quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Galaxie Landau 1979 azul - Galaxie LTD 1977 marrom

                                                    Esta postagem é à pedido.
                           Por mais que as pessoas tentem imaginar a relação que tive, e tenho até hoje, com os dodges durante os trinta e poucos anos que passaram, acho improvável, e, até mesmo impossível, que alguém vislumbre a real dimensão disto na minha existência.
                         Durante este tempo todo, que pode até ser considerado por muitos um ciclo da vida, quando paro e peso a co-relação Dodge(automóvel) e Peças Dodge (Mopar), a gangorra despenca e se torna infinitamente desproporcional!! Mesmo quando  imagino o tanto de carros que passaram por mim, inclusive os de clientes, as peças, tiveram um peso muito maior, alem do imaginável!
                            Quando ponho a cabeça para funcionar, e tem de ser muito para escrever aqui, e começo a lembrar do que passou entre as minhas mãos, me dá um misto de alegria, saudade e até tristeza! Digo isto pelo que foi a abundância nos anos passados. Exemplo não raro é quando hoje estou fazendo algum serviço qualquer e preciso de um parafuso, seja ele qual for, vou a procura deles em diversos vidros, baldes e latas que os coloquei no passado. Ali nestes recipientes, assim como parafusos diversos, ainda dormem verdadeiras preciosidades (para mim) em termos de dodge.
                           Conforme vou catando os parafusos que preciso, sem pensar, automaticamente vou separando alguns que por ventura vão aparecendo, aos quais, sei exatamente os seus lugares de origem no dodge. Isto é automático, sem pensar, minha mente age como se fosse um robô! Pode parecer engraçado, ou até mesmo doentio, mas é exatamente assim que eu faço. No final, acabo encontrando dezenas de parafusos do dodge, antes mesmo dos quais eu realmente preciso. Ocasionando um trabalho extra de limpa-los,  cataloga-los e posteriormente guarda-los. Que no final se torna um... exaustivo prazer!!






                              Toquei neste assunto fútil dos parafusos para que vocês consigam entender, de um modo simples, o que quero realmente dizer. Hoje, eu guardo tudo, tudo mesmo do dodge! No passado, a coisa era tão desvairada e absurda, que muitas e muitas coisas boas foram descartadas, até como lixo!! Houve uma época que somente tinha valor algumas peças do carro, acho que assim deve ser hoje em um ferro-velho normal, quase tudo vai fora. Só o que interessava eram algumas peças, muitos acabamentos como frisos principalmente, foram literalmente jogados fora.
                            Exemplo gritante disto aconteceu entre meados dos anos oitenta e os de noventa. Eu joguei muita coisa fora, principalmente nas mudanças de endereço da oficina. Uma vez, que lembro bem, foi quando precisava esvaziar um dos meus depósitos, na época falei com um amigo que trabalhava com sucata, ele foi até lá e olhou a quantidade de coisas que tinha para levar, se apavorou!!! Me disse que não tinha como levar, então me passou o telefone da siderúrgica  que ele revendia para que eu vendesse direto.
                            Assim foi feito, a empresa passou um dia inteiro carregando peças, ferragens, carcaças de carros e muito mais!! Coisa que agora eu nem gosto de lembrar. Ao final daquele dia, tudo pesado na balança, foram 16 toneladas de sucata!!! Sucata na época, hoje, ouro!! Naquela vez, se não me falhar a memória, somente de monoblocos de Charger, foram 7!! Darts mais um tanto, Galaxies uns 3 ou 4 e um Maverick V8. Meu Deus!!
                            E apesar de tudo isto, mesmo as peças sendo desordenadamente vendidas a quilo, ainda sobravam milhares de coisas. Na época existiam peças invendáveis, que, inclusive os lixeiros não levavam!! Algumas, por estarem em perfeito estado, fiquei com pena de colocar fora, outras dei de presente para desocupar lugar. Pensando nos dias atuais, o troço foi fenomenal, e ao mesmo tempo assombroso!!
                           Na metade dos anos noventa a palavra, ou melhor, o nome Dodge, significava quase nada, era um bem desprezível para quase totalidade das pessoas. As minhas peças poderiam ser consideradas quase lixo. Na verdade valiam exatamente o quanto pesavam, em quilo!! Inúmeras foram as pessoas que me achavam louco, outras indagavam incrédulas de o porque de guarda-las!! Muitos não acreditavam como eu conseguia dar conta dos meus encargos, e não estavam errados!! Minha liquidez financeira era péssima!! Mal e mal conseguia pagar as contas.
                           Mas, quase sempre nadando contra a correnteza e contra a opinião de todos, assim mesmo, guardei alguma coisa, não tem explicação coerente para isto que não o destino!
                          Aí, naturalmente, aconteceu uma coisa que hoje não sei se me mato, dou risada ou choro, foram as múltiplas utilidades que encontrei  para algumas das benditas peças. Como não valiam nada e também não era nada fácil vende-las, acabei achando destinos engraçados para várias delas. Algumas adaptei em outros carros, outras fiz coisas (bem) diferentes.
                            Que lembro agora, por exemplo:  
                            Polias do motor viraram pés de abajur - Eixos cardan que viraram cambão para rebocar carro (e como rebocou este cambão) -  Capô de Dart que virou mesa - Barras de torção da suspensão dianteira viraram divisórias da churrasqueira para colocar espetos -  Travessas do chassi do galaxie viraram vigas de paredes ( Minha irmã Anelise tem dois chassi de Galaxie dentro das paredes na casa dela.) - Diferencial de Dodge completo, virou eixo de reboque -  Feixe de molas traseiro, reboque também - Tecido dos bancos do Magnum, viraram chaise ou chesi, não sei ao certo, e sei lá quantas coisas mais eu fiz com peças de Dodge e Galaxie








Ainda hoje o reboque da esquerda tem diferencial completo, inclusive caixa satélite com coroa pinhão

                            E assim por diante, várias foram as utilidades encontradas na época. Loucura?? Hoje acho que sim, mas no passado o lixo virou utensílio doméstico, e até de construção! Por isto dou tanta importância para elas nos dias atuais, coloquei muita coisa fora, mas muito do que sobrou foi a duras penas. Tenho quase certeza de que outra pessoa não teria guardado nada!  
                                       
                        Vinte anos atrás, tinha um cliente que a tempos tinha um Landau 79 para restaurar, claro, estou falando no início dos anos 90. O carro foi comprado por ele naquela época em estado digamos ruim, por um preço irrisório. Este cliente, desde que o tinha comprado nunca havia dado sequer uma volta, o Landau estava parado em um galpão a alguns anos, aguardando a hora de ser reformado. Neste tempo todo em que o galaxie estava parado, este senhor e eu mantínhamos tratativas na restauração do carro.  Mas o tempo foi passando e acabamos por nunca chegar a um consenso, principalmente em vista do preço que eu lhe havia pedido para a realização de tal serviço.
                      Durante um bom tempo, este cliente comprou peças e mais peças de reposição do galaxie, inclusive minhas, as quais posteriormente iria usar quando chegasse a hora da reforma do carro. Comprava e guardava tudo em uma garagem, queria que quando iniciasse a reforma, não precisasse comprar muita coisa.
                      No decorrer deste tempo, entre muitas coisas, vendi a ele uma frente inteira de um galaxie. Para-lamas dianteiros, três portas, para-choques, frisos e mais uma infinidade de coisas.
                      Chegado o dia que resolveu iniciar o serviço, e como não nos acertamos no preço da reforma, ele contratou os serviços de uma outra oficina e levou o galaxie para lá. Nos meses em que o carro estava sendo feito, o meu cliente seguidamente vinha até minha oficina para pegar algumas peças e me contar como o serviço andava.
                 Durante as periódicas visitas que me fazia, meu cliente perguntava certas coisas. Vim a saber mais tarde, que ele estava descontente com o andamento do serviço. Perguntava coisas básicas para tentar entender se o funileiro que tinha contratado estava no caminho certo. Acreditem, eu sempre saindo pela tangente. Afinal, ninguém gosta que outros falem da gente, ou questionem o nosso serviço. Então, sempre procurei me abster de certos comentários. Para piorar as coisas, algum tempo depois fiquei sabendo que esta oficina que meu cliente havia contratado, era de um cunhado seu.
                       Passaram-se meses,  mais de um ano, e o carro não ficava pronto. O meu cliente estava para lá de desgostoso. Chegando ao ponto dele vir na oficina só para falar mal do cunhado e dizer que se arrependimento matasse, ele estaria morto. Que quem deveria ter feito o serviço, era eu. Eu, modéstia a parte, tentava apaziguar o ânimo dele, nunca fui de colocar "mais fogo em lenha seca". Até porque, se eu falasse coisas que não deveria, poderia sobrar para mim. Sabem como é! Eu falo de outra pessoa para alguém, este alguém vai lá e diz que eu falei dele, e tudo vira uma bagunça! Tô fora!
                        Bom, resumindo a história, passados quase dois anos depois de iniciada a reforma do galaxie, meu cliente retirou o carro da oficina do cunhado. O primeiro lugar em que ele foi com o carro "pronto", foi na minha oficina. Fiquei de boca aberta com a qualidade da reforma, sem dizer muita coisa, mas horrorizado!! Teria sido muito melhor se o landau não tivesse sido restaurado. Como estava antes, estava melhor. Não precisei dizer nada disto para meu cliente, porque qualquer pessoa, por mais leiga que seja, via o péssimo serviço. O carro tinha ficado um lixo!
                         Bueno, era visível o descontentamento do meu cliente. Passado mais um tempo, um ou dois meses, ele retornou a minha oficina oferecendo o landau. Tinha se desgostado a tal ponto, que queria me dar o carro pelo preço que fosse. Acabei comprando o galaxie pelo mesmo valor que meu cliente tinha pago três anos antes, sem correção ou ágio algum. De lambuja, comprei outro galaxie, um LTD, que ele havia comprado um ano antes para tirar peças para o landau. Portanto, comprei os dois galaxies.
                       Acreditem, o LTD, que era para tirar peças, era mais bonito que o landau reformado. Por isto eu digo sempre, as vezes um carro original bem surrado, é muito mais inteiro e bonito que um mau reformado.
                           Procurei agora à tarde lá no meu depósito de latarias se achava algum resto mortal destes dois falecidos, achei apenas um pára-lamas. Como não tirei fotos deles, fica em branco. Segue algumas que tirei hoje.












                          Na próxima postagem Landau 1982 Azul claro