quarta-feira, 17 de junho de 2015

Dodge Magnum 1979 Marrom Sumatra 2


                              Este carro tem tantas histórias que eu deveria escrever em mais postagens, como fiz com o Dart azul 78, mas... vamos ver.
                       Na minha próxima postagem, ou talvez nas próximas, dependendo se acabar escrevendo esta em mais de uma edição, vou contar a história de um Charger 77, vermelho Riviera, que eu comprei antes deste, mas como este Magnum de hoje entrou na minha vida alguns meses antes, resolvi contar primeiro. Ou seja, comprei o Charger primeiro que o Magnum, mas posso dizer que o Magnum entrou primeiro na vinha vida, portanto, resolvi assim.
                             O início do ano de 1993 tinha sido desastroso pra mim, por conta do que já relatei anteriormente, com meu Charger 79. Mas, como sempre acontece, não somente comigo , mas com todo mundo, por pior que sejam as coisas, elas vão se ajeitando da melhor maneira. Como diz meu pai até hoje: "No fim , tudo vai dar certo!"
                          Voltando um pouco no tempo, dois anos antes (1991). Certo dia, meados daquele ano,  um senhor que morava em Novo Hamburgo passou aqui na oficina,  este me procurou para oferecer quantidade grande de peças de dodge que tinha em casa. Não sei, e, nem lembro, como apareceu aqui! Mas recordo de certeza, que sem nem ao menos olhar,  comprei as peças todas. Depois de muita conversa, marquei com este senhor para alguns dias depois ir até Novo Hamburgo para pega-las. Esta negociação, sem dúvida alguma, foi o pivô de toda história deste magnífico Magnum comigo.
                             No dia marcado, acordei cedo, me mandei para Novo Hamburgo. Tinha ainda meu Maverick GT, que já contei a história aqui, e fui com ele buscar as peças.  Como sempre, apesar (e que bom que foi assim) de muito serviço, sempre tirava um tempo para correr por aí. E, como em todas as vezes, apesar de focado no meu único objetivo da época, tinha sempre um destino incerto, procurando dodge.
                            Depois de acertar tudo, Maverick carregado com meus novos tesouros, resolvi passar por alguns picaretas de carros. Naquela época sempre tinham dodges, galaxies e mavericks nas revendas. Era coisa assombrosa, inimaginável nos dias de hoje. Quem não vivenciou aquela fartura, não consegue imaginar. 
                          Bom, lá pelas tantas, passei em frente a uma revenda bem conhecida lá em Novo Hamburgo, existe até hoje, o "Bagunça automóveis" !! Na vitrine, um imponente Magnum Sumatra! Imediatamente parei e fui olhar. De ante mão já imaginava que aquele carro em especial, não era pra mim. Pois o "Bagunça" só negociava com carros impecáveis, super inteiros, de preços muito altos. Mas... até hoje, o fato de olhar não paga nada. Então, vi, parei e ... entrei na revenda!    
                               Ao entrar na agencia e olhar o carro de perto, fiquei simplesmente boquiaberto com o estado da viatura. O Magnum era um dos mais novos que tinha visto nos últimos tempos, verdadeira raridade. O hodômetro marcava vinte e poucos mil quilômetros, o interior novo  como na fábrica, o vinil lindo, caixa automática, pintura um desbunde, os cinco CN15, calotas perfeitas (por incrível que parece, aquelas da primeira safra, com a bolota dos raios fixa,  só de encaixar, sem calotinha interna.) E novas!!! Um carro verdadeiramente digno de colecionador.  Alguns instantes depois, chega um dos vendedores em mim, não falou nada, só observava a minha incredulidade. O chão já estava todo babado da minha saliva, literalmente eu não conseguia fechar a boca!!
                               Depois de rodear o carro umas 100 vezes, perguntei, até com um pouco de medo e receio ao vendedor: "Quanto ?????? " Não lembro o valor que respondeu, mas era muito dinheiro, preço de carro 0K! Para mim,  naquele momento, inatingível.
                                Como o sujeito se mostrou amigável comigo, começamos uma conversa em torno do carro, perguntei tudo que queria saber daquela maravilha sobre rodas. Sabia que para mim seria impossível, mas poderia alguém do meu círculo se interessar.
                                O homem me contou uma história bem interessante. Talvez alguém aí de Novo Hamburgo saiba desta história, ou até de São Paulo, pois o carro tinha desembarcado naquela semana de uma cegonha desta cidade.
                                 O fato é o seguinte, pelo que lembro, nesta revenda (Bagunça) tinha um Fusca 0K, guardado em um canto. Não sei como , mas um colecionador de carros de São Paulo, dono do dodge, descobriu o Fuquinha na revenda. Este, se interessou  pelo fato de ser 0K. Não sei como foi a negociata, mas o Fuca viajou para SP e o Dodge veio para o RS. Na época, provavelmente, uma negociata de titãs. 
                               Depois de escutar toda aquela história, ver aquele carro tão lindo e novo, saí do estabelecimento, sonhando! Entrei no meu Maverick e pensei, o dia de hoje não rende mais nada, impossível, só me resta trabalhar. Voltei pra casa, os dias foram passando e meu pensamento lá em Novo Hamburgo. Pensava naquele Magnum todos os dias.
                               Dias depois, encontrei no centro de Taquara um antigo cliente, daqueles bem fortes, se é que me entendem. Conversa vai e vem... inevitavelmente o assunto entrou no mundo Dodge. Só um parênteses, para quem nunca teve um Dodge: Quem já teve , nunca esquece. E, em uma rodada de conversa, ele (Dodge) sempre se mete no meio, como doença.
                             Bom,  logo que a conversa seguiu no caminho Dodge, este antigo cliente me falou ter muitas saudades do Dodge que tivera, que hora destas iria cometer uma loucura e procurar outro. Na hora lembrei e pensei: Achei um dono para o Magnum! Imediatamente falei para este meu amigo do carro, contei exatamente como era e a história que o vendedor tinha contado. Meu antigo cliente se interessou imediatamente, e apenas perguntou, caso fosse até lá, se poderia comprar o carro de olhos fechados. Eu disse, só chega lá, abre tua carteira, preenche o cheque e seja feliz. O Dodge é espetacular!
                               Dias depois, nem lembrava mais, este cliente me liga. "Cuti, passa aqui no consultório, quero te passar um serviço". Tranquilo, no outro dia, passei lá, conversamos outras coisas que não Dodge, e enfim, ele me levou até a garagem, abriu a porta... eu caí duro!!! O Magnum Sumatra lá dentro. Mais novo do que nunca! Tive uma visão de como deveria ser o céu! Acho que me senti mais feliz do que ele que tinha comprado, aquilo era uma joia que deveria ser guardada a 7 chaves. Antes que eu conseguisse me recompor, ele me estendeu a chave e disse, fica com ele por uns dias, vai andando e da uma revisada geral. Quase infartei!
                                  Por isto não quero mais saber de oficina hoje, clientes como tinha antigamente... nunca mais!! Tive uma boa leva de clientes, que, assim como este, se tornaram meus amigos, era um prazer trabalhar para eles. Compensava a outra leva de porcarias que apareciam na oficina, sem educação, sem dinheiro e que saiam falando mal. Tudo tem o lado bom, é o que salva.
                                 Bueno, o tempo passou. Meu cliente vendeu o outro carro que tinha, e, por 2 anos passou a usar o Magnum sem dó nem piedade, diariamente, e sem o mínimo de cuidado! Que eu lembre, fez duas ou três viagens pelo Brasil, de cabo a rabo. E, naturalmente, carro que se usa muito, acaba desgastando. Principalmente para aqueles que não se importam muito com o cuidado aparente. Acho que até seja o certo: Usam bem, depois vendem e compram outro. Este não deixou de ser assim.
                                 Em meados de 1993, o Magnum ainda tinha a mecânica perfeita, mas a lataria com muitos arranhões, coisas pequenas, mas que desvalorizavam o carro. A pintura já meio desgastada dos produtos químicos que usavam nos postos de lavagem antigamente (Este cliente mandava lavar toda semana em postos assim). Bom, o carro ainda era lindo, mas aos meus olhos! Porque para pessoas não apaixonadas pela marca como eu, ele tinha se tornado apenas mais um Dodge velho e usado.
                                 Naturalmente, como não poderia deixar de ser, meu cliente comprou outro carro! Se não me engano, foi um Jeep Grand Cherokee V8. Logicamente, se apaixonou! E o dodge ? Ficou de lado. Certo dia meu cliente liga e pede para passar no consultório, queria conversar. Passei lá, imaginando algum serviço no Magnum. Mas não, ele queria vender o Dodge, então, pensou em oferece-lo pra mim. Disse que não tinha como guarda-lo e gostaria que eu ficasse com ele.
                                Para variar, eu em uma pindaíba de dinheiro!! (Triste aquela época!!) Pela amor de Deus!!! Agradeci e disse pra ele, olha, cara, eu agradeço, mas acabei de comprar um Charger que apareceu lá na oficina (E tinha mesmo, o da próxima postagem), por meia dúzia de moedas. Eu gostaria muito de ter este carro, mas não dá, não tem como!!! Então conversamos um pouco e fui embora, amaldiçoando a falta do metal precioso.
                                 Tenho certeza, por tudo que já passei, por tudo que conquistei, tenho muita sorte! Por pior que seja a situação, sempre penso isto: Sou muito sortudo e abençoado! Seguindo por esta ótica, mais uma vez a vida se mostrou generosa comigo. Dois ou três dias depois, de passagem no centro da cidade, cruzei com este cliente. Ele me viu e de dentro do carro falou: "Passa lá!!! Pega a chave do Dodge!!!" Eu respondi: "Não dá!! Não tenho como, não tenho dinheiro!!" Insistiu ele: "Passa lá, paga o carro e me paga quando tu puder,  como puder e QUANTO tu puder pagar, sem pressa!" Aí, fiz um sinal de positivo pra ele e fomos embora, cada um pro seu destino. Aquele diálogo não saia da minha cabeça, fiquei trocando as orelhas com aquela palavra "quanto tu pode pagar"!! Como assim??
                            Sem conseguir trabalhar, só pensando no improvável futuro negócio, no dia seguinte tomei coragem e fui resolver a parada. Ansioso, cheguei no consultório e em poucos minutos a secretária mandou que eu entrasse na sala. Sentei e começamos a conversar. Novamente disse que não tinha a mínima condição de comprar o carro, mas queria muito ficar com ele. Meu amigo então foi claro: "Me paga $400,00 (acho que em 1993 a moeda era Cruzeiros, não lembro, mas o valor não esqueço)! Era absurdamente barato pelo carro em questão. E, ainda para "piorar" ele disse: "Paga quando tu quiser. Eu sei que este carro é muito bom, e quero que tu fiques com ele!"  Bom minha gente, simplesmente não tinha como argumentar uma proposta como aquela, foi um presente. E apesar disso, olhem minha situação financeira na época!! Imediatamente, olhei para ele e disse:"Na próxima semana te dou metade e no mês que vem pago o resto, pode ser? "A resposta dele foi abrir a gaveta da mesa e me entregar a chave do Magnum! 
                                     Saí dali e fui direto para o estacionamento do hospital pagar aquela nave! Não precisaria nem olhar, pois nos últimos dois anos, somente eu tinha aberto aquele capô, conhecia o carro melhor que o próprio dono. Abri a porta, bati chave e pegou na hora!! Ronco suave das surdinas originais, carro justo, interior impecável. Lasquei o "D" e saí do estacionamento sorrindo.
                                                
Acho que a primeira foto tirada do Magnum, em frente a casa dos meus pais
                                          
                                   Nesta época, empolgado no projeto da minha casa, não tinha recursos para quase nada. Alguns meses depois vendi o Maverick GT e quase todos os outros carros que tinha guardado. Depois do acidente com o Charger 79, praticamente tinha ficado sem carro! Tinha um RT 75 vermelho Azteca que rodava pelas quebradas, mas muito ruim, acabei desmanchando o coitado. Então, as pressas, comprei o Charger Riviera que narro na postagem seguinte para ter um carro que pudesse andar.  Quando entrou  este  Magnum, abandonei o RT 77 e comecei a andar somente de Magnum. Ele era espetacular, estava um pouco judiado de pintura, mas para andar foi quase imbatível.
                                        Daí em diante, revezando entre oficina, procurando peças, tentando começar a construir casa, enfim, tudo junto, dei início na preparação da lata do Magnum. Tinha consciência que não tinha recursos pra nada, mas este carro precisava ser pintado e, infelizmente, vendido!!
                                   Lembrando hoje, foi ate engraçado. A reforma deste carro se deu com ele andando diariamente, ou seja, usava o dodge direto, com preparação da lata e raspagem, com fundo e... o carro rodando. kkkk. Era divertido, as pessoas olhavam ele como uma porcaria rodando, todo mascarado.
                               No dia 01/12/1994 , uma quinta-feira, na cidade de Campo Bom, aconteceu a inesquecível e excepcional churrasqueada na "oficina" do Geraldo e Jocelito.  Este pobre Magnum, um mero coadjuvante, naquela malfadada madrugada, quase apedrejado por uma legião de vizinhos inconformados, chamado pela alcunha de "Vaca Holandesa", foi acusado, injustamente, por inúmeras barbaridades, as quais, tentarei relatar em detalhes na próxima postagem!  

Nesta foto, de trás para frente: O Magnum, Gran Sedan que já postei, o Charger 77 Veneza que está por ser postado

                        Na próxima postagem, a continuação da história deste Magnum

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Ford Galaxie Landau 1981 Limosine

                     Nos dias de hoje, de internet, a palavra amigo se tornou tão banalizada que praticamente perdeu seu significado. Chego ao ponto de acreditar que devam existir pessoas desta nova geração que não saibam o que significa esta palavra, tal é a quantidade de asneiras que eu vejo por aí.
                     Nem tão antigamente, lá pelos anos 70, época que comecei a me relacionar com pessoas longe do círculo familiar, e , portanto, por minha livre escolha, foi que, lentamente, errando muito, acertando algumas poucas vezes, fui formando um pequeno rol de grandes amigos.
                Por experiência própria lhes digo, os maiores inimigos da palavra amigo são a inveja, falsidade e a cobrança. Pra mim, estas três características do ser humano, ou melhor, a ausência delas, são fundamentais para uma amizade harmoniosa, com pesos iguais.
                    Amigos verdadeiros são aqueles que não se tem poder de escolha, não se acha em redes sociais, muito menos são meramente apresentados por outras pessoas. O destino, e tão somente ele, sem interferência humana,  se encarrega de apresenta-los, de uma forma natural, em que automaticamente a empatia se apresenta, leve e sem cobranças, tudo, totalmente prazeroso! Uma regra básica que percebi ao longo da minha existência: Deixe cada um ser da forma que é, sem pedir, sem cobrar. Quando houver este tipo de afinidade, terás um amigo, simples e natural, mas... verdadeiro!!
                  Bom, lembrando esta história de hoje, seria impossível não re-lembrar de dois grandes amigos.  Dedico esta postagem, simples, que é apenas uma dentre tantas outras "indiadas" que passamos juntos, em homenagem aos gringuinhos, ou, irmãos Leandro e Chico Pellegrini! Estes dois amigos, com toda certeza, fizeram, e espero que continuem fazendo, grande diferença na minha passagem. Entre tantos que conheci, são dois homens honrados!! Sei de certeza, posso contar caso um dia precisar! Espero que saibam que a recíproca é total e verdadeira de minha parte. Se um dia precisarem, seja por qual motivo for (eles sabem do que estou falando), podem  contar com minha total gratidão, por toda vida.

                    Nas centenas, talvez milhares de vezes  que passei por Porto Alegre,  por vezes, quando havia tempo disponível,  passava em uma determinada grande avenida, propositalmente! Precisamente em frente a um enorme estacionamentos de carros, estes que se paga por hora, dia ou mês.
                   Neste determinado endereço, em certa época, descobri abandonado um enorme "navio" ancorado no pátio. Bom, não era bem um navio, mas sim um Galaxie Landau, ou melhor, dois, literalmente grudados!!! Parado lá dentro, ao relento, a enorme centopeia parecia, pelo menos nas vezes em que passei por lá e cruzamos nossos olhares, acompanhar tudo e todos que passavam no outro lado do muro. O enorme carro acompanhava o movimento que havia do lado de fora, querendo sair! Ao mesmo tempo, eu, todas as vezes que passava ali, ao contrário dele, olhava para dentro, sempre querendo entrar.
                   Ao longo dos meses  acompanhei e severa ação que o tempo ia lhe impondo. Primeiro foram os pneus que murcharam, em seguida, o limo foi lentamente cobrindo a pintura! Depois,  o mato foi crescendo em sua volta, ate o dia em que sua imponente estrutura do passado foi dando lado a uma enorme montanha de sucata! Não tenho ideia de quantas vezes passei em frente esta garagem, mas sempre imaginei que o carro fosse do dono do estabelecimento.
                    Com o passar do tempo, um dia estava "meio de folga", resolvi parar e olhar de perto aquele gigante. O terreno era descoberto na sua maior parte, apenas nas laterais e no fundo ficavam os box, cobertos apenas com telhado de uma aba. O terreno era todo murado nas laterais, mas com uma altura relativamente baixa, medindo mais ou menos 1,50m. Na entrada do terreno, não tinha portão, quando estava fechado, tinha uma corrente que atravessava o vão, impedindo os veículos de passar. 
                    Bom, o Galaxie estava na parte descoberta do terreno, perto do muro, em um local onde não atrapalhava a passagem dos carros. Ao entrar no estacionamento, fui direto para onde estava o meu objeto de desejo, chegando lá, comecei a analisar a barbaridade que tinham cometido com o Galaxie, ou melhor, com dois Galaxies. Pois tinham cortado dois carros ao meio, e implantado um ao outro, no meio destes! Uma deles, era um Landau 1981, branco, que provavelmente seria o doador do numero do chassi e documentos.  O outro, pela cor, era um Landau chumbo metálico, ano 78 ou 79.
                    Bom, o(s) carro(s) tinha(m) motor, caixa hidramática, diferencial e suspensão completos, tudo no lugar. Para sair rodando, faltava o eixo cardãn, bateria, radiador e os bancos. Na minha cabeça já estava maquinando e fazendo contas de quanto custaria para colocar o animal para rodar. Entre as duas metades do Landau branco/chumbo, ou seja, exatamente atrás das portas dianteiras e na frente da traseira, colocaram mais uma porta dianteira do outro Galaxie. Se olhando o carro de lado, de lateral, o carro parecia ter três portas!! Só que esta do meio, a implantada, estava soldada. Aparentemente até parecia que o acabamento final ficaria bom, pois até os vincos das portas coincidiam, mas... olhando o carro assim como estava, inacabado, era feio de ver!
                    Quanto a estrutura do chassi, foi muito bem feita. Já vi alguns outros Landaus transformados em Limosine e não gostei do que fizeram no chassi. Neste, mandaram dobrar chapas em perfil, até mais espessas que a do próprio chassi original, só que de um tamanho um pouco menor, e encaixaram este perfil por dentro e por fora do chassi original! Um reforço estrutural para ninguém colocar defeito! Com certeza não apresentaria problemas futuros.
                  Os minutos vão passando e eu atento aos detalhes do carro, quando, de repente, uma mão bateu no meu ombro e disse:"-Cara, o que tu estas fazendo aí?? Eu disse:"Nada, só olhando"!!Ele: "Este carro é teu??" Eu disse:"-Não, me desculpe, só estava olhando... é que trabalho com peças destes carros e... pensei... será que o dono não vende??"  O cara olhou pra mim com uma cara estranha, desconfiada, me pediu que esperasse ali, ele iria ligar para o dono da garagem e perguntar se o carro era de venda.
                    Tudo bem, continuei ali olhando o carro por mais alguns minutos até que o guardador retornou. Disse ele que seu chefe queria falar comigo, que se eu pudesse esperar por uma meia hora, ele viria ao meu encontro. Disse a ele que sim e por lá fiquei. Quase uma hora depois, eu já estava começando a achar tudo aquilo estranho demais, pois se o cara tinha intenção de vender o carro, que falasse e pronto. Outra coisa que não saia da minha cabeça foi a primeira coisa que o sujeito me perguntou: "Este carro é teu??" Porque esta pergunta??? Naquela hora já  estava me roncando as tripas e pensando que o melhor a fazer era ir embora, me mandar da li. Mas... foi neste instante que o guardador de carros me chamou e disse que seu patrão me aguardava no escritório.
                     Sem vontade alguma de ir, fui conduzido até o escritório do cara. Chegando lá, um senhor me recebeu, até que cordialmente, e me fez uma sabatina à respeito do Galaxie!! Eu, sem entender nada, apenas lhe repeti o que já havia dito ao seu funcionário, que o meu interesse era comprar o carro para desmanchar, pois trabalhava exclusivamente com peças de Galaxie e Dodge.  Ele em silêncio, me encarou por alguns instantes e finalmente mudou o rumo das perguntas. Queria saber onde morava, meu nome completo, meu telefone, CPF, RG, etc, etc e tal. Eu estava meio nervoso antes, depois do rumo que a conversa tomou, já tava achando que ia dar polícia no negócio!! Foi então que o sr. resolveu abrir o jogo comigo.
                      O dono da garagem disse que acreditava em mim e me explicou o porque de tantas perguntas. Disse que há alguns anos, em certa madrugada, alguém entrou com o Galaxie para dentro da garagem, colocou no melhor box que tinha e foi embora, silenciosamente!! Na manhã seguinte, quando o funcionário que cuida do estacionamento chegou, encontrou aquela aberração de carro, semi-partido e emendado, na garagem. Ligou para o dono perguntando à respeito e este disse que não tinha ideia de quem seria.
                      Os meses foram passando e o dono do galaxie nunca deu notícias, deixando o carro lá! O proprietário da garagem investigou por algum tempo quem seria o (mau)elemento que deixou o carro no box! Com o passar do tempo, acabou descobrindo que o carro seria de um pipoqueiro, estes que tem carrocinhas de pipoca e vendem na rua. Este, tentou fazer o Galaxie Limusine! Mas como provavelmente não dispunha de recursos para tal feito, abandonou o projeto. Na real, este cara era um peladão e não tinha dinheiro para trocar a roda da carrocinha de pipoca, que dirá, para concluir o carro. O chinelão não tinha onde guardar o Galaxie, então  em uma madrugada qualquer viu a garagem aberta, e resolveu que ali seria um ótimo lugar para guarda-lo, de graça!! Resumindo, empurrou o banheirão/galochão lá pra dentro!! É mole?? 
                      O proprietário da garagem me contou que foi  para cima do pipoqueiro, pedindo as diárias do carro, que já duravam anos, e que o mesmo teria que tirar o carro de lá! O pipoqueiro então disse a ele que não era o dono do carro e que iria processa-lo por calúnia!! Vejam bem, virou uma lambança de lavadeiras!! Quando um cara tira pra ser chinelo, a gente tem de esperar de tudo!! Bom, me disse o dono da garagem que aquela pendenga já se estendia por anos, e que, apesar de ter tido outras propostas de compra do Galaxie, nunca vendeu para evitar incômodos futuros. Quando eu cheguei me oferecendo para compra-lo, ele logo achou que eu teria sido mandado pelo pipoqueiro, para tentar comprar o carro por uma bagatela e não pagar as diárias corridas do estacionamento.
                     Bom, tudo esclarecido e como eu era de outra cidade, me falou que iria consultar o advogado dele e depois entraria em contato comigo. Naquela hora percebi que não estava errado quando achei estranha a atitude do guardador no meu primeiro contato. Ali tinha um angu muito grande!!!
                      Passaram-se uns trinta dias, o proprietário da garagem me ligou! Disse que quando eu fosse à Porto Alegre, para passar lá para acertarmos o negócio. Alguns dias depois eu estava lá! 
                      Bom, foi uma negociação muito lucrativa para mim, embora tensa, muito tensa!! Cheia de regras e pormenores, mas, depois de muita conversa, naquele dia, entramos de comum acordo em vários quesitos, sendo um deles, que eu iria buscar o Galaxie em um sábado pela manhã, bem cedo. O dono da garagem tinha certeza, mas certeza mesmo, que quando o galaxie saísse do estacionamento, o dono iria aparecer re-querendo sua posse, no mesmo dia!! Mas, mesmo assim, me disse que eu fosse descansado, que seus advogados estavam cuidando do negócio e que eu não precisaria me preocupar, afinal, não perderia nada.
                      No sábado seguinte pela manhã, pelas 5hr, eu e os dois irmãos Pelegrini, Chico e Leandro, meus incansáveis ajudantes, "ancoramos" na frente da garagem!! Nós, a bordo de um LeBaron que eu tinha, que faria o trabalho pesado de  transladar o Galaxie limosine, no cambão, até Taquara!!
                     Bom, entramos com o LeBaron para dentro do estacionamento e parei ao lado do Galaxie. O dodge ficou pequeno ao seu lado!!! A barca era enorme!!Quando o Leandro e o Chico viram o tamanho do Galaxie, o caco que era, se olharam, balançaram a cabeça, olharam pra fim e falaram: "Tu é louco da cabeça!!!" Literalmente se apavoraram!!! Exclamaram em bom tom que iriamos nos suicidar no trajeto!! Me chamaram de insano, por inúmeras vezes!! Por várias razões, uma delas por querer uma porcaria daquelas. E também achavam muito perigosa a nossa viagem, pois o Galaxie não tinha freios. Confesso que eles não deixavam de ter razão , pois o carro rebocado em cambão , precisa de freio.  Tem obrigação de ajudar nas paradas, principalmente um gigante como aquele. Mas agora era tarde, nós iriamos fazer como eu tinha planejado, sem chance de voltar atrás!!
                     Dentro do LeBaron, tinham 4 rodas com pneus montados, de Galaxie, porque os dele estavam todos murchos, então , para ganhar tempo, levei pneus e rodas. E também um banco dianteiro, individual, de dodge, para colocar no Galaxie, pois o mesmo não tinha bancos. Caímos para dentro da garagem e começamos a trabalhar. Depois de aproximadamente uma hora de exaustivo divertimento, tudo pronto!!
                    Bom,  depois de todo aquele trabalho, pedi para o Leandro ir na boleia do Galaxie e o Chico iria comigo no LeBaron, de co-piloto! Avisei o dono da garagem que iria me mandar, paguei a quantia acertada e saímos daquele local arrastando o gigante da Ford!! O pessoal da garagem não sabia se ria de nós ou nos desejava sorte! Mas uma só certeza todos eles tinham, nos achavam retardados por fazer aquilo!
                    Passava das oito da manhã, as ruas e avenidas de Porto Alegre já apresentavam um movimento grande, e nós, com aquele "minúsculo" LeBaron puxando aquele monstro gigante no meio de todos. Parecia um rebocador puxando um transatlântico!
                    A pior parte do trajeto foi nas ruas da capital! Quando fechava alguma sinaleira ou o trânsito parava por engarrafamento, o LeBaron era literalmente arrastado pelo galaxie. O dodge não conseguia segurar o Galaxie, eu precisava olhar bem na frente, cuidando o trânsito. Em caso de uma parada brusca, já era, não iria parar. Foi realmente bem perigoso! Por diversas vezes, o Galaxie arrastou o Dodge por alguns metros antes de parar.
                    Mas, assim como tudo na vida, aos poucos a gente vai se acostumando com as dificuldades e a situação logo fica cômoda e, por vezes, divertida! As pessoas olhavam incrédulas, não acreditavam no excesso de comprimento que os dois ocupavam na rua, era quase um caminhão bi-trem. Mas seguimos em frente. Para evitar de entrar na auto-estrada (BR290), fiz um percurso bem maior dentro da metrópole. Da avenida onde saímos, fui até a av Assis Brasil e segui por ela até a cidade de Cachoeirinha, passando assim por baixo da BR290! Em Cachoeirinha, também pegamos um movimento bem grande na av principal, mas ainda assim, foi o melhor caminho até chegarmos a RS020.
                   Quando finalmente saímos da cidade e pegamos a RS020, estrada de pouco movimento, em direção à Taquara, chegou a me dar um alívio. Alguns quilômetros depois, em certa altura do trajeto, em um local bem descampado,paramos para apreciar os dois carros (cadê as fotos??? Não tem perdão!!) Uma visão espetacular. O engraçado é que naquela época a gente nem pensava em polícia rodoviária!!! Andando com um carro todo errado, sem documentos, sem sinalização, em uma viagem de 100km?? Loucura!!
                     Quando chegamos na metade do caminho, ou seja, quando saímos da zona de planície da capital e começamos a pegar subidas fortes que dão prévio início a serra gaúcha, é que pude sentir pela primeira vez na minha vida um dodge "quase" apanhar!!! Dificilmente alguém que viaje com qualquer dodge, troca de marchas em estrada. Naquele dia as trocas eram constantes e ininterruptas!! Era preciso extrair o máximo de potência em determinados pontos do trajeto!
                    Bom, depois de chegar em Taquara, fomos os três, direto para minha oficina largar o Galaxie! Logo após, levei os Gringuinhos para a casa deles e fui pra minha.
                     No outro dia, lá pelas 5hr da tarde, recebo uma ligação do dono do estacionamento, que me vendeu o Galaxie. Atendi o telefone, ele apenas me perguntou se tinha chegado em Taquara e se o carro estava guardado! Eu disse que sim, então ele me pediu que não saísse de casa, pois ele precisava falar comigo e estava vindo à Taquara!! Pensei, putz, entrou pedra na sopa!! Mas o que houve??
                    Passado uma hora e meia, duas, o cara bateu lá em casa. Sentamos para conversar e ele me disse: "-Tu não acreditas, mas uma hora depois que vocês saíram do estacionamento, o pipoqueiro foi até lá, me ameaçou, e quer o carro de volta!! Ele exige saber para onde foi o galaxie dele!!" Ele me disse então que falou ao pipoqueiro que tinha levado o carro para um outro depósito dele, em outra cidade! Junto a isto, já avisou o pipoqueiro que tinha um processo correndo na justiça, contra ele, cobrando as diárias de quase cinco anos de estacionamento do galaxie. O valor arrolado no processo daria para comprar uns 20 galaxies, inteiros!!! Era muito dinheiro!! Disse que o pipoqueiro branqueou os olhos e saiu de lá, mas resmungando muito!! Dá pra acreditar??? 
                    De qualquer forma, o dono do estacionamento tinha vindo até Taquara para me propor o seguinte: Queria me devolver o dinheiro que eu tinha pago a ele pelo galaxie, mas eu ficaria com o carro em minha oficina, sem poder desmancha-lo, até que os advogados dele dessem como resolvida a pendenga. Nem pensei muito, aceitei logo a proposta e peguei o dinheiro de volta, pois também não queria me envolver em pendengas por causa de uma sucata daquelas.
O Landau está lá virado contra o muro, já sem a frente completa. Da para ter uma ideia do que era, pois assim como está, sem a frente,  o comprimento é maior do que o do LeBaron
                     O homem então virou as costas e foi embora, disse que assim que resolvesse a questão, me procuraria. O tempo passou, e eu com aquela barca enorme me ocupando espaço!! Até que certo dia, alguns meses depois, o dono da garagem me ligou, disse que tinha ganho o carro na justiça, e ainda o pipoqueiro tinha uma dívida incalculável para com ele. Alguns dias depois , quando fui a Porto Alegre, passei lá, tomamos um bom café, rimos bastante do ocorrido, lhe paguei a quantia exata que tínhamos acertado algum tempo antes, sem juros ou correção!!!! Me despedi e fui embora. Nunca mais tive notícias deste homem. No local da antiga garagem, hoje tem um enorme posto de gasolina, com  várias lojas.
                     Na próxima postagem Dodge Magnum 79

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Dodge Charger RT 1978 Vermelho Verona

                  Seu João Luis Amável Marcos, falecido, pai da minha esposa Valquíria, foi o responsável indireto (e totalmente direto) na aquisição deste RT, ele e sua C-10.  Como já falei aqui em outras postagens, seu João foi proprietário da Chevrolet C-10, ano 73, que uso hoje, diariamente!
                       Pois bem, na época, alem da Chevrolet, seu João era também  proprietário de uma grande serraria, acho ate que a maior da região!
                       Bueno, naquela época a C-10 foi uma pick-up de uso diário, da lida, do trabalho pesado mesmo. Seu João há usava diariamente, assim como um dos seus funcionários. Talvez, aguçando um pouco a imaginação, possa-se imaginar o quanto e como, foi tratada naqueles anos. Também os maravilhosos lugares que passou, nos rincões deste estado, nas inúmeras derrubadas de mato.
                       E, assim como o destino de certos carros é parecido com o de algumas certas pessoas, esta, nasceu para não ser poupada.  Assim como foi destratada no passado, hoje, também, assim a é!
                       Estou falando sobre a Chevrolet do meu sogro pois ela foi o pivô, a causa direta na aquisição do dodge da postagem de hoje.
                        Voltando um pouco no tempo,  eu , ao infiltrar na família da minha esposa, conforme ia me familiarizando, ia , aos poucos, tomando certas liberdades. Não poderia ser diferente, claro, comecei a enaltecer o que gostava, ou seja, os Dodges!!
                     Conforme o tempo foi passando, minhas ideias sempre batendo na mesma tecla, aos poucos, de tanto eu falar, seu João também começava a perceber (forçosamente) as inúmeras qualidades que os dodges tinham (e tem).
                    Como o tempo é implacável para todos,  a C-10 do seu João também , aos poucos, sofria a severa e impiedosa ação do serviço pesado. Certo dia conversando com meu sogro, este relatou um defeito na Chevrolet, a qual o atormentava. Ela começou a apresentar problemas no trambulador de marchas, que seguidamente, acavalava as marchas pela folga excessiva nos seus garfos!
                  Com o passar do tempo meu sogro acabou trocando seu  trambulador de marchas por um novo, mas de péssima qualidade , ou talvez, de péssima mão de obra! Hoje confesso, sem medo de cometer injustiças, sinceramente, ele era muito mal atendido pelas oficinas em que levava sua Chevrolet! Pagava muito e tinha pouquíssimo retorno! Como dizem nos dias de hoje: "Custo benefício nota 100 X 0!" Ou seja, custo 100 e benefício 0 (zero) !
                      Certa vez, em uma janta, meu sogro confessou que estaria descontente com a C-10. Gostava da camionete, mas por não ter uma solução prática para o seletor de marchas, cogitava ate mesmo em vendê-la! Deixei passar o jantar, depois lhe perguntei se não gostaria de colocar uma caixa de 4M do dodge na C-10. Ele, imediatamente, me perguntou:"-Mas e dá??!!" Eu disse a ele que era uma barbada, as caixas são muito parecidas e colocando uma de 4M ele nunca iria mais se incomodar com as acavaladas de marcha!
                       Conversa vai , conversa vem, seu João agora só pensava em colocar uma caixa de dodge na Chevrolet! Certo dia então, disse a ele que, quando pudesse parar a C-10 por uma semana eu colocaria uma caixa pra ele. Assim foi feito, alguns dias depois, meu sogro estava andando faceiro da vida com sua Chevrolet, sem nunca mais pensar em se preocupar com marchas acavaladas.
                       Por algum tempo, ele foi incisivo em querer pagar pela caixa, assim também pelo meu serviço na oficina. Mas, apesar de suas insistentes súplicas, nunca aceitei dinheiro como pagamento! O que tinha feito foi um presente meu à ele pelo transtorno de ter de me aguentar na casa dele kkkk. Sendo assim, correu o tempo.
                   Seu João, como tinha serraria, automaticamente, comprava muito mato fechado! Principalmente na serra do RS, onde sempre teve muitas árvores e reflorestamentos espalhados por quase todos os municípios da serra. Seguidamente ele se embrenhava nos confins da serra, de estradas horríveis, de municípios pequenos, rodeados de muito mato para, de lá, tirar matéria-prima para seu ofício!
                       Certa vez, em uma destas viagens, ao sair me disse que traria um presente para mim! Perguntei a ele do que se tratava, mas não quis me dizer! Ele apenas me falou que tinha encontrado uma coisa que eu iria gostar muito. Um presente encravado no interior de um pequeno município da serra gaúcha e que quando retornasse, na última carga de mato, traria junto.
                        Alguns dias depois, encosta na frente da minha oficina o Ford F700 do seu João. O seu motorista, Jorge, desceu e veio falar comigo para ver onde descarregar o presente. Na hora fiquei surpreso!! Fui até na rua e me caiu os butiá !! Na garupa do Ford, um Charger RT!!           

                          Na época em que o carro chegou as minhas mãos não tive a menor dúvida quanto ao seu destino, passar o machado. Se hoje fosse, com certeza, a história teria outro desfecho.  Para termos uma ideia de como era o dodge, ele tinha o motor ruim, caixa muito boa,  teto sem vinil e sem frisos, pintado de branco. Ate que não tinha muita massa plástica espalhada pela lataria, só em alguns pontos, mas nada ao extremo. Este, nem cheguei a andar, foi logo desmanchado.

                                     Na próxima postagem  Ford Galaxie Landau 1981 Limosine 

sábado, 12 de abril de 2014

Dodge Dart 1979 Bege Cashmere conversível

                          Quando comecei a namorar a Valquíria, hoje minha mulher, unia o útil ao agradável procurando dodges e passeando aos finais de semana. Além das inúmeras qualidades dela como pessoa, ainda é muito parceira, aturando ate hoje minhas neuroses em relação aos carros.
                                Certa vez em um sábado à tarde, estávamos perambulando em Porto Alegre, lá pelos lados do bairro Boa Vista, mais precisamente próximo a praça do Japão. Este bairro é totalmente arborizado e bonito por natureza. Nós olhávamos as antigas casas residencias que ali existem, sonhando com a nossa! Quando de repente, vejo, lá no fundo do pátio de uma destas casas, um dodge atirado! Estava em baixo de uma grande árvore, quase que totalmente encoberto pelas folhas, ao lado da casa, mais para o fundo, um enorme galpão com um Aero Willys 2600 ao seu lado.
                          Imediatamente parei o nosso carro e me aproximei. Como a casa estava totalmente fechada e não se via movimento, fui lentamente me chegando para tentar enxergar melhor o dodge. Aos poucos, conforme ia me aproximando do dodge, ia tendo uma visão inacreditável. Era um Dart 79, Bege Cashmere, com a capota cortada. Quando parei ao seu lado, quase caí duro!
                            O enorme galpão ao lado da casa tinha uma das portas entreaberta, como a curiosidade era grande, fui até lá dar uma espiada! Ao chegar percebi que lá dentro existia uma grande oficina, bem antiga. Mas notava-se claramente que há muito estava sem movimento. Receoso de entrar, iniciei uma bateria de palmas e chamados, que, em instantes, rendeu frutos. Logo apareceu um senhor, de idade avançada, que, de pronto, me atendeu.
                          Me apresentei a ele e começamos a conversar.  Em um primeiro instante este senhor se demonstrou muito amigável e prestativo. Mas sua cara alegre e descontraída mudou completamente quando lhe perguntei a respeito do Dart! Imediatamente o mesmo fechou a cara e a conversa tomou outro rumo. Naquele momento ate pensei que o velho homem teria algum problema mental ou coisa assim, pois não tinha lhe ofendido e muito menos sido indelicado!
                           Se pairou no ar um silêncio, o clima ate então agradável ficou tenso! Após alguns instantes, o velho começou a me interrogar de forma agressiva, como se fosse um policial e eu... um bandido! Logo em seguida, como sou bem destrinchado e sei usar as palavras quando me convém , ele baixou a guarda. Assim, mesmo percebendo que ele agia defensivamente,  passamos novamente a conversar de uma forma mais civilizada.
                           Aos poucos, percebendo que eu realmente não conhecia nada daquele carro, passou a narrar uma fantástica história, quase inacreditável! Um dos mais impressionantes relatos, ao qual, tive enorme prazer de escutar!
                         O Dart Cashmere foi comprado zero quilometro para presentear a esposa de um milionário da capital. Esta senhora tinha um desejo ardente, possuir um carro conversível, então, após poucos meses de uso, no mesmo ano de ter sido tirado da agência, ou seja, no ano 1979, o carro foi mandado para uma grande oficina para executar o "criminoso" serviço. O Dart tinha baixíssima quilometragem, marcava no hodômetro 4500km!!!!
                            Segundo relato dele, depois de vários  meses, a oficina que cortou o teto não conseguiu implantar reforços estruturais nas longarinas do carro. O Dart ficou extremamente fraco e sem resistência. Então, sem concluir o serviço, o dodge ficou parado por dois anos no mesmo local. Depois de muita discussão entre o proprietário e o dono da oficina, o Dart foi levado para outra oficina. O proprietário então iniciou um longo processo judicial contra a primeira oficina. Conforme a pendenga judicial ia seguindo, foi decretado a esta outra oficina em que ele estava agora, a proibição de continuar e findar o serviço, pois o carro era prova material no processo judicial. 
                            Passados mais algum tempo, em torno de dois anos e meio, a segunda oficina como não podia mexer no dodge, mandou que o proprietário retirasse o carro de lá. E assim, mais uma vez o pobre Dart foi carregado. Sem ter onde coloca-lo, um amigo do proprietário, que era conhecido deste senhor que eu falava no momento, lhe pediu que deixasse o carro ao lado da oficina por alguns meses. Este, sem compromisso, disse que sim. Resumindo, o Dart foi mandado para a oficina deste senhor que eu conversava, por um amigo do proprietário do Dart.
                             Assim, os anos foram passando, a justiça lenta como sempre,  ninguém importou-se mais com o Dart Cashmere. O maravilhoso carro foi deixado de lado, e, com o passar do tempo, descartado como lixo.
                        Passaram-se mais alguns anos, o carro parado ao relento, embaixo da mesma árvore em que estava agora, sofrendo os pesados efeitos do tempo, apodreceu! 
                             Este senhor que eu conversava, perdeu o contato com o amigo do proprietário do Dart, que nunca mais apareceu! O dono, provavelmente desgostoso, abandonou o carro completamente.
                          Anos mais tarde, na tentativa desesperada de solucionar a questão, decidiu ir atrás do dono do carro. Segundo informações levantadas por ele, descobriu que, tanto o proprietário como a esposa, haviam morrido em um acidente de trânsito, passados já  alguns anos. Pensou ele:"-Fiquei com um abacaxi nas mãos!"
                             Me disse então, que no momento em que cheguei perguntando do Dart, ele achou que eu poderia ser mais um dos inúmeros chatos que iam até lá para comprar o carro, fazendo propostas indecorosas, ou talvez, algum parente dos donos. Algum tempo depois percebi que não foi bem este o motivo, mas, aí já é outra história.
Já desmanchado e empilhado, pena não ter algumas fotos dele rodando, ou quando eu o comprei.

Nota-se que existiam pontos de corrosão grandes por baixo dos para-choques e lanternas, lugares onde acumulava muita água.
                             Bom, depois de toda esta conversa, que durou umas duas horas, lhe fiz a pergunta que estava na ponta da minha língua, desde que cheguei lá: "-O senhor me vende este carro??" Ele prontamente me respondeu:-"Como vou vender? O carro não é meu!! E se eu te vendo ele e alguém aparece aqui para pega-lo??" Bom, lhe respondi que achava muito pouco provável alguém ir até lá para resgatar um carro velho, com o teto cortado e abandonado ao relento por mais de 10 anos. Além de que seu proprietário já era falecido. Quase impossível! O carro com certeza não teria mais como ser refeito, ainda mais naquela época, em que os valores eram banais.
                            Reconheço que quando coloco uma coisa na cabeça, viro um verdadeiro chato, fiquei insistindo na minha opinião, até que me caiu a ficha!! O velho queria vender o Dart, acredito que estava louco por se livrar daquela sucata! Estava só me fazendo acreditar que não podia, para elevar seu preço!!! Percebi isto quando começamos a falar em valores, tudo que eu oferecia, ele logo retrucava falando do risco. Neste momento lhe perguntei: "- Por quanto o senhor quer vender?? Me diga o preço e aí eu faço uma contra proposta".
                            Não lembro bem quanto foi o valor que ele me pediu, mas ofereci um pouco menos. Ele parou, me olhou por algum tempo e disse que iria pensar. Peguei o telefone dele e disse que iria ligar em dois dias. No dia marcado liguei e ele aceitou de pronto minha proposta, com a condição que eu levasse o carro durante a noite, ele tinha medo de que alguém visse que ele tinha vendido o carro.
                            Tentei explicar que tudo era loucura da cabeça dele, que um dodge inteiro não valia nada, imagine aquele. E também que eu iria desmanchar o carro, não iria rodar. E principalmente que o carro não tinha sinalização nenhuma, como eu iria rebocar um carro nestas condições à noite?? Durante o dia já era uma loucura! Então, acabou concordando.
                           Combinei com meus fiéis escudeiros e amigos Chico e Leandro Pellegrinni para irmos buscar o carro no sábado seguinte. E assim foi feito, por volta das 9:hr da manhã do sábado estávamos em frente a oficina onde estava o Dart Cashmere, comecei então a prepara-lo para a viagem de uns 120km até Taquara. Tínhamos ido com o LeBaron 80, cinza, que contei nas postagens passadas, que comprei na cidade de Parobé. Nesta época, o Lebaron ainda não tinha sido pintado, era horrível. Muitos podres, capô e pára-lamas de várias cores e tampa do porta-malas "pintado" de massa plástica! Era um zumbi!                                           Bom, conforme ia preparando o Dart para a viagem, percebia, em vários detalhes, que o carro havia parado ali novo!! Os estofamentos tinham o tecido original ainda, rasgados, mas originais. Os forros das portas pareciam peças novas, mas envelhecidas, não pelo uso, mas pelo tempo!! O Rádio toca fitas Chrysler no painel parecia que ainda funcionava. Até a almofada do painel estava intacta! Incrível!! Não parava de comentar com meus amigos/ajudantes, realmente estávamos diante de um crime, um carro novo abandonado!
                            As laterais do carro, portas e para-lamas tinham pintura original, com as listinhas originais. Assim como o capô e tampa do porta malas, apesar de estarem verdes de limo, mas impecavelmente lisos.
                          Bom, o dia foi passando e somente terminei os preparativos pelas 4:00hrs da tarde. Enfim, estávamos prontos para sair, pneus cheios, freios soltos e cambão atrelado nos dois dodges . Antes de irmos embora, o senhor ainda me ofereceu a Aero Willys que estava também abandonada ao lado do galpão, mas esta ficou lá! Então, paguei o homem e saímos em retirada, faceiros da vida! Coisa que eu adoro até hoje, é uma empreitada como esta. Tempo bom aquele!! Como me divertia trabalhando!
                            Eu e o Chico no LeBaron e o Leandro na direção do Dart, difícil imaginar a cena, era ridículo aquele carro conversível rodando, totalmente cheio de limo, podre, voando folhas de dentro. O LeBaron não ficava longe, pois eu ainda não tinha começado a arrumar os podres que tinha, então, eram dois dodges feios de vida.
                            Logo na saída, paramos em uma sinaleira de uma rua bem movimentada de Porto Alegre, se não me falha memória, rua Anita Garibaldi, pouco antes de chagar na avenida Carlos Gomes. As pessoas olhavam apavoradas para os dois carros. Nunca rimos tanto dentro de duas sucatas ambulantes. As pessoas gozavam de nós, ouvíamos dezenas de frases que deveriam ter sido escritas para poder lembrar hoje. Uns caras gritaram de dentro de um carro: -"O da frente é que está puxando ou é o de trás que esta empurrando??!!". Nós dávamos risadas. Outros gritavam:"-De onde desenterraram estes, tem mais????". Adiante mais  outros gritavam:"-O ferro velho mais próximo fica a tantas quadras!!!" ou outra, "Corre que vocês ainda alcançam o caminhão do lixo!!" E foi assim ate a saída de Porto Alegre, várias coisas deste gênero.
                             Imaginem este sucatão da foto abaixo, com um dos pára-lamas dianteiro verde, o outro branco, sem o bico de fibra com os faróis amarrados com arames. Eu tava pedindo para ser escrachado!


                            Bueno, a viagem transcorria maravilhosamente bem, sem problema algum. Que modéstias à parte, coisas como esta, eu domino plenamente. Quando entramos na RS20, passado o movimento, eu e o Chico começamos a escutar gritos, era o Leandro, que estava dirigindo o Dart, gesticulando e gritando para parar. Encostei na beira da estrada, descemos, atravessamos a pista e sentamos na macega alta do acostamento do lado oposto. Conversamos ali por bastante tempo, rindo, cabeça leve, sem nada dentro!! Cada vez que passava um carro, quase parava incrédulo com a visão, e nós, só risadas!!
                              Quando chegamos em Taquara já era noitinha, escurecendo fomos até minha oficina e largamos o Dart lá, levei meus comparsas para casa e fui para a minha.
                            No outro dia, chegando a oficina, a primeira coisa que fiz, foi examinar o Dart conversível. Pude notar claramente que o carro era novo!! Apesar do tempo, a suspensão do carro era imaculada, não tinha uma pequena folga, as balanças inferiores, que em um carro bastante rodado, sempre se nota alguma batida, pareciam novas!! O carro não tinha chaves, portanto o porta-malas não tinha sido aberto por mim. Depois de lidar um pouco, consegui abrir. Levei o maior susto do mundo, tinham várias caixas velhas e muita sujeira dentro, mas o mais impressionante, foi a família inteira de ratos que pularam para fora quando abri a tampa. Quase pularam em meu rosto, os bichinhos estavam apavorados. Tinham feito uma grande viagem, e por certo, não sabiam onde estavam!! E nem passagem pagaram!!
                           No mesmo dia fiz o motor funcionar, me apavorei pelo estado, um motor muito justo e afinado, nem velas troquei. A caixa de 4m era justa como se fosse nova. Decidi então, que antes de desmancha-lo, daria algumas voltas pela cidade com aquele carro.
No dia em que saí com ele para a primeira volta, improvisei um meio teto de lona na parte dianteira. Parece um daqueles Jipes de safari!! 

Um carro que não rodou 5000km, empilhado e sucateado. Tem cada história com estes dodges que fico até abobalhado!
                          Então acabei por fazer uma revisão geral no carro, suspensão e motor. Lavei bem o carro com escova e OMO, não foi nada fácil tirar o limo que estava impregnado na lata. Por dentro passei lava jato até nos bancos!! Bom, o carro estava limpo e regulado, pegava bem e o motor funcionava maravilhosamente. Fiquei abobado com o assoalho, depois de arrancar o carpete apodrecido, mal tinham alguns pontos de ferrugem. A cor bege chegava a querer ensaiar até brilho. Cada vez mais me sentia atordoado com o que tinha sido feito deste Dart
                       Porta direita, tenho ate hoje guardada, assim como o volante caramelo.






                          Bom, duas semanas depois, em um sábado de manhã, peguei o Dart conversível e fui passear no centro de Taquara, o carro até era bonito! Ridículo, mas bonito!! Muitas pessoas e amigos me acenavam, uns achavam horripilante outros sensacional! Certamente a frase, "Ame-o ou Deixe-o", se enquadrava perfeitamente a este carro.
                          Depois deste primeiro passeio, saí com ele em mais duas ocasiões pela cidade, depois, encostei na oficina. Não demorou muito vendi o motor do Dart para um cliente de Taquara. Foi colocado em um Charger R/T 1977, branco, do senhor Ivo Bauer. Este Charger foi tirado zero quilometro pelo senhor Ivo. Este senhor foi fundador da primeiras fábrica de fogões a lenha da região, os famosos "Fogões Três Coroas". Muitos anos depois, a fábrica de fogões do sr. Ivo faliu e o Charger foi vendido. O senhor Ivo Bauer morreu já fazem uns 10 anos. E, que eu saiba, o Charger está salvo, acho que em Caxias do Sul.
                        O meu próximo carro foi um Charger RT 1978 Vermelho Verona, que ganhei de presente do meu sogro, mas esta história eu conto na próxima postagem.
                         Abraço aos amigos!

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Ford Galaxie Landau 1979 azul

                   
                     Como contei na postagem anterior, a compra deste Galaxie talvez tenha motivado e dado início a grande paixão que tenho hoje pelos cachorros. Pois foi por ele que acabei comprando, e posteriormente me apaixonando, por um fiel amigo. Sentimento este que ao longo dos anos se tornou crescente em minha vida, não só pelos cachorros, mas por todos os animais.
                        Bueno, na primeira metade dos anos 90, bem diferente dos proprietários de dodge, existiam dezenas, talvez centenas, de proprietários de galaxies aqui na região, estes , ao contrários dos donos de dodge, tinham um poder aquisitivo alto. Estas pessoas amavam seus carros, e, naquela época, tinham uma relativa dificuldade em encontrar peças e mão-de-obra qualificada. 
                 Aos poucos comecei a agregar estes clientes a minha oficina, oferecendo serviços e, principalmente, peças! Coisa rara na época, e acredito ate hoje, uma pessoa que alem de consertar, tenha peças de reposição. Fato este, que mesmo hoje em dia, deva atormentar os donos de antigos e também das oficinas. Não bastasse a dificuldade em encontrar um bom profissional, existia a indisponibilidade de peças de reposição. Então, na verdade, o cliente unia o útil ao agradável. 
                          Bom, o pivô desta postagem, foi um médico aqui de Taquara, hoje falecido há uns 15 anos. Este, na sua época de ouro, havia adquirido um Landau 1977, prata continental, zero quilômetro. Após anos e anos com o carro, mesmo ele tendo os desgastes do uso diário, ainda era um carro impecável. Interior original e maravilhoso, pintura quase toda original , salvo pequenos retoques.
                           Por ser um carro de uso diário nos primeiros anos, acredito que entre 1977 e 1985, o Landau foi bastante usado. Como nestes anos de uso contínuo foi ganhando uma quilometragem bem alta, logicamente os problemas foram aparecendo. Na contra mão deste enorme uso, veio a carência de peças e também de uma boa oficina para sua correta manutenção.
                          Fato me relatado pelo antigo dono, que no inicio dos anos 80, o motor do galaxie apresentou uma falha crônica. Levado em diversas oficinas, ninguém conseguia resolver o problema. Passado um tempo, em mais uma tentativa,  este senhor levou o carro a outra oficina. Na mesma, foi informado que o motor precisaria retífica. Como dinheiro não era problema, foi autorizada a abertura do motor. 
                              Passado alguns dias , motor pronto, o proprietário foi chamado para levar o carro. Para resumir a história, que me parece, foi bem discutida na época, dois meses depois da suposta reforma, o bloco do 302 expulsou uma de suas bielas de dentro, ocasionando a quebra do bloco.
                   Não sei dos detalhes, mas  o que ocorreu na época, meados dos anos 80, acarretou em uma prematura e provisória aposentadoria do galaxie por seu proprietário. 
                           .  Passaram-se alguns anos e o galaxie parado na garagem do médico. Certo dia, lá por 1990, entra o médico na minha oficina. Depois de muita conversa, marquei de passar na casa do novo cliente para olhar o carro. Resumindo, alguns dias depois o famigerado automóvel voltava as ruas, belo e pleno como nunca. Usando um bloco de um Maverick V8 que eu havia comprado ano antes em um ferro velho, lógico, depois de feito.
                               Pensando nestas coisas hoje, eu vejo como é fácil ganhar respeito e credibilidade, logicamente, quando as duas partes envolvidas em um negócio seguem a risca suas obrigações, ou seja, o contratado executa o serviço assim como o contratante paga pelo tal. É fácil!
                                  Agora entra o meu galaxie da postagem de hoje! Tempos depois de fazer o motor e ressuscitar o galaxie , o médico retornou a usa-lo diariamente e também incorporou minha oficina como mão-de-obra exclusiva do galaxie. Assim, seguidamente aparecia para uma revisão. 
                                 No ano de 1993, o carburador do Landau apresentava uma grande corrosão interna, acho que pela adição do álcool à gasolina, então, após conversar com meu cliente, achamos conveniente  trocá-lo.
                             Naquele momento, carente de peças do galaxie, fui a cata de um carburador. Após falar com  pessoas do ramo, na época, me falaram de um senhor aqui da cidade, também proprietário de galaxie, que teria um à venda. Fui ate ele para tentar comprar o bendito carburador. 
                        Chegando lá, conversa vai e vem, este senhor me disse que tinha dois Landau, um 1983 de seu uso diário, e um 1979. Este último havia passado um ano antes por uma reforma. Mas, fato comum na época, a decepção do proprietário após o termino do serviço o fez abandoná-lo em um terreno baldio ao lado de sua casa. Na hora meus olhos brilharam pela possibilidade de uma nova aquisição. Como tudo nesta vida está traçado, comprei o galaxie.
                       Ele, aí ao lado do F600, anos depois da compra.

   
                      Depois de acertado o preço voltei a oficina. No mesmo dia, momentos depois, munido de algumas ferramentas, gasolina e bateria, fui resgatar o galaxie. Uma hora depois voltava a  oficina dirigindo  meu novo galaxie. 
                       De mão de um carburador, contatei meu cliente (médico) para na próxima semana colocar o novo carburador, ao qual, ate hoje, não sei seu paradeiro. Pois como já relatei na postagem anterior, foi roubado durante o final de semana. Bom, depois arranjei outro carburador para meu cliente, e no somatório final, ainda fiz um ótimo negócio comprando o galaxie, mesmo perdendo o carburador.           
                    Na próxima postagem Dodge Dart 1979 Bege Cashmere, com apena 5000km!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Um Dart Amigo

                            Esta é uma postagem um pouco diferente das tantas outras que fiz até agora, e também das que estão por vir.  Quero escrever um pouco sobre um grande parceiro que tive, me acompanhou por longos 16 anos, que eu tenha conhecimento, um recorde de longevidade.
                             Ao certo, teria que escrever sobre este meu amigo, na próxima postagem. A desta, seria um Galaxie Landau, azul, 1979. Mas como este amigo apareceu justamente por causa do Galaxie, conto uma postagem antes. 
                             Nossa amizade começou no ano de 1992, logo após ele ter nascido. Com não mais de dois meses de vida, mais precisamente em maio daquele ano, nos conhecemos e dali em diante nosso convívio passou a ser diário.
                         Hoje, vejo que o significado daquele encontro para o meu crescimento espiritual, foi algo muito maior do que representou naquela época. Aquele momento em minha vida foi como ultrapassar uma grande barreira, quebrar o paradigma do meu ser, subir um degrau, sei lá como explicar. Algo muito bom para o meu "eu" começou a mudar! Mesmo que, na época, sem minha exata percepção do significado! Claro que tudo lentamente, quase imperceptível! Tudo isto, exatamente um ano após eu ter mudado para o endereço da minha quarta oficina.
                             Naquele ano, 1992, a minha oficina era muito agitada, por vezes, tinham serviços saindo pela ladrão. Clientes eram vários, de muitos lugares do estado do Rio Grande do Sul. A dificuldade em encontrar peças facilmente era enorme, em contra partida, a oferta de dodges se fazia enormemente. Então, foi uma época em que eu comprava todos, ou quase,  dodge's que aparecessem na minha frente, não interessando o seu estado, comprava pelas peças.  Época em que algumas poucas delas poderiam valer mais do que um carro inteiro. 
                             Lembro que o feriadão da Páscoa daquele ano tinha caído no final do mês de Março, de noites já bastante frias. Tinha, na semana anterior ao feriadão, recém comprado um Galaxie Landau para desmanchar. O carro funcionava perfeitamente, tinha um bom motor, contudo o Galaxie havia passado por uma péssima reforma e seu antigo dono se desgostou tanto do serviço que acabou vendendo logo em seguida. Mas esta história eu conto na próxima postagem. Eu o comprei apenas porque precisava do carburador Motorcraft para um cliente, loucura, hein?? 
                             Bom, no finalzinho da quinta-feira, quase início do feriadão de Páscoa, terminei e entreguei alguns carros que estavam na oficina, tranquei tudo e fui para casa tomar um banho. Mais tarde, naquela mesma noite, iria na famosa "colheita da marcela", fato este, que já relatei aqui no blog.
                             Assim foi feito, a noite transcorreu maravilhosa, muita diversão e nada de problema. Como cheguei em casa alta madrugada, fui dormir. No outro dia, ou seja , na sexta feira santa, não fui até a oficina. No sábado ao chegar lá, o Galaxie Landau que tinha comprado para tirar o carburador estava com o capô aberto!! Fui olhar e .... putz, roubaram o carburador!!! Na hora fiquei puto da cara, tinham levado a única peça que eu precisaria na semana seguinte!!
                                                Aí que entra o meu amigo!
                            Alguns dias antes, um criador de cachorros de raça havia me oferecido um filhote de Rootweiller, na época, por U$300,00. Hoje acho que é caro, mas naquela época ninguém, ou quase ninguém, falava nesta raça de cachorros. Fui até lá, olhei a ninhada e peguei um. De cara, olhei para ele e disse:"-Tu parece um Dart, e este vai ser teu nome". 
Aqui já com uns seis meses de vida, no escritório da minha oficina na rua Humberto Castelo Branco, 2344. Minha mulher Valquiria segurando.
                                Bom, levei ele direto a um veterinário e pedi que fizessem uma "revisão geral".  Foram feitas todas as vacinas que ele tinha direito, em seguida levei meu novo amigo para seu novo lar, minha oficina. Na minha cabeça da época, ele seria um empecilho aos larápios de plantão. E não me enganei.
                                Criei este cara como um membro da minha família. Durante todo o tempo da passagem de nossas vidas em comum, por muitas centenas de vezes ele me fez sorrir, por algumas, me fez sentir pena, por outras raiva e, por apenas uma vez, chorei por ele! Assim, sucessivamente, me proporcionava sentimentos que normalmente só são afins entre seres humanos! Enfim, os sentimentos que tive por ele foram os mais variados possíveis. Exatamente como sentimos , as vezes, por qualquer membro da nossa família.
                              Este sujeito, tenho hoje plena convicção , foi um dos responsáveis pelo meu crescimento espiritual, como homem ser humano! Digo isto, pois, até então, antes de ter tido a honra de compartilharmos uma boa parte de nossas vidas juntos, eu, havia sido criado desde a infância, na companhia de cachorros, gatos, passarinhos e uma infinidade de outros bichos. Mas nunca antes sentido o apego humano que um animal pode nos proporcionar. A partir dele, comecei lentamente, a ver o mundo animal com outros olhos. Minha adorada e estimada Polara, que tenho o enorme prazer da companhia hoje, deve a ele uma grande parcela deste sentimento paternal incondicional que sinto por ela.
                                Bueno, conforme ele foi crescendo, também foi impondo seu respeito a todos que iam até minha oficina. Entre os meus clientes e amigos, também ele fez vários amigos, que ate nos dias de hoje perguntam. Houve uma época em que todas as quintas feiras à noite saia um churrasco lá na oficina. O Dart passava o tempo todo do evento amarrado em uma corrente, ao lado da sua casinha. Durante o churrasco, todo mundo, enquanto degustava um pedaço, dava outro para o Dart. Ele comia como um louco nas quintas. Acho até que nas quartas ele já sabia: "amanhã é dia de churrasco"!
Foto tirada no mesmo dia da anterior, no escritório da minha oficina
Nesta época, ele já era adulto, tinha uma cara de poucos amigo, mas era só a cara! Foi um grande companheiro que vivenciou uma boa parte da minha vida.
                             O tempo foi passando, nós dois ficando cada vez mais velhos, e amigos. Nunca mais notei que faltasse uma peça sequer em meu estoque. O amigo Dart me acompanhou e presenciou várias coisa junto comigo. Entre estas tantas, muitos dodges, conversas com amigos, conquistas, alegrias, angustias, tristezas, dinheiro, falta de dinheiro, e, também, a época penosa do guincho. Esta em que quase foi morto por assaltantes. "- Passamos trabalho naquela época, em meu velho??" 
                                 Enfim, tudo que se passou comigo, ele sempre ali, calado e ativo. Sempre louco por um carinho e um afago. O cara que formatou a frase "O cachorro é o melhor amigo do homem" estava coberto de razão, não tem outro igual.
                                 Certa vez, eu parado na frente da oficina, portão fechado,  o Dart pelo lado de dentro da cerca, praticamente escorado nela para ficar perto de mim,  de repente, um péssimo elemento parou ao meu lalo e largou um pérola "negativa", disse ele: "Se eu quiser, eu entro aí e mato este cachorro"!! Aquela frase, naquele momento,  foi tão inusitado que pensei ser um pesadelo!! Mas minha resposta a ele foi tão instantânea que ate mesmo eu me impressionei tempos depois!! Disse ao sujeito, quase imediatamente após sua afirmação: -"Não criei este cachorro para pegar ladrões, portanto, tu não precisas querer matá-lo para entrar aí. Quem vai te pegar se tu entrar aí sou eu, tu precisas ter medo é de mim, não dele! E outra coisa, se nos próximos meses esta oficina for arrombada, não interessa que foi, para mim foi tu. Então te cuida malandro!!" O sujeito me deu as costas e saiu fedendo!! 
                                 Anos depois, quando mudei para o endereço no centro da cidade, não pude traze-lo junto comigo, pois lá, já tinha um outro cachorro, da raça Fila (Magnum I). Então minha irmã Anelise, ficou com ele. O destino lhe foi tão generoso, que não poderia ter ganho um lar melhor. Até na cama ele dormia!! Foi tratado com pão-de-ló e mingau até o fim.
Minha sobrinha Marina coordenando a matilha. Da esquerda para a direita: Brenda, Duque, Dart. Foto tirada em Abril de 2004.
                                 No verão do ano 2008, no mês de fevereiro, dia de um calor insuportável, foi a vez em que, assim como agora, escrevendo estas linhas, colocou lágrimas em meus olhos. Digo com certeza e propriedade, sem sobra de dúvidas, naquele momento o melhor Dart que tive na vida, se foi!
                               Já estava quase cego, as patas traseiras quase não mexia mais. Morreu sem dar um gemido. Naquele dia, simplesmente se recolheu ao fundo de sua casinha e de lá não saiu mais.
                               O destino quis , que quem o achasse no seu último cantinho, momentos antes de sua morte, fosse eu! Dia de muita tristeza para mim. Foi um verdadeiro guerreiro! Por muitas vezes me protegeu sem ao menos pedir algo em troca. Muito mais que um cachorro, por inúmeras vezes, foi humano! 
                                 Meu amigo DART, dedico estas poucas linhas em tua homenagem!

                                 Na próxima postagem conto sobre o Galaxie Landau 1979 Azul