sábado, 21 de setembro de 2013

Dodge Gran Sedan 1977 Branco Valência

                      Minha vida hoje tem uma rotina diária quase cronológica, principalmente agora que trouxe uma parte das minhas tranqueiras aqui para casa! Salvo em um caso excepcional, na parte da manhã não saio mais de casa, almoço ao meio dia e em seguida tiro uma pestana. Na parte da tarde vou ao correio postar minhas vendas, saindo dali vou direto para o café na casa dos meus pais, este sim, é obrigatório, todos os dias, eu adoro e não troco por outro programa!
                      Nesta semana que passou, durante um destes cafés, não lembro bem como, mas o assunto que entrou em "pauta" remeteu ao dia 03/05/1986, foi um sábado de muito sol, que jamais esquecerei!   
                     Naquela época eu também tinha uma rotina, mas muito diferente da de hoje. Passava a semana toda trabalhando, estudando e... saindo todas as noites, sem exceção, com os amigos. Era uma vida folgada, apesar da chatice obrigatória de ir à faculdade!! 
                      Bom, apesar de tudo de chato que o dia apresentava, logo que caía a noite, o prazer da companhia dos amigos vinha como um elixir da felicidade. Por mais que eu possa rir e me divertir nos dias de hoje, jamais chegará aos pés daquela época. Barrigadas de risos adolescentes! Pensando hoje, aquilo era surreal! Na época era corriqueiro e tão comum que não parava para pensar que um dia aquilo tudo iria acabar. A vida de cada um de nós, seguiria um rumo diferente, cada amigo seguiria um destino alheio ao outro, teriam suas próprias famílias, seus filhos, suas esposas e mesmo que para melhor, ou pior, tudo muito diferente.
                         As vezes eu pergunto a mim mesmo: Como aquela turma se aturava todas as noites?? E sempre com novidades para contar um ao outro?? É inexplicável!!! Era como um casamento de várias pessoas, que trabalhavam o dia e se encontravam à noite, e pior, ou melhor, sem brigas! Só, e, exclusivamente, parceria e alegria! Provavelmente o céu seja assim!  
                        Bom, naquela semana, durante um dos encontros noturnos, combinamos de todos irmos à praia de Xangri-lá no sábado, vejam bem, para jogar taco na beira de praia! Que coisa absurda!! Eu como sempre andava pela "bola 8" em casa, não confirmei que iria. Por mais que eu tentasse andar na "regra", e achava que andava, meu pai não achava!! Portanto, apesar de fazer exatamente o que eu queria e tivesse vontade, eu tinha certas limitações!! kkkk Até porque eu morava na casa deles, e sem dúvida, tinha que seguir as regras, ou ao menos tentar. Talvez se meu pai não tivesse agido assim comigo naquela época, eu não estaria aqui escrevendo hoje.   
                            A semana foi seguindo e eles (meus amigos) fazendo planos para o final de semana, eu só escutando e me mordendo de vontade de ir junto. Eles contando certo da minha ida nem tocavam no assunto. Na sexta à noite afirmei para eles que não iria na manhã seguinte, a coisa tava pesada lá em casa!! Tinha prometido para o meu pai que ajudaria ele em certos afazeres e não "poderia" negar! Todos caíram de pau em cima de mim: "Tu vai, tu vai...! Mas não tinha como, 
                             Todo sábado de manhã minha rotina era ir ao centro da cidade, e naquele, não foi diferente. Fui e encontrei alguns conhecidos, conversa vai, conversa vem, me perguntaram: "Cadê tua turma??"Contei à eles que aquela hora meus amigos já deveria estar na beira do mar, jogando taco e dando muita risada!! Um destes "animais" que estava comigo naquele momento disse: "Vamos prá lá?? Eu disse, não posso!! Tenho certas coisa por fazer que são importantes."
                                Um pouco depois fui para casa, chegando lá só encontrei minha irmã mais nova e perguntei por nossos pais.  Tinham saído e só voltariam à tarde!! Pensei... vou pra praia jogar taco!!!! Voltei ao centro, re-encontrei o camarada e falei, vamos!!! Partimos rumo a felicidade!!
                               Cerca de duas horas depois estávamos todos na beira da praia, o jogo rolando e as conversas fluindo normalmente. O dia passou e lá por volta das 16hr disse ao pessoal que tinha de voltar. Lembro como se fosse hoje, eles clamaram, veementemente, para que eu ficasse lá e voltasse no domingo com eles. Eu só pensando nas consequências, saí sem avisar, e dormir fora de casa?? Impossível!! 
                                Mas, certos ou não, meus amigos estavam cobertos de razão, explico porque: A nossa turma toda, não bebia, não fumava, por mais que possa não parecer, eramos todos ótimas pessoas. Apenas queríamos  nos divertir sem compromisso ou responsabilidade alguma. Em contra partida, o sujeito que tinha me levado, ou seja, que fui de carona até Xangri-lá, era um tomador de trago ao extremo!!! Bebia como uma esponja! E naquele momento já era visível sua embriaguez. Meus amigos, temendo pela minha integridade, pediam para que eu ficasse. Eu não podia ficar.
                                   Segui viajem de volta! Na saída da cidade, o elemento parou o Passat eu que nós estávamos em frente um bar, desceu, e em seguida voltou com uma sacola onde tinham umas dez garrafas de cerveja. Eu, muito cabeça oca na época, não falei nada! Ao invés de pedir a direção e voltar tranqüilo, deixei ele dirigir. 
                               Bom , a viagem foi tensa, ele tomando aquelas cervejas no bico!! Após a garrafa estar seca, atirava-as  pela janela!!!!! Isto não podia terminar bem... e não terminou!!
                                Quando chegamos na divisa de Osório com Santo Antônio da Patrulha, em uma reta, apenas separadas por aclives contrários, ou seja, nós subindo de um lado, um caminhão subindo de outro, em sentido contrário, inevitavelmente nos cruzaríamos sem problemas. Tudo seria normal se um bendito Chevette não estivesse ultrapassando o caminhão, ou melhor tentando ultrapassar o caminhão! Deu a lógica!! No topo da lomba o encontro foi inevitável!!!
                                 Meu companheiro na direção, cheio de trago, não teve perícia, reflexo, ou seja lá o que for, para desviar nosso carro para o acostamento. Daria tudo certo, não fosse o maldito trago! O estouro foi grande!! Lembro nitidamente o ocorrido. Eu não acreditei na batida até que aconteceu, era um dia quente, estava com meu braço para fora da janela no momento do impacto, e sem cinto! 
                         Resultado?? Voei como um foguete em direção ao pára-brisa, o Húmero do meu braço direito foi estilhaçado pela ventarola e coluna do teto do Passat, minha cabeça quebrou o pára-brisa e não voei para fora do carro porque meu braço segurou!! Que momento!!! Após o impacto lembro nitidamente minha tentativa de sair do carro, quando tentei usar minha mão direita para abrir a porta, ela não respondia. Daí percebi, entre o sangue que jorrava da minha cabeça, meu braço destruído!!
                            Usei minha mão esquerda para acionar o trinco da porta e com o pé chutei ela para poder sair. Neste exato momento apareceu um senhor, agricultor, que roçava uma terra ao lado do acidente. Ele olhou para mim muito assustado, eu ao olhar para ele perguntei: "Como estão meus dentes?? Não sinto nada!!" Ele respondeu: Não sei, só vejo sangue aí dentro, mas não te preocupas, está tudo bem!!"
                            Naquela hora pensei que tinha quebrado todos eles, pois passava a língua pela boca e sentia  muitos caroços, aos quais achei, fossem meus dentes, todos quebrados, mas na verdade eram cacos de vidro!!! Imediatamente encostou um carro ao nosso lado, um Monza, eu acho, não lembro, tinha uma família dentro. O homem na direção desceu, me segurou, pediu que a esposa sentasse no banco de trás com suas crianças, e me conduziu ao banco do carona. Só lembro dele dizer, vem amigo, vou te levar para o hospital. Minha cabeça não parava de sangrar, literalmente jorrava sangue!! Disse à ele, não!! O teu carro vai ficar encharcado de sangue!!! Ele nada respondeu e eu sentei no carro. Lembro que imediatamente coloquei minha cabeça entre as pernas para que o sangue caísse apenas dentro do tapete, e assim foi até chegarmos ao hospital de Santo Antônio da Patrulha. 
                              Em frente ao hospital, antes de descer, olhei o tapete do carro, tinha muito, mas muito sangue. Meus tênis estavam vermelhos, encobertos!! Desci do carro quando já vinha uma enfermeira empurrando uma cadeira de rodas, à qual logo sentei. Olhei para o homem e agradeci: Muito obrigado!! Nunca mais vi esta pessoa, nunca tive a chance de rever este HOMEM, agradecer de uma forma correta o que fez por mim! Talvez ele ou algum familiar leia o que estou escrevendo agora , quero lhe dizer que minha gratidão é, e será eterna!!
                             Fui atendido por um médico plantonista, um castelhano, pois falava engraçado. Me deitaram em uma maca, me entupiram de injeções, até na testa, imobilizaram meu braço e costuraram todo meu rosto! Depois disto feito, me deixaram sozinho em uma sala, fria e escura! Pavoroso!! Algum tempo depois apareceu o médico me perguntando como estava, respondi que bem, só que com muita dor. Implorei à ele para engessar meu braço e me mandar pra casa!!! Ele respondeu, com naturalidade: SÓ DEPOIS DA FACA!!! Quase tive um troço!! Pensei, tá tudo perdido!!! Que vou dizer ao meu pai????????
                                 Algum tempo depois, não sei quanto, apareceram lá minha irmã Anelise e meu cunhado Ronaldo, me olharam e suas caras de espanto eram visíveis!! Perguntei pelo pai, minha irmã disse: Tá aí fora, apavorado!!!! Chorei naquela hora!
                                 Uma hora depois fui transferido daquele hospital para o de Taquara. Lá fiquei por exatos sete dias, saindo no sábado seguinte. Saldo da história, uma placa de platina de 12cm  no Húmero, 6 parafusos, 12 pontos no braço e 72 no rosto, e por incrível que pareça, todos os dentes!!. Mas voltei para casa, onde não devia ter saído no sábado anterior.  Obrigado pai, por tudo e ... desculpe... por tudo!

                                 Alguns dia atrás procurando algumas peças no enorme depósito que tenho na casa do meu pai, achei uma caixa toda empoeirada, dentro, cheio de manuais de proprietário!!  Estes, não tenho a minima ideia de como e quando eu os coloquei lá. Folhando alguns, achei interessante o lugar de onde alguns saíram, até de bem longe daqui. Trouxe tudo pra cá e coloquei junto à outros que já tinha aqui. Segue algumas fotos de alguns deles.












                     Este Gran Sedan da postagem da hoje, não sei se cheguei a andar com ele mais do que algumas voltas. Comprei, quase por obrigação, de um sujeito da cidade de Parobé. Comprei para desmanchar, mas no fim ele acabou ficando por anos no pátio da casa do meu pai. No fim não piquei e vendi para outra pessoa Me admiro até que tirei fotos.







                     O preço?? Tenho aqui anotado: data da compra 01/08/1992, valor $1.000.000,00 (Um milhão ( de cruzeiros??) = US$ 215,00
                        Na próxima postagem Galaxie Landau 1979 azul e Galaxie LTD 1976 marrom, comprados juntos, do mesmo dono no mesmo dia!