quinta-feira, 17 de maio de 2012

Dodge Charger RT 1978 Bege Indiano (Branco)

                     Tem alguns carros que nascem predestinados a sofrer, ou digamos, serem maltratados por seus donos. Acabam caindo somente em mãos de gente que não lhes dá o devido valor, um após outro. O caso deste Charger Indiano foi um deles. Lembro deste Dodge quando apareceu aqui em Taquara, quase novo!  Carro de extrema beleza, ímpar, na vasta gama e cores que existiram!
                     Logo que apareceu aqui por estas bandas, isto se falando em final dos anos 70, em poucos meses de convívio com a cidade, já levou uma grande batida na traseira. Ná época seu atual proprietário não tinha garagem e o deixava  estacionado em frente a sua casa.  Uma rua de razoável fluxo de veículos, quando, certa vez, foi abalroado por outro carro. O estrago foi significativo, entretanto, alguns meses depois retornei a ve-lo rodando. O tempo foi passando e o Charger se desmanchando ao relento, em pouco tempo nem de longe lembrava o Charger RT que eu tinha visto pela primeira vez.
                     Certo dia ele apareu na minha oficina para uma revisão. Saí com o dono, que já não era mais o mesmo em que  vi o carro pela primeira vez para uma volta e me apavorei. O carro estava extremamente chacoalhado e barulhento. Ao chegar na esquina da oficina, quando pisei no freio, quase subi com o charger na calçada. O carro simplesmente se atirou para o lado. Na hora falei para o dono do carro, que estava ao meu lado: "-Tem alguma coisa errada, isto não pode ser só o freio!! Dito e feito, parei o carro , deitei por baixo e de cara vi que um dos tensores da balança estava quebrado!! Logicamente, ao pisar no freio, a balança inferior jogava violentamente! Agora eu pergunto, como um cara andava com um carro assim??
                     Bom, o dodge passou uma semana na oficina, foram várias as arrumações feitas até que o carro ficou razoavelmente bom. Quando o cliente veio busca-lo, saímos para uma volta, ele se surpreendeu com o resultado de uma semana de oficina. O proprietário disse que o carro estava assim desde que o tinha comprado e já teria se acostumado com os defeitos. Fiquei de boca aberta com as declarações dele. São nestas horas que eu entendo perfeitamente o porque de tantos dodges teram sido desmanchados nas décadas passadas. Pouquissimos proprietários arrumavam os carros, eles andavam até o carro desmanchar e aí atiravam no ferro-velho, quase a mesma coisa que acontece hoje com os Neon e Stratus.
                       Este novo cliente ficou com o Charger por volta de um ano e meio, depois vendeu e não vi mais o carro por alguns meses. Um domingo à noite, estou dando uma volta pela RS115, perto da cidade de Gramado, vejo o trânsito parado por causa de um acidente. Estaciono meu carro e vou olhar. Quando chego perto, vejo o Charger bege com a frente desmanchada em um barranco. Cheguei perto, confirmei o Charger Inadiano,olhei o estrago, e pensei: "-Primeiro levou uma porrada na traseira, agora na frente...Este já era!" Voltei ao meu carro e fui embora.
                      Meses depois,  aparece na oficina um novo cliente, morador aqui da cidade, com um Charger RT 1978, branco, muito mal pintado e cheio de massa plástica!!Um legítimo dodge italiano!! O cara me deixou o carro para um revisão e foi embora. Durante o tempo em que o carro ficou comigo, notei que a tinta , apesar de nova, já descascava em certos cantinhos, e a tinta que aparecia por baixo era de cor bege. Fui conferir a plaqueta do carro, NT-2, Bege Indiano!!
                      Uns quinze dias depois, quando o dono veio buscar o Charger, entre uma conversa e outra, lhe perguntei a quanto tempo tinha o dodge. Este me respondeu que praticamente ainda não havia andado com o carro, pois tinha comprado já à alguns meses, mas o dodge estava em reforma. Me disse que o antigo dono tinha se acidentado na estrada de Gramado, e como na época o carro estava com os documentos atrasados, foi guinchado pela polícia. Então, viu o carro preso no depósito e foi tirar informações. Descobriu onde o dono morava, negociou o dodge e mandou pinta-lo de branco!! Então contei a ele a trajetória passada que eu conhecia do carro, desde que apareceu aqui por Taquara, praticamente novo!!
                       Passados mais alguns meses, este dono do dodge o vendeu para um sujeito da cidade de Parobé. Este novo proprietário, colocou várias faixas adesivas no carro, nada original!! Mandou fazer uns adesivos pretos "Charger RT", e colocou nas laterais das portas. Rebaixou bem a suspensão do dodge e mandou pintar todos os frisos do carro de preto fosco!
                       Meses depois, apareceu também este na minha oficina. Olhei e de imediato reconheci o pobre coitado e sofredor Charger Indiano, que por sinal, é minha cor prediléta do 78!! Conversamos um pouco e este me disse que precisava trocar o motor do dodge, pois o dele, estava queimando muito óleo. Então, lhe ofereci um dos motores que eu tinha em casa, na troca do dele. Fechamos negócio e ele me deixou o carro para fazer a troca. Alguns dias depois veio buscar o dodge e lembro que ainda comentei com ele que deveria levantar um pouco a suspensão, o carro estava baixo demais!! Mas, não quis saber e foi embora!
                        Algum tempo depois, o sujeito tinha me ligado para combinar um novo horário e fazer mais alguns consertos no carro. Na hora marcada, o cara não apareceu. Passadas umas duas horas, o sujeito apareceu na oficina a pé. Entrou esbaforido portão à dentro. Perguntei o que houve e o mesmo me disse que bateu a parte de baixo  do carro em um paralelepípedo, deu um estouro tremendo e o carro não andou mais, motor ligado, mas não saia do lugar. Ele achou que tivesse quebrado a caixa de câmbio.
                         Fomos até lá e reboquei o carro pra oficina. Chegando lá, levantei o dodge no macaco, e de imediáto vimos que o carter seco, da embreagem, tinha um grande amassado. Soltei os parafusos e quando tirei a tampa, percebemos o volante (cremalheira) do motor pendurado!! Tinha quebrado o gargalo do virabrequim na batida!
                        O amigo desanimou!! Só me olhou e disse: "-Tu me avisou, né?? Não posso reclamar". Bom, o jeito foi tirar o motor e trocar o virabrequim. Alguns dias depois o carro estava pronto novamente.
                        Alguns meses depois, este cliente vendeu o carro para outra pessoa e perdi o contato com o dodge, por pelo menos um ano. Até que certo dia, voltando de Novo Hamburgo, vejo de relance um dodge para venda em um picaretas de carro, na beira da RS239 em Parobé. Estaciono e vou dar uma conferida no material. O dodge estava jogado em um canto, aparentemente à meses, ao relento! O coitado parecia estar esperando algum ferro-velho ir recolhe-lo. Com seus pneus murchos, mato crescendo em sua volta, a pintura toda arranhada e descascada, mas... Era o Charger Indiano, novamente me chamando!!
                       Pensei, este vai junto comigo hoje! O picareta já estava ao meu lado, enaltecendo as qualidades do carro etc,etc! Aquelas coisas nojentas que eles falam pra todo mundo e de qualquer carro!! Pedi a ele que me falasse qual o valor do carro, mas este, só o que falava era que o carro era maravilhoso, o carro é uma jóia!! Então pedi a ele que queria ver o carro funcionando. O homem para de falar e disse que o dodge não pegava porque o motor de arranque estava estragado, mas o carro era sensacional!! Eu quase vomitei nele!!
                        Perguntei-lhe o preço e imediatamente lhe fiz uma contra-propósta. O picareta nem pensou muito e aceitou! Claro, pois ele mesmo sabia que qualquer valor seria ótimo pela venda daquele carro, que... nem mesmo funcionava!!!
                        No mesmo dia peguei um cambão e reboquei o Charger Indiano para minha oficina, que de lá, nunca mais saiu!!    
 Foto tirada alguns dias depois que comprei o carro, ainda inteiro, com excessão da porta, que já tinha vendido. Alguns meses depois, o carro já não existia mais.
                      Na próxima postagem Dart de Luxo, 1975 Branco Valência