido deles, não o que tinha me feito a pergunta, o outro ao seu lado, se apresentou como dono do local.
                                  Depois desta apresentação nada amigável, perguntei à ele se poderia olhar o dodge, este disse que sim, virou as costas aos dois amigos e saimos do bar. Atravessamos a rua, abriu o portão e entramos. Caminhamos uns 70 metros, no meio de muito lixo e sujeira, até que no final do terreno, soterrado por muita porcaria, avistei por entre entulhos, pedacinhos de lata azul!! Me aproximei e me tapei de nojo!!! A imundície era enorme, nunca tinha visto nada igual!!
                                   Quando consegui olhar para dentro do carro me apavorei, este estava cheio de lixo dentro. Em cima do assento do banco do motorista, tinha um vaso sanitário, podre!! Os bancos, riscados azuis, pareciam ser muito inteiros antes do carro chegar ali!! Muito estranho!! Mas... O vinil também parecia ser de um carro em pleno vigor antes do carro ser "amoitado" naquele local. Os pneus eram ruins, talvez foram trocados ali naquele local, não tinha mais calotas. As lanternas traseiras, depois de limpas, ficaram novas, mas no geral, a lataria já apresentava vários pontos de ferrugem.  Amassados pipocavam em diversos pontos, provavelmente pelas coisas que foram jogas por cima dele durante o tempo em que estava ali! No interior, quase que intacto, tinha até o motoradio toca-fitas original Chrysler.
                                   Lhe perguntei como tinha comprado o carro, e o porque dele estar abandonado daquela maneira, este, me respondeu com uma outra pergunta:"-Tu quer comprar o carro ou não??" Aí perguntei pelos documentos do carro e quanto ele estaria pedindo por ele!! Prontamente me respondeu que o carro não tinha documentos, que ele tinha comprado o carro assim e que queria por ele $1200,00. Não sei se cruzeiros ou cruzados ou que diabo de nome tinha nosso dinheiro ( Que paisinho imoral este nosso, hein??) Mas era esta a quantia, pois tenho anotado aqui em um caderno.
                                   Disse à ele:" Te dou $800 agora, em dinheiro!!! É pegar ou largar!! Aceita??" Ele olhou para mim e disse:"-Fechado!" Perguntei à ele por um telefone, me disse que tinha um orelhão uns trinta metros, na calçada. Fui até lá, liguei para um conhecido meu que tinha guincho em Taquara, que por sinal, era filho do senhor Arsenor Homem, do qual narrei a pequena história no inicio da postagem. Seu nome é Deroci Homem, no telefone falei: "-Deroci? É o Cuti! Vem à Porto Alegre buscar um carro pra mim, tal endereço, vou ficar te esperando aqui!!
                                   Enquanto esperava o guincho, comecei a tirar todo o lixo acumulado por dentro e por fora do dodge. Já estava anoitecendo quando comecei. Mas uma hora depois, o dodge já estava livre de tudo que não lhe pertencia, até uma passagem eu consegui fazer para que o caminhão guincho pudesse chegar mais perto dele, para facilitar a vida do guincheiro e principalmente para que o carro não sofresse maiores danos até sua retirada daquele pátio nojento!
                                  Quatro horas depois, faltando poucos minutos para a meia noite, encosta o Deroci a bordo do F-350 em frente ao depósito!! De imediato, o Deroci olhou pra mim e disse:"- Se não fosse por um pedido teu, com certeza não viria a esta hora da noite neste local. Vamos ser rápidos e cair de volta na estrada!!" Então,  logo mandei que entrasse e direcionei o F350 ao caminho que tinha aberto para chegar em frente ao Magnum, atrelamos o dodge atrás do guincho e estávamos prontos para sair. Neste momento, o papeleiro fechou a porta de entrada do pátio!! Confesso para vocês que na hora me deu um frio na barriga!! Achei que seriamos assaltados!. Mas não, ele veio até meu lado e pediu os $800,00. Ficou com medo que saíssemos sem pagar! Tirei o dinheiro da carteira e saímos daquele local voando, direto para Taquara!
                                   Sabe do que não me perdoo daquela época?? Não andar sempre com uma máquina fotográfica em baixo do braço, assim como faço hoje!!
                                   Cheguei em casa por volta das 2:30hr, descarregamos o dodge e fui dormir. No outro dia é que realmente fui olhar o que tinha comprado. Até o macaco original estava no lugar , aparentemente, nunca tinha sido usado. O pneu do estepe ainda original. Com certeza um carro com uma história nebulosa. Mas, na época muitos carros abandonados não tinham documentos, não se pode afirmar que o carro era ilícito. Na época pensei, assim como penso hoje, se eu não o comprasse outro iria fazer o mesmo, E no final, acho que eu dei um fim melhor à ele do que qualquer outro!
Linda esta direção! Já esta no porão da minha casa, aguardando o novo escritório!

A direção e o painel foram umas das poucas peças que me sobraram do Magnum 

Este painel vou começar  restaurar em alguns dias, vai para o meu escritório novo aqui em casa.
          

Este Magnum pertenceu a um grande amigo meu, Cicero Paiva. Coloquei as fotos do carro dele para que quem não conheceu um azul cadet, possa vislumbrar sua beleza ímpar! 

Estas duas fotos foram tiradas no pátio da casa dele, em Sapiranga RS.
                                Na próxima postagem Dodge Dart 1977, branco

sábado, 12 de novembro de 2011

Dart DeLuxo 1976 Branco Valencia

                                Hoje pela manhã (19/11/11), sábado, como faço todos os dias, saí de casa e fui direto para minha oficina, lá no centro. Ao chegar,   como de costume, tratei meu cachorro e após, dei a organizada semanal nas minhas coisas. Depois de tudo (+-) arrumado, como não estava com ânimo de fazer nada,  saí para uma caminhada despretenciosa pelo centro da cidade. Depois de algumas quadras caminhadas, sem querer me veio a cabeça a época em que estas minhas caminhadas eram agraciadas com  dodges parados pelas ruas! Como os tempos mudam?? Hoje em dia, além de os dodges não serem mais vistos, quase nenhum outro carro antigo circula pelas ruas. Só o que se vê são estes enlatados plásticos, nada carismáticos, de cores horríveis, sem vida!
                           Para uma pessoa como eu, que adora coisas antigas, é deprimente!! Eu que sempre gostei de uma caminhada nos sábados pela manhã, aos poucos, estou perdendo a vontade. Sair para ver o que?? Em poucos minutos, retornei a oficina e mergulhei nas minhas antiguidades. Lá, embora sozinho, me sinto acolhido, em harmonia com o ambiente. Neura total!! Mas... bom, acabei sentado na frente desta máquina horrível, para começar a descrever um novo episódio da minha vida!
                                Este Dart da história de hoje, foi conhecido meu de longa data. Acredito que tenha sido natural de Porto Alegre, e logo em seguida, veio residir aqui em Taquara, ate seus últimos dias. Na primeira vez em que o vi, este carro era de um antigo advogado aqui da cidade. Este, ficou muito tempo com o Dart. Eu mesmo não cheguei a fazer manutenção nele nesta época, até porque , nem tinha oficina ainda.
                                Fiquei sabendo muitos anos depois que este advogado o teria vendido para um colega seu, da cidade de Sapiranga. Em torno de dois anos depois, este advogado de Taquara recomprou o carro, e assim ficou com ele por mais alguns anos. Durante esta segunda vez em que o advogado foi proprietário do carro, fiz inúmeros consertos no Dart. Esta fase perdurou por mais algum tempo, acho que uns dois anos.
                              No decorrer do tempo, fiquei sabendo que este advogado sempre foi envolvido com corridas de automóveis. Ele , junto com outros amigos, tiveram ate uma grande equipe, na qual participavam de provas de velocidade por todo o território brasileiro e argentino.
                                Em meados da década de oitenta eu já tinha oficina estabelecida, um cliente meu de nome Ayrton, comprou o Dart do advogado. O Ayrton, antes de comprar este, já havia tido outros dois dodges, um Gran Sedan 78 e um Dart 74, aos quais , eu também fazia manutenção.
                               Acho que um ano depois do Ayrton ter comprado o Dart, em uma viagem que estava fazendo, ele se envolveu em um acidente de trânsito. Neste acidente, ele acabou atropelando uma pessoa que caminhava na beira da estrada. Infelizmente, esta pessoa morreu em decorrência do atropelamento.
                                Na época, o Dart então foi apreendido pela polícia, ficando por meses em um depósito de veículos acidentados. Nesta época, como eu conhecia bem o carro, sabia das reais condições mecânicas e das seguidas manutenções feitas, fui ate onde o carro estava apreendido para ver o quanto o carro estaria danificado. Ao chegar lá, fiquei ate admirado, pois praticamente não tinha estrago algum. Tinha um pequeno amassado no bico do para-lamas dianteiro esquerdo e a grade estava quebrada, do mesmo lado!  O dodge tranquilamente sairia dali rodando! Voltei para casa e fui até o Ayrton, tentei negociar o dodge. Depois de várias propostas, acabamos por não entrar em acordo, e o carro preso, no tempo!!.
                              Passado mais ou menos um ano, fiquei sabendo que o Ayrton tinha entregue o Dart em troca dos préstimos advocatícios ao antigo proprietário do Dart, na questão do acidente de trânsito na qual ele se envolveu. Mas, não sei porque cargas d`água, o advogado, ao invés de levar o Dart para uma oficina e recuperar o que foi estragado no acidente, acabou negociando o Dart com o sr. Turco, do ferro-velho da cidade de Três Coroas. Nesta hora não acreditei, acabava de perder mai um dodge para o sr Turco!
                               Alguns dias depois, fui ate Três Coroas para ver se o Dart estava mesmo lá e tentar comprar algumas peças, pois o carro tinha muita coisa boa. Foi um carro bem cuidado por todos os donos! Ao chegar lá, tive um choque, bem na entrada do ferro-velho, tinha uma enorme pilha de carros, não lembro bem, mas ao todo acho que eram cinco carros empilhados, o Dart era o último, lá em cima!!!
                               Fiquei ali olhando por alguns minutos, ainda não tinham tirado sequer uma peça do Dart, apenas o capô e a tampa do porta-malas estavam bem amassados. Alguns minutos depois fui até o escritório do ferro-velho para perguntar alguns preços de algumas peças. Ao me ver, o sr. Turco me mandou entrar, e como já haviamos negociado antes, e este , sabia que eu trabalhava apenas com dodges, me ofereceu o carro inteiro , assim como estava!
                               Propostas daqui e propostas de lá, fechamos negócio. O único porém, que na época não fez a menor diferença, foi que o dodge não tinha mais documentos. O Turco disse que tinha comprado assim, e que eu fosse atrás do antigo proprietário para requerer os documentos. Na época não fiz questão!! Então, pedi ao Sr Turco para baixar o carro, ou seja, coloca-lo novamente no chão. Feito isto, combinei que iria no outro dia , bem cedo, para levar o Dart. Queria tentar leva-lo para minha oficina rodando!

Olhando para estas fotos hoje, seria bem fácil restaurar este Dart, tinha uma estrutura boa!
Nestas fotos, já bem depois de te-lo comprado, os efeitos do tempo atacavam o Dart sem piedade!

Para-lama intruso no porta-malas

Em pouco tempo já não tinha mais muita coisa para se tirada do pobre Dart, últimos dias!

                               No outro dia, nem bem tinha clareado, meu pai já tinha me deixado em frente do ferro-velho, com uma caixa de ferramentas, um carburador revisado, uma bomba de gasolina, bateria e mais algumas peças que não lembro. Mas tinham muitas coisas, com certeza eu iria levar o carro rodando.
                               Apesar de toda trabalheira, lembro que passei uma manhã agradável no ferro-velho, por volta das 10:30hr, o motor do Dartão roncou bonito! E realmente eu não havia me enganado a respeito do carro, um motor extremamente sereno, uma caixa de 4m muito suave, um ótimo carro!!
                               Bom , com o dodge funcionando, resolvi fazer uma busca por peças naquela imensidão de carros atirados. Tinham ali naquele local, diversos dodges, galaxies e mavericks, Os galaxies eram, com certeza, em maior numero!! Eram muitos mesmo, dificilmente tinham menos de 30!!
                               O sr Turco tinha um costume... muito engraçado, ou talvez, irritante, não sei! Quando alguém chegava lá para comprar alguma peça, caso não tivesse a peça desejada pendurada em alguma parede do enorme galpão, ou seja, se a peça que o cliente queria, tinha de ser tirada de algum carro, o sr Turco mostrava um balcão cheio de ferramentas engraxadas e sujas para a pessoa, e em seguida mandava ela mesma ir tirar do carro. Se a pessoa (comprador) não sabia tirar a peças, ele não vendia!! Dá pra acreditar?? Eu mesmo cansei de passar horas e horas por baixo de dodges naquele local, tirando peças calmamente, selecionando parafusos (os quais o sr Turco me deixava trazer, pois ele os atiraria no mato se não me desse), e outras coisas mais!
                                Bom, naquele dia encontrei no meio de um macegal alto, rodeado por alguns outros dodges,  um charger 74 vermelho,  que, aparentemente, tinha chego naquele local muito inteiro.  Peguei minha caixa de ferramentas e caí por cima do charger. Lembro que comecei tirando os bancos, ainda de couro!! Depois tirei painel de instrumentos, console, frisos, chapa da tampa do porta malas, letreiros e a suspensão completa! O motor e a caixa já tinham sido vendidos, o diferencial tinha somente mais a carcaça. Bom, acabei tirando o que deu do carro, levei tudo para dentro do Dart, paguei uma mixaria pelas peças e fui embora. Hoje, me arrependo de não ter ido mais vezes no ferro velho do Turco, ao certo , deveria ir toda semana! E sempre vir com uma carga, grande, de peças! 
                                Na próxima postagem , Dodge Magnum 1979, azul Cadet.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Charger R/T 1978 amarelo (Branco Madagascar)

                            Alguns dias atrás, já altas horas da noite, deitado em minha cama sem conseguir dormir, comecei a relembrar de uma época em que existiam milhares de dodges por aí. Lembrei quando tinha oficina cheia deles, dezenas ou até centenas de clientes. Estes todos, usavam seus dodges no trabalho e lazer. Me veio a cabeça então, o que mais estragava nos dodges e galaxies! Instantaneamente lembrei de como estes carros são robustos e duráveis!
                           Lembrei de um churrasco que tive em família alguns dias atrás, quando começamos a falar na durabilidade dos carros, de hoje e do passado! Meu pai, que trabalhou e usou severamente os carros antigamente, e que eu saiba e lembre, teve pick-up dodge (1949) , F1 (1951 e 1953), F100 (1957, 1959, 1961), Rural (1963), Simca (1963 e 1965), Fuca (1966), Varinat (1969), e depois destes, sempre teve Opalas, desde o seu lançamento, acho que foram nove, todos tirados 0K.  Também teve dois Chevettes e bem depois, teve Ômega, Pick-up Chevrolet S10 e Vectra, mas aí já não trabalhava mais! 
                            Bom, na fase em que viajava, dos pimeiros carros que teve até o início da década de oitenta, foi uma época em que praticamente não existiam estradas asfaltadas neste Brasil. Lembro quando eu viajava com meu pai, as estradas eram horríveis. As famosas costeletas que chacoalhavam até a alma do sujeito, os buracos, as pedras que cortavam os pneus, a poeira infernal que, insistentemente, adentrava por qualquer pequeno buraco, os atoladores nos rincões da serra gaúcha, que, por muitas vezes, tinham que ser colocadas correntes nas rodas para poder tracionar o carro. Era penoso, para o motorista e também para o carro! 
                            Lembrando tudo isto, perguntei ao meu pai o que ele acharia de pegar um carro de hoje em dia ( de puro plástico) e colocar em estradas como as de antigamente?? E usa-lo por anos a fio, do mesmo jeito que ele os usou antigamente!! Meu pai começou a rir e respondeu que, com toda certeza, o carro não duraria um décimo do tempo!! E eu não só acredito, como endosso a resposta!!
                           Lembro do primeiro carro que ele teve quando começamos a viajar juntos. Um Opala special 1974, cor vinho com teto de vinil branco. Aprendi a dirigir neste Opala! Meu pai e eu rodamos com este carro 400.000 km em quatro anos. 60% deste quilometragem em estradas ruins. Quando foi trocado, em 1978 por outro Opala, um modelo DeLuxo, de cor vermelha, seu motor nunca tinha sido aberto, era STD!!! As manutenções eram: Troca de óleo, platinado, velas, pneus, raramente buchas de suspensão e amortecedores. Freio?? Somente lonas e pastilhas. Hoje, seguidamente vejo pessoas trocando servo freio de carros novos, cilindros, flexíveis. Absurdo!! Meu pai nunca precisou abrir motor, caixa ou diferencial em nenhum dos Opalas que teve!! Os carros de antigamente eram muito, mas muito, melhores do que os de hoje!!
                            Mesmo com toda a tecnologia automotiva moderna, a meu ver, piorou!! Uma destas tecnologias, que muitos defendem, a injeção eletrônica, realmente deixa o motor  mais bem regulado por mais tempo, sem falhas e solavancos, principalmente em dias frios do inverno. Mas afirmo para vocês que, "eu", prefiro carburador. Em uma viajem, com um carro carburado e com platinado, qualquer mecânico de beira de estrada, de bicicleta, arruma! Se houver uma pane em um carro injetado, nem mesmo um mecânico da fábrica do automóvel conserta! Pode providenciar um guincho e leva-lo a uma oficina aparelhada para tal serviço!
                           A algum tempo atrás, quando o Mário Buzian e o Maurício Silveira estiveram aqui, conversamos sobre isto. Lembro que comentei com eles, e disse o seguinte: "Se alguém me der, de presente, uma ignição eletrônica para instalar na minha Chevrolet C10 ou em qualquer outro carro meu, eu não a coloco. Não troco o eficiênte platinado por uma ignição eletrônica!!" E olha que eu rodo com minha C10, vocês não imaginam por onde e como eu a uso! As minhas caçadas e pescarias são sempre em lugares distantes, hermos e de difícil acesso!!" Nunca fiquei empenhado!! Ao contrario, já ajudei muita gente com carrinho novo parado nas piores estradas. Sei que tem gente que olha carro velho com olhos atravessados, até não condeno, pois por falta de manutenção, tem milhares por aí atrapalhando o trânsito!!
                           Mas... eu fico puto da cara quando alguém me diz que carro velho não presta!  Eu provo o contrário!! E mais, digo o porque ele é muito melhor que o novo!! Para os carros velhos que atrapalham o frenético fluxo de hoje em dia, eu explico o porque com três razões simples e básicas:
                                     - Primeiro:  90% ou mais, de todos os proprietários de carros velhos, e até mesmo os antigos, que existem por aí, não tem condições de colocar gasolina em seus tanques, imaginem manutenção com um bom mecânico e boas peças!!
                                     - Segundo: Não se acha mais mão de obra qualificada para os carros antigos em qualquer lugar. As grandes e boas oficinas não querem fazer consertos nestes carros. Isto por vários motivos, dificuldade de achar peças é uma delas! Mecânicos?? É coisa rara nos dias de hoje. O que existe em abundância, são trocadores de peças!! Ninguém sabe consertar mais nada, pois é tudo descartável mesmo!! Então, quem tem um carrinho velho, além de não ter dinheiro, acaba levando seu carro em mecânicos picaretas que aprenderam o ofício consertando bicicletas.
                                     - Terceiro: A qualidade das peças novas de hoje em dia é PÉSSIMA!! Peças que antigamente duravam uma vida, hoje duram poucos meses. Algum tempo atrás estive conversando com um representante comercial, de uma grande empresa de rolamentos. Este amigo me disse o seguinte: "-Cuti, a indústria chinesa está acabando com nossas fábricas, não temos como competir em preço com eles. Então, está acontecendo o seguinte, a minha empresa compra rolamentos chineses, quando estes chegam ao Brasil, nós empacotamos em caixas com nosso logotipo e vendemos por um preço bem inferior ao que produzimos aqui. Só que a qualidade é muito baixa!! " Continuou: "-E um dos culpados para que isto venha acontecer, não é apenas a nossa carga tributária! É também o consumidor final, que na hora da compra, apenas visa o preço!! E isto não está acontecendo apenas com os rolamentos!! Tudo que é fabricado aqui, também está sofrendo com a importação, consequentemente a nossa qualidade cai!". Um comentário chocante do meu amigo vendedor!  
                           Chego a conclusão que o ser humano ficou bobo demais, consumista e doente. Hoje em dia, se um carro não tiver ar condicionado,  direção hidráulica, vidros e espelhos elétricos, e mais uma infinidade de bobagens, ninguém quer!! É um verdadeiro absurdo!! Isto se falando em homens, porque, me desculpem, mas as mulheres de hoje são piores, dizem que não conseguem dirigir um carro se não tiver hidráulica, ar e vidros elétricos!! Minha mãe dirigiu F1, F100, Rural, Simca , Opala, etc, etc, etc, e achava maravilhoso!!  O ser humano de hoje é um consumista bobalhão!!   
                           Bom, voltando a minha realidade, e o pensamento que tive na minha cama, lá no início da postagem.
                          Das milhares de marcas de carros que já foram produzidas neste mundo, estas todas, subdivididas em mais alguns milhares de modelos, consequentemente, se pararmos para pensar que cada modelo de carro, é assim, dividido em centenas, milhares, de peças diferentes, todos sem exceção, tem seus defeitos crônicos. Alguns tem defeitos estruturais, outros mecânicos, outros de acabamento, e assim por diante. Com os dodges brasileiros, teoricamente, não poderia ser diferente.
                            Mas aí, eu me ponho a pensar e me pergunto:"- Quais defeitos crônicos tem um Dart e seus irmãos?" Parem para pensar, defeitos estes que não se consegue corrigir sem modificar a peça em questão!
                         Primeiro penso na suspensão do dodge. Qual falha incorrigível tem?? A meu ver, nenhuma! Toda ela, estando em plena forma, não apresenta incômodo ao motorista!
                  Passo então para estrutura, peças móveis como portas, capôs, fechaduras, maçanetas, maquinas de vidro?? Nada disto apresenta defeitos incorrigíveis, até por sinal, são coisas que raramente estragam no dodge!! 
                           Diferencial e caixa?? Excelentes!! Motor?? Não tem o que dizer!! Aí penso nos acessórios do motor, como motor de arranque?? 100%. Bomba d`água?? idem! Bomba gasolina?? Dura muito, sem defeito!! Embreagem?? Nada ainda!!
                          Até que chego a uma peça, que dá, e deu e vai dar origem a milhares de reclamações!! O calo no pé dos mecânicos, a pedra no sapato dos "mechanicos"!
                                           "DFV 446"
                          Me perdoem os incompetentes, ou talvez, uma palavra menos chocante: Inaptos! Mas eu adoro o 446! Para mim, um carburador de manutenção simples e de fácil manejo. Precisa apenas de alguns cuidados básicos para trabalhar sem falhas e com respostas eficientes, por muito tempo. Nos anos todos de oficina, tive amostras de como "não" se deva executar serviços de manutenção nestes carburadores. Vi coisas impossíveis e inimaginaveis de um "mecânico" fazer! Aquela mania de bater com uma chave na tampa do carburador, em cima da agulha... aí meu Deus, é cruel!!!!!!
                            Concordo que o 446 é meio temperamental, não gosta de ser mal tratado e principalmente engendrado. Mas a minha relação com ele é totalmente amigável.
                            Imaginem só, quando um Dodge foi adquirido novo, por um médico, advogado, juiz, ou seja, uma pessoa de alto poder aquisitivo, se este saísse com o carro e tivesse que levar junto uma chave de boca para bater no carburador??? Ridículo!! E as agências avisando o novo propritário, que recem adquiriu um carro caríssimo:"-Olha, quando afogar, tu bate no carburador que ele desafoga!! Sem fundamento!!
                          Coisa que muitos dizem dele até hoje:-" O 446 do Dodge é igual ao do Opala! Fico embasbacado!! Nem o corpo externo é igual, que diremos do interno! Mas a maioria dos "mecânicos"teima em afirmar se tratar da mesma coisa.
                            Sei que o "patinho feio" tem também a errônea fama de babão!! Injusta!! Injúria, difamação!!! Se nos meus setenta e poucos dodges isto aconteceu duas ou três vezes, foi muito. E quando aconteceu, foi por minha culpa. Já notaram que a maioria das vezes que o 446 transborda gasolina por todos os poros, foi após ter sido mexido por alguém?? Quando ele está em funcionamento por meses, ou até anos, dificilmente acontece isto, de vazar gasolina? Imperícia de quem mexeu onde não devia!!
                             O DFV tem algumas regrinhas básicas, as quais aprendi em cursos exclusivos sobre ele, e também na prática. Seguindo-as, nunca, vejam bem, nunca vai afogar!! Mas, alguns seres humanos tem o grave defeito de denegrir o que desconhecem.
                                                            Charger 78
                             Este dodge eu comprei na cidade de Viamão, o carro era branco e foi pintado porcamente. Estava atirado ao lado de uma casa, bem humilde! Aparentemente, antes de ser pintado, era bem inteiro. Mas, acredito que seu dono quis inovar. Por estar a muito tempo jogado na rua,  a lataria se encheu de podres. Tinham bolhas saltando por varios pontos. Mas , pelo preço, acabei comprando o carro para desmanchar.
                            Levei o Charger para casa e acabei gostando dele, então passei um bom tempo consertando e desfazendo "atualizações" que tinham feito no coitado. A cor não tinha remédio, mas o carro ficou bem apresentável.
                             Algum tempo depois, em um domingo de sol, fui com ele a um antigo encontro de carros que acontecia na rua Princesa Isabel, quase esquina com a Ipiranga, em Porto Alegre. Acreditem, o carro ficou tão chamativo que era difícil alguém não nota-lo. Depois de tirar esta foto, acabei negociando ele por lá.


                                Na próxima postagem, escrevo sobre outro dodge, um Dart, 1976 branco

sábado, 29 de outubro de 2011

Dodge Magnum 1980 Cinza Poly

                          Não sei se já comentei aqui, mas quando criei o blog e resolvi começar a contar minhas histórias, não falei para ninguém além da minha família. Tomei esta decisão por alguns motivos pessoais.
                         Primeiro porque sempre me achei meio reservado, e não gostaria que as pessoas pensassem que eu estava querendo aparecer. Segundo porque pensei que se as pessoas que me conhecem, descobrissem por elas mesmas, seria mais prazerosa a leitura para elas mesmas. Para muitas destas pessoas, uma descoberta ainda mais interessante, que,  em alguns casos, se descobrissem coadjuvantes do blog. E caso gostassem da leitura, retribuiriam meu trabalho posteriormente. E assim está sendo até agora!
                          Alguns dias atrás, recebi a prezerosa ligação do meu grande amigo Geraldo Rosenthal. Antes de falar qualquer coisa, ele me disse o seguinte: - "Resolveu colocar os podres da tua vida para fora!!! " Começamos a rir e eu já sabia sobre o que ele estaria falando! Este cara me disse tantas coisas bacanas a respeito do que leu no blog, que fiquei até emocionado!! Relembramos fatos ocorridos no passado que nem eu lembrava mais. Me cobrou por  eu não ter lhe avisado da minha iniciativa, então expliquei a ele exatamente o que vos escrevo agora, que não havia comentado com ninguém à respeito deste humilde blog!
                          Bom, naquele dia, já havia mais de ano que não o via, e tão pouco, conversava com o Geraldo. Tratamos de marcar um bom churrasco para os dias seguintes. À noite , quando olho o blog, tinha um belo comentário na postagem do dia 25/06/2011 (Dodge Dart de Luxo 1973 branco). Como é bom ter amigos!
                          Outro grande amigo e parceiro que me surpreendeu bastante, e que a muito tempo não vejo, foi meu amigo Chico Pellegrine. À anos se mudou para Santa Catarina e nos últimos tempos, pouquíssimas vezes nos vimos. Dias atrás, quando abro meu computador, tenho uma grata surpresa em ler a mensagem que mandou! Me contou que está adorando o blog e as passagens em que conto nossas aventuras! E posso dizer à ele que em breve vai sair uma história muito bacana contando uma das tantas "indiadas" que fizemos juntos!
                          O Chico me fez relembrar uma passagem muito gostosa nossa. Ná época em que eu ia todos os dias na oficina do pai deles, o Gringo! Ficavamos conversando e contando bobagens até meia noite, ou mais. Eu, ele e o seu irmão Leandro, ficavamos sentados em mochinhos de madeira no interior da oficina. Contando histórias, olhando os carros que estavam na oficina e... palpitando!! Contando causos de pessoas e carros, falando da vida dos outros(que feio) e tantas coisas mais! As risadas eram a rodo, e vinham sem motivo algum pela noite à dentro!!!!  Que época boa que não volta mais!! Quanto assunto a gente tinha para contar!! E as tardes comendo bergamotas?? Meu Deus!!
                          Lembro quando o Chico estava restaurando a Ford F1 dele. Ele lixando massa plástica, parecia que não iria terminar nunca!! Martelando, pintando, xingando todo mundo, martelando os dedos! E eu?? Dando risadas!! Mas, a vida é esta, passa rápido, tão rápido que quando a gente percebe, já se foi!
                         Bom, mas segundo fiquei sabendo pelo teu irmão Leandro alguns dias atrás, tu tá bem na foto meu camarada!!!!!!!!!! Fico feliz por ti! Tu merece tudo que esta vida tem de bom! E vamos marcar aquele churrasco quando tu aparecer por aqui!! Já combinei com o Leandro!
                
                          Exatos 9 dias depois de ter comprado o Magnum Estelar, surgiu a oportunidade de comprar este Magnum Poly. Logo no primeiro instante, me interessei, pois ate então, nunca havia tido um Magnum 1980. Mas como as coisas nunca são tão simples, desta vez também não foi!
                       Naquela ocasião, tinha combinado com alguns amigos de ir ao Uruguay, fazer algumas compras e também olhar alguns carros antigos. Para esta viagem, eu tinha guardado US$1000,00 para torrar por lá, e, era o único dinheiro que eu tinha na época!! Uma dúvida cruel pairava na minha cabeça! Teria que optar, ou ir para o Uruguay, ou comprar o Dodge.
                       O preço que estavam pedindo pelo Magnum, transformado em dólares, era de mais ou menos US$400. Fiz contas de todos os jeitos e maneiras, pensei muito e cheguei até cogitar em desistir da viagem. Meus parceiros ficaram loucos, falaram que se eu não fosse, ninguém iria. Não tive como não ir na viagem! Acabei me conformando, deixaria o dodge de lado, talvez para uma próxima ocasião.
                          Chegou o dia, fui viajar! Mas meus pensamentos estavam voltados apenas para uma coisa, o Magnum! Para resumir a história, não comprei sequer uma rapadura na viagem!! Só gastei exatamente o que era indispensável, ou seja, com comida e o rateio de gasolina. Economizei exatos seiscentos e quarenta dólares!!
                         Quando retornamos da viagem era bem tarde da noite, no outro dia, a primeira coisa que fiz foi ir buscar o Magnum.


Foto tirada pela minha irmã Fernanda, na av. Paraguassu em Capão da Canoa. Ná época, não sabia que estava sendo vigiado e fotografado!! Kkkk!! Alguns dias depois, olhando a foto, vi que fui pego de surpresa!
                          Era meados do mês de Dezembro, fiz minha mala e fui para a praia. Uma semana depois que estava lá, vendi o Magnum para um sujeito que estava veraneando por lá. O cara não tirava os olhos do Dodge, acabou me fazendo várias ofertas, sendo que uma delas aceitei! Voltei de onibus para Taquara e um dia depois retornei com outro dodge para praia. Bom, não lembro de mais nada da breve passagem deste dodge em minhas mãos, e também , estou louco para sair e dar umas voltas com o dodge azul. Tá lá no pátio me esperando!!
                          Na próxima postagem Charger RT 1978 amarelo   

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Magnum 1979 - Azul Estelar

                        Quando eu tinha 17, 18 anos,  meu maior sonho de consumo, em termos de carro, era ser dono de um Charger RT 79 azul Estelar/Cadet. Esta neura se criou logo nas primeiras vezes em que vi um dodge nesta configuração de cor. Se não me falha a memória, foi na praia de Capão da Canoa. Lá tinha um vendedor de frutas e verduras com um Charger 79 azul. Todas as vezes em que eu ia ao centro, parava ao lado do carro e ficava admirando. Aquela combinação de cores exercia, e exerce ate hoje, uma grande influência em mim!
                      O carro já naquela época estava bastante danificado, e vejam bem, estou falando do ano de   1982, 83! Tão novo e já tinha a pintura bem feia, parecia que ganhava banhos diários de salmoura!! Eu fico imaginando hoje, como aquele carro, com tão pouco tempo de uso, foi parar nas mãos do verdureiro! Longe de mim desmerecer o coitado do verdureiro, ou sua profissão, não é isto!! Mas como todos sabem, os dodges modernos valiam uma verdadeira fortuna até meados da década de oitenta, ao contrario dos antigos, que eram facilmente trocados por bicicletas! Um carro com dois, três anos, qual era sua quilometragem??? Qual a história mirabolante dele??? Enfim,   o Charger bi-color era o carro de trabalho daquele homem! E, também, meu sonho se acabando na maresia!
                        O verdureiro usava o carro como banquinha das frutas!!! Só tinha o banco do motorista, o resto era melancia, abóbora, milho verde, cebola, alface e por aí vai!! No espelho retrovisor interno, tinha pendurado uma penca de rapadurinhas de leite. Era realmente assustadora a cena!!
                         Perdi a conta de quantas propóstas fiz ao pobre senhor, ele sempre reticente!! Ate foi bom, porque se por ventura aceitasse alguma daquelas propostas, eu não teria como pagar!! Não trabalhava e não tinha dinheiro para mais do que alguns picolés!! Por diversos veraneios, acho eu que uns 3 ou 4, o Dodge Estelar sempre estava lá, no mesmo lugar cativo! Na última vez, ou seja , no último veraneio em que vi o carro, estava literalmente acabado! Os podres tomavam conta da pobre lataria, indefesa a maldita maresia! Com certeza o destino do pobre foi o ferro velho.
Simplesmente Lindo!! Uma obra prima da engenharia Chrysler do Brasil!! O Dodge mais bem acabado e requintado de todos, claro, inclui-se aí toda linha 79/81. Chega a me dar dor de barriga olhando estas fotos!
Só faltando um bege cashmere/sumatra para formar a trinca. Quem anda em um dodge até 78, e nunca andou em um bom 79, realmente, não imagina o que seja! Parece outro carro, apesar de serem praticamente os mesmos, são totalmente diferentes! O 79 é conforto puro!
 Sem comentários!!
Espetacular!!!!!!!!!!!! 
Não sei o que a cor azul faz comigo, nunca vi interior de um carro mais bonito que este!!  Neste painel apenas um defeito,  o dono colocou um jacarandá fora do padrão! Este aí tá parecido com o do Opala
                   Algum tempo depois, andando por Porto Alegre, encontrei um outro bi-color azul! Este, estava parado em frente ao prédio do ministério da justiça. O dodge era novo,novo,novo!!! Fiquei estaqueado naquele local por horas, esperando o dono, que não apareceu! Cansado da espera, fui até uma lancheria que tinha próximo, pedi um pedaço de papel e caneta e fiz um bilhete elogiando e enaltecendo o belíssimo carro. No final do bilhete, escrevi: "-Caso o sortudo senhor, feliz proprietário deste belíssimo exemplar, queira me passá-lo, por um preço bem inferior ao que ele vale, favor me ligar!! Numero tal, ass: Cuti".
                  Uns dois ou três dias depois, toca o telefone lá de casa, minha mãe atende, conversa um pouco, olha para mim e pergunta:"- Um senhor quer falar contigo à respeito de um bilhete que tu deixou no vidro de um dodge, é contigo??" Eu respondo:"SIM!!!.  Era ele!! Meu coração parecia querer saltar pela boca, então, tiritante segurei o gancho do telefone!! Com voz trêmula, disse:- "Alou"!! 
                     Foi uma das conversas mais prazerosas que tive na vida!! O gentíl senhor era agradabilíssimo! Praticamente só ele falou, me perguntou várias coisas. Onde eu morava, que idade eu tinha, meu nome e etc, etc. No final, me disse que não tinha a mínima intenção de vender o Charger. Me ligou porque achou muito criativo o bilhete que deixei no vidro do  dodge e também para me dar uma satisfação. Agradeci e coloquei o fone no gancho... chorando!!!
                    E assim, foram passando mais tantos outros dodges bi-color azul que fui atrás, mas infelizmente, nunca consegui comprar e realizar o tão sonhado desejo. A muitos anos que não tenho a felicidade de ver ao vivo um carro como este. Acho que, em termos de dodge, este é um dos meus maiores traumas!
Propaganda da Chrysler para a linha 1979 do Charger R/T
              Bom, o tempo foi passando, e, certa noite, estava eu parado em uma esquina no centro de Taquara, quando de repente, de longe, vejo vindo em minha direção aquelas sinaleirinhas clássicas de um dodge. Fico olhando atentamente, e quando vem se aproximando, vejo que é um dodge moderno, depois, com capô azul!! Gelei!! Era um Magnum 79 Estelar, o carro passou suavemente por mim, deixando para trás, em orquestrada sinfonia, aquele maravilhoso ronco original! Até o cheiro do ar mudou! A noite mudou, tudo ficou leve e alegre na minha cabeça!! O dodge era assustadoramente lindo!! Novo!! Muito novo!! Simplesmente não falei outra coisa naquela noite, que não fosse daquele carro. Precisava ardentemente descobrir quem era seu dono e onde morava!
                    Nas décadas de oitenta e noventa, eu tinha o hábito de sair caminhando pelas ruas durante a noite. Por vezes ficava ate alta madrugada perambulando pelas ruas desertas da cidade. Durante estas caminhadas, além de contemplar a beleza da noite, ficava pensando na vida de um modo geral! Tudo que acontecia comigo, o que seria de mim no futuro, estas coisas! Era como se a noite fosse minha analísta!
                    Em uma destas caminhadas, enquanto passava em frente ao consultório médico de um conhecido, escuto vozes falando de dodge, que emanavam do interior da garagem! Na hora eu paro e, sorrateiramente, encostado na porta da garagem, fico escutando!! As conversas giravam em torno de um dodge, entre este conhecido médico, e um suposto mecânico! Não aguentei e bati na porta da garagem!! O Dr me atendeu, me reconheceu e mandou eu entrar.
                    Quase caí duro com o que vi! Lá dentro estava o Magnum Estelar que tinha visto passar no centro alguns dias atrás!! Quando olhei o carro de perto pude ver o quão novo era o Dodge. A luz, incandescente, era fraca no ambiente. O tom azul daquela cor não era Estelar, era ESPETACULAR!! Acrescido do vinil azul clarinho do teto, as faixas laterais azuis, tudo, tudo mesmo, na mais perfeita harmonia, contracenava com a fraca luminosidade do lugar! Um momento mágico...  eterno... sublime... na minha memória ...
                        O mecânico estava revisando as sapatas do freio traseiro. Eu, olhava o carro como algo surreal!  Por cima, por baixo, não continha elogios a tão bela visão. Fiquei no local por horas, ate que o mecânico terminou o serviço. Eram quase duas horas da manhã, eu, sem vontade alguma de voltar para casa. Queria mesmo era entrar naquele carro e sair rodando pela cidade deserta, sem destino, ate o amanhecer! 
                        Alguns meses depois, este médico, vendeu o Magnum para um outro médico, que já era cliente meu. Este já tinha um LeBaron 79, também azul estelar, comprado quase novo na agência Chrysler de Taquara. O novo proprietário botou na cabeça que tinha que pintar o carro, detestou o vinil azul claro e as faixas laterais azuis. Como me neguei a cometer o crime, o carro foi levado a uma oficina de pintura, e meses depois, o carro tinha sido todo repintado! Não sei porque, também refizeram todo o estofamento, retirando aquele maravilhosos tecido original! Retiraram as rodas e calotas e colocaram um jogo de rodas gaúchas. Que crime mortal! O Magnum, agora, estava todo descaracterizado!
                        O carro foi pintado em um tom azul diferente do original, sem faixas laterais e sem vinil! Por uns 5 anos, fiz manutenção neste carro, depois, foi vendido para outro cliente meu. Este ficou por mais uns dois anos e o vendeu. Nunca mais tive mais noticias do Magnum, sumiu!
Dodges do meu amigo Badolato, no interior do Museu do Dodge em São Paulo

Espero viver o bastante para conhecer pessoalmente o Museu do Badolato. O Magnum branco Ártico com vinil azul é muito bonito, mas, seu irmão Azul Estelar ao lado... 

A meu ver, a cor mais linda do Magnum, Azul Astelar 

                         Passado mais algum tempo, apareceu na oficina um cara do interior do estado, mais ou menos da minha idade, com um Magnum Azul Estelar. Este carro era muito inteiro também, com as faixas originais e vinil. As rodas e calotas não eram mais as originais. Tinham sido trocadas por umas rodas raiadas que existiam para venda naquela época. O tecido dos bancos também haviam sido trocados, não sendo mais aqueles riscados originais. Mas no geral, o Magnum era muito atraente, tinha uma bela pintura e seu estado geral era muito bom!
                       Logo no primeiro contato, ficamos amigos. Comecei então a fazer a manutenção neste Dodge. Aproximadamente durante dois anos, este meu amigo vinha até minha oficina à cada dois meses, regularmente. Por vezes, passavamos o dia só conversando, pois o carro não tinha muitas coisas para serem feitas. O tempo foi passando e certo dia, este amigo me disse que estava com um grande problema financeiro. Adorava o carro, mas teria que vende-lo! Então acabou me oferecendo o Magnum. Eu para variar, sem recursos, disse à ele que não poderia comprar, no entanto, achava que seria um carro muito fácil de vender, dado seu estado e beleza!

As três fotos seguintes, foram me dadas de presente pelo antigo dono, exatos 4 meses atrás. O Magnum era ainda bem original. Suspensão meio arriada, roda meio que aberta. Com certeza precisando de umas buchas de balança novas.
No geral um bom carro para época! Se fosse hoje, carro de placa preta!! Kkkkk
Só faltava mesmo as calotas originais, de resto , bem apresentável!!
                         Meu amigo colocou o carro à venda por dois ou três meses, não conseguiu vender. Certa manhã, quando abro o portão da oficina ele estava lá esperando. Me fez uma proposta irrecusável, parcelada. Não tive como não comprar e acabamos fechando negócio.
                         Cinco dias depois, vendi o Magnum por várias vezes o que tinha pago. É uma situação que digo sempre, para se negociar com carro, a gente precisa estar no "meio"! Quando se quer vender, ninguém quer comprar! Quando se quer comprar, difícil de achar. É muito complicado! Então quando a pessoa trabalha com determinado bem, fica muito mais fácil de negociar. As pessoas te procuram para vender e também para comprar!

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