segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Dodge SE 1975 Amarelo Montego

      
                  A bastante tempo, mais ou menos uns dois anos, iniciei a minha última (espero) mudança. Na época ela começou  lenta, demorada, mas aos poucos fui agilizando. Hoje está rápida e extremamente organizada. E não poderia ser de outra forma, pois pela quantidade de peças que tenho se não houver muito empenho na organização, quando precisar de alguma coisa nunca mais vou achar nada. Nos últimos anos, me dei ao trabalho de catalogar até os mais irrelevantes parafusos, arruelas, molas, pequenas chavetas, tudo, tudo, tudo. Não há um só parafuso de dodge e galaxie que não esteja catalogado, e que eu não saiba onde ele esteja guardado e, logicamente, onde é seu local de origem, ou seja, no carro!
                     Bom, como o tempo passa rápido demais, exatos dois meses atrás estipulei uma meta!! Me dei um prazo, que expira no final deste ano! Então comecei efetivamente minha mudança. Quero, não por vontade, mas por necessidade, virar mais uma página da minha vida. Deixar para trás uma outra parte da minha história, e definitivamente, mudar o endereço das minhas peças, ferramentas, carros e tudo mais.
                      Nestes meses que passaram, carregando peças, organizando coisas, mexendo em tudo que ha muito tempo não via, papeladas guardadas, enfim, coisas esquecidas do meu passado, por vezes, vendo tudo isto, meus sentimentos se alternavam. Entre o prazer de levar minhas coisas para o definitivo local em que a muito tempo sonho, ao mesmo tempo, pensamentos me atormentam por saber que mais um ciclo da minha  história está morrendo! Neste endereço que estou deixando, tive momentos de grande prazer, alegria e felicidades!  Outros angustiantes e tristes! Mas... tudo...os bons e os maus... já me deixam saudade.
                    Por vezes, um peso no peito, um sentimento de perda! Não do material, mas do sentimental, espiritual, do que não é palpável as mãos, mas sim aos meus mais íntimos pensamentos. Coisas banais, do dia a dia, mas que  certamente, em determinado tempo futuro, voltarão com força impiedosa, aflorando meus pensamentos. Posso sentir desde já a saudade vagando em minhas lembranças. E sei que não voltam mais. Que só virão a tona em momentos como este. Aflorando sentimentos desagradáveis de perda do que passou e não vai voltar...
                Segue algumas fotos para recordar deste abençoado local, tirei por estes dias, limpando e organizando algumas peças.





                 
Ao todo, nestes dois meses, já foram 14 cargas como esta. Ainda não cheguei na metade mas tenho fé que estou no prazo.







Este é o destino, espero conseguir acomodar tudo, com organização!







Portas Ok ano 80/81

                        Sábado passado, dia  01/09/12, começava a cair a noite quando voltava para casa com mais uma carga de peças. Não sei porque, mas mudei o trajeto e passei por uma rua diferente da de costume e... encontro uma antiga turma de grandes amigo bebendo em um bar. Quando me viram, gritaram e imediatamente parei. Entre eles estava um grande parceiro das antigas, que não via a muitos meses, meu amigo Chico. Já falei sobre ele aqui, além de muito meu amigo, grande parceiro do passado no resgate de alguns dodge's entre outras "indiadas"!
                         Quase não preciso dizer que o assunto foi Dodge, Cherokee e... o blog!! Tudo mundo tinha um causo pra relembrar e a conversa virou em gargalhadas. Junto na turma estava o André Pezzi e o Conho! Todos os três estavam presentes na história do Maverick GT. O André me perguntou quando eu iria contar a história do Charger Riviera 77. Ansioso, ele queria ler e lembrar das noites de loucuras que fizemos com aquele carro. Disse que já tinha postado a história e, conversa vai e vem, ele mesmo me fez lembrar de um fato que não contei naquela vez.
                         "Certa madrugada dentro do Riviera, eu e o Paulão na frente, o André, o Chico, o Conho e o amigo Giovane sentados no banco de trás. Estávamos indo a uma boate na cidade de Igrejinha Todos nós a bordo do 77 "laranja". Eu baixando a lenha e voando baixo pela estrada vazia. De repente iniciou uma gerra dentro do carro. Eles tinham arrancado umas pequenas sementes de uma árvore quando nós estávamos no centro de Taquara e encheram os bolsos. No meio do caminho começaram a atirar aquelas bolinhas, um na cara do outro. Virou um caus dentro do carro. Eu pisei fundo no dodge, tudo que dava! Apaguei os faróis e falei que aquela era  a minha resposta pelas bolinhas que estava levando na nuca. A noite era muito escura, foi quase suicídio coletivo. Na grande reta que existe entre Taquara e Igrejinha, naquela madrugada do final da década de oitenta, voava baixo, planava sobre o asfalto gelado, um dodge sem farol, com seis malucos dentro. Quando liguei as luzes, todos olharam para o painel, o ponteiro estava cravado nos 200Km/H. Param de tocar bolinhas!!!!"
                            Depois desta, levantei da mesa e fui pra casa. Passei a noite toda pensando nos antigos amigos, nas coisas do passado... As pessoas, os verdadeiros amigos, são o que realmente importa nesta vida. Grande abraço para todos e espero poder encontra-los com mais freqüência!
    
                       Que eu lembre, nas décadas de 60, 70 e 80, existiam centenas, ou até milhares de circos espalhados pelo Brasil. De tempos em tempos aparecia um, ou até mais, e se instalavam aqui na minha região. Naquela época, dentre as atrações maiores destes andarilhos, além dos palhaços, estavam os animais que eles possuiam. Estes eram ensinados e obrigados a fazerem diversas coisas para atrair o público. Entre eles, os que mais se viam eram Leões, Onças, Elefantes, Girafas e Macacos. Pelo menos são os que lembro agora.
                   Bom, agora vem onde queria chegar. Para a logística de toda a parafernalha que envolve um circo, estes nômades precisavam de carros fortes, confiáveis e de pouca manutenção. E o carro escolhido por eles não poderia ser outro que não fosse os nossos  Dodges!
                   Por diversas vezes quando viajava com meu pai, pegávamos na estrada caravanas circenses se deslocando de uma cidade para outra. Por algumas vezes, até eram vistos alguns Galaxies rebocando algum reboque ou treiler, mas os Dodges imperavam quase que absolutos na preferência daquelas pessoas. Os reboques que estes puxavam, geralmente levavam os animais. Transportados grosseiramente em jaulas com grades não tão bem fachadas e abertas nas laterais. Geralmente animais subnutridos e com suas presas extirpadas para o bem e integridade física de seus domadores. Parecia até um zoológico ambulante.
                   Então, quando algum circo chegava aqui em Taquara ou cidades vizinhas, eu e mais metade da cidade corriamos até lá para apreciar. As pessoa ditas normais corriam para ver os inúmeros animais, eu corria desesperadamente ao lado oposto... ao encontro das dezenas de Dodges que esta gente tinha! Eu simplesmente me inebriava com aqueles carros.
            Os locais onde acampavam, geralmente eram nas imediações das cidades, em lugares descampados, por vezes alagados ou com bastante barro, para que pudessem montar a grande estrutura que era "arrastada" com eles. Depois de tudo montado, pegavam alguns dodges, atrelavam os reboques com os animais mais interessantes e saiam pelas ruas da cidade para avisar todo o povo, que em breve teria um novo espetáculo.  
                    Se fosse enumerar agora a quantidade de modelos diferentes de dodges que vi com eles, seria impossível. Era uma frota realmente grande e colorida, sempre! 
                   Não lembro exatamente o ano, mas início dos anos 80, em uma destas incursões por Taquara, apareceu um destes circos com um Dodge SE amarelo. Imaginem um carro zero!!! Pintura original, com as listas laterais do SE 75 ainda intáctas... imaginaram?? Este era o carro que vislumbrei na minha frente.
                    A minha tara, como já disse aqui no blog antes, sempre foram os Charger's. Mas naquele dia, aquele carro se introduziu na minha mente como uma broca, e ficou lá por anos! Não demorou muito, fui a procura de algum responsável no circo para tentar comprar aquele carro. Mas quem conhece a fama dos ciganos sabe! Quando compram alguma coisa, não querem pagar nada, se alguém se interessa por algo deles, tem de pagar o que não vale!! Resumindo, não deu negócio!
                     O grupo de ciganos ficou instalado em Taquara por uns vinte dias, dos quais, tranquilamente, fui praticamente todos até lá olhar o carro. Tinham vários outros dodges, mas aquele me cativou. Foi como ter viciado em alguma droga, precisava ir até lá todos os dias. Passou o tempo, levantaram acampamento e seguiram viagem para outra cidade, levando  o "meu" SE.   
                     Por muito tempo não tirei aquele Dodge da cabeça, mesmo sendo sabido naquele época, ou seja, final dos anos setenta até final dos noventa, que, de todos os modelos de Dodge, o SE é o que menos valia!! Custava menos do que toca-fitas bom!!
                     Nos meses e anos seguintes, todas as vezes em que aparecia um circo em Taquara, corria até lá na esperança de ser o mesmo circo do SE. Mas nada! O tempo foi passando e acabei por esquecer o carro.
                    Passados uns 10 anos, início dos 90, entrou um novo circo na cidade. Eu já bem mais velho e muito menos impulsivo, tinha perdido um pouco a ânsia compulsiva de correr até lá e olhar os dodges. Alguns dias depois um amigo me falou a respeito do circo da cidade, este me disse que tinha um SE amarelo no comboio! De imediato me acelerou o coração, e assim que pude fui até lá. Ao chegar, já era noite escura, mas de longe vi o dodge e praticamente confirmei, era o mesmo de 10 anos antes!!
                    No outro dia fui até lá e, novamente, tentaria comprar o carro. Mas assim que o vi de perto me decepcionei. Do lado direito não tinha mais as faixas originais na lataria, a porta tinha sido trocada por outra, de cor vermelha. O carro todo muito arranhado e sujo. Mostrava claramente a decadência financeira em que o circo estava. Mesmo assim, queria o carro.
                    Naquele dia não consegui falar com o rasponsável, então marquei de encontrá-lo no próximo. No dia seguinte fui até lá afoito, já dando como certa a compra. Ledo engano. O cigano me fez uma propósta indecente!! Não tinha como paga-la, relamei, argumentei e nada. Mesmo assim pedi para olhar o carro de perto, quando fiz o motor funcionar me conformei em não ter dado certo a compra. O motor era mais oco que um carvalho velho. Tirei o SE da cabeça e fui pra casa!
                    Quatro ou cinco meses depois de o circo ter ido embora, andando por uma vila em Taquara, me deparo com o SE Montego! Estava jogado em um terreno baldio, com os vidro abertos e alguns guris brincando dentro. Imediatamente parei o carro e fui até a piazada. Perguntei:"- De quem é este carro??" Na hora um piá já gritou lá de dentro: "-É do meu pai!! Mas esta porcaria tá estragada!!!" Pensei: Puutzz, que caquedo de gurizada, não sabe nada!!
                    Peguei o guri e fui até a casa dele falar com o pai. Chegando lá, me apresentei e disse do meu interesse pelo carro. Contei ao homem em poucas palavras de como conhecia o carro e tal... Após minha breve narrativa, o homem me contou a dele. Me disse que , assim como eu, viu o carro no circo. Mas ao ve-lo, tinha um placa de "vende-se" afixada no parabrisa. Foi até lá e negociou o carro. Não pagou o que o cigano tinha me pedido inicialmente, mas com certeza tinha pago o que não valia.
                    Bom, ele acertou o preço com o cigano e levou o SE para casa. Praticamente sem recursos, andou muito pouco com o dodge. O circo foi embora da cidade e poucos dias depois o sujeito descobriu que o SE estava em péssimo estado, gastava mais óleo que gasolina!! Acabou por estragar e sendo abandonado no terreno baldio. Jogado a própria sorte, aos "cuidados" da gurizada!
                    Entre a nossa conversa, por brincadeira, oferecí uma caixa de cerveja e 10kg de carne pelo dodge. Para meu espanto, o sujeito aceitou e levei o SE direto para o meu picadeiro! Se arrependimento matasse,  com certeza eu não estaria mais aqui!
Modelo raro, com certeza existem poucas fotos como esta

Esta foto tirei da internet, não é o meu, mas idêntico.
                     Alguns meses depois, comprei um outro dodge, agora um Dart vermelho 74, que também  pertenceu a um circo que passou por Taquara. Este, também comprado por um sujeito e revendido para mim. Mas esta é outra história.
                     Na próxima postagem Magnum 78/79 Marrom Sumatra