sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ford Maverick Sedan Super Luxo- V8 Hidramatic 1974

                           Uma frase que vou usar para denominar este Maverick, foi uma que, no final dos anos 80, se tornou corrente pela gurizada noturna de Taquara. Terror das madrugadas!
                        Este carro era de um cliente meu, da cidade de Santa Maria-RS, este, tinha mais outros dois dodges, nos quais eu fazia manutenção periódica. Este cliente tinha herdado do sogro o Maverick quando o mesmo faleceu. Como o carro tinha ficado por alguns anos abandonado em uma garagem, estava em um estado bem ruim, caixa hidramática fundida, podres em vários pontos da lataria e motor parado à vários anos. Este senhor, como não tinha onde guardá-lo, combinou comigo e me deixou o carro por algum tempo, para que eu o vendesse. 
                     O tempo foi passando mas ninguém se interessava pelo Maverick, primeiro por ser de 4portas e depois por estar com a caixa ruim. Com o passar dos meses o proprietário foi perdendo ainda mais o interesse pelo carro, até o dia em que fiquei com o Maverick em troca de serviços prestados em seus outros carros. Deixei o carro parado por mais uns dois anos na oficina, como não conseguia vende-lo, resolvi que faria o mesmo funcionar nas minha horas vagas. 
                            Eu, particularmente, nunca gostei do Maverick Sedan, mas como este tinha motor V8 de fábrica, resolvi dar-lhe uma sobre vida.
                            Passaran-se mais alguns meses até que o mesmo funcionou. Na época, lembro que até me surpreendi com o andar macio deste Maverick. Acho eu que foi um carro muito pouco rodado, provavelmente foi abandonado muito cedo em um galpão. Eu achava ele horrível e desengonçado, parece um mini Galaxie, é bem estranho. A mulherada então, acham um monstro de sete cabeças! Para um guri novo,que está na ativa, com certeza não era o carro indicado para caça. Mas , tem (péssimo) gosto para tudo, se não fosse assim, o Brasil não estaria tão cheio de Hyundais, Kias , "Jacas"e por aí vai!!
                            Bueno, com o monstro funcionando, comecei a sair com ele uma ou duas vezes por mês, sempre à noite, e durante a semana. A mecânica dele tinha ficado tão boa e suave que dava gosto de andar. Sempre que saía, esmerilhava o coitado, sem dó e nem piedade! Em pouco tempo a sociedade noturna de Taquara conhecia a fama do Maverick V8 Sedan.
                         Como as saidas com ele eram raras, ou seja, no máximo umas duas vezes por mês, quando saía, era para queimar pneus. Na época tinha um barzinho no centro de Taquara, não era bem um bar, era um xis. Neste, se juntava uma gambazada até altas horas da madrugada. Se aglomerava uma multidão de pessoas para beber, trovar e também por diversas vezes fechava o pau. Seguidamente voavam cadeiras e mesas para tudo que era lugar, um legítimo inferninho!
                      Eu mesmo nunca frequentei este bolicho, ficava em outros lugares com minha turma de amigos ou sozinho. Quando eu percebia que o xis estava com um clima propício, ia para casa e pegava o Maverick. Então, sorrateiramente e silenciosamente, eu aparecia com o Maverick por lá. A aparição era sempre depois da meia noite, em torno das duas horas da madrugada. É que depois deste horário, sumiam as viaturas da polícia, não se encontrava sequer mais um brigadiano pelo resto da madrugada, isto ia até por volta das seis e meia ou sete da manhã.
                            Bueno, quando eu entrava na rua com o carro, a multidão já começava a gritar:"- Lá vem ele, la vem ele". Eu adorava aquilo!! Parava na frente do barzinho, a multidão berrando como um bando de araquãns, e o show começava. A fumaceira de borracha se alastrava como fofóca na boca do povo!! Como é bom de fazer fumaça com um carro hidramático!! É so alegria! Ficava dando o espetáculo por alguns minutos e depois saia silenciosamente. Desaparecia sorrateiramente, tal qual aparecia. Ia pra casa, pegava outro carro e passava por lá para escutar os comentários, que viravam o fóco principal do resto da noite.       
                 Quase ninguém daquela gente me conhecia, e isto é o mais bacana. Todo mundo se perguntava:"-Quem é esse maluco??. De onde saiu este Maverick??" Eu dava risada!

Esta foto saiu por pura sorte, o filme em que estava, foi aberto errado. Acabei perdendo outras fotos do Maverick e de outros carros. Notem que até alguns podres eu comecei a arrumar no carro, depois desisti. Esta é a única lembrança do pobre sedan V8
                              Com o tempo, a brincadeira começou a ficar conhecida na cidade como a festa do Maverick 4 portas. Também, minha identidade começou a vazar, pois sempre haviam algumas pessoas no meio da multidão que me conheciam, então , em pouco tempo, alguns caras me perguntavam na rua quando seria a próxima aparição. 
                              O espetáculo então começou a se estender por outros lugares. Na frente do Clube Comercial de Taquara, nas esquinas, enfim, em todos os lugares onde tinham pessoas aglomeradas e que gritavam pronunciando a palavra mágica:"-Fumaça!!" Esta fase se estendeu por mais ou menos um ano, parei quando comecei a escutar boatos da polícia querendo pegar o Maverick bandido! O Sedan nunca mais saiu de madrugada!
                                 Como o carro era muito gostoso de andar, e tinha passado por uma longa bateria de testes sem estragar, por diversas vezes fui para a faculdade com ele! Nestas idas, depois da aula, ia para o centro de São Leopoldo e ficava rodando até de madrugada. Confesso à vocês que o carro era bom, mas eu tinha vergonha de andar com ele na época. Se fosse hoje, iria até em casamento! Mas naquela época eu gostava só de dodge mesmo, meu gosto não era nada eclético! 
                                Bom, o tempo foi passando e acabei por deixar o Maverick de lado novamente. Ficou por um longo tempo atirado no fundo da garagem. Até que certa vez apareceu um cliente interessado na caixa, e como a caixa hidramática era nova, tinha sido toda reformada, foi vendida para um galaxie de um cliente. O motor e o diferencial foram igualmente vendidos para serem colocados em um Maverick 4 cilindros. Alguns meses depois vendi o teto dele para um senhor, apaixonado por Mavericks Sedans, que tinha recentemente comprado um Maverick Sedan capotado. Resumindo, a lenda morreu em meus braços!   
                               Na próxima postagem, Magnum 1979, azul estelar.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Dodge Dart 1979 Cinza Báltico

                      Durante alguns dos churrascos que eram realizados nas quintas feiras à noite na minha antiga oficina, seguidamente entrava em pauta nas conversas um Dart 79 cinza, que, segundo um amigo da janta, estaria abandonado em um sítio, entre as cidades de Taquara e São Francisco de Paula. Segundo este amigo contava, o proprietário do Dodge morava em Porto Alegre e tinha este sítio de lazer.  Meu amigo teria sido informado por um outro amigo dele, que um vizinho do sítio teria contado sobre o dodge abandonado. É o famoso "disque disque"!! Como corria e corre, as histórias sobre dodges abandonados, é incrível!!
                      Segundo contava a lenda, o Dart teria sido adquirido quase novo, depois de anos rodando,  estaria com o motor ruim e fora abandonado pelo seu dono no galpão do sítio. Eu já tinha, e tenho, escutado tantas histórias sobre carros abandonados em sítios que simplesmente não dava mais muita importância as histórias. Já perdi muito tempo e gasolina correndo pelos interiores à procura destas histórias malucas. Mas afinal, para quem gosta de carros antigos, estas histórias são um prato cheio!É um tema que sempre aguça a curiosidade da gente. 
                      Mas com certeza, algumas destas não sairam do nada, assim como foi desta vez. Não lembro bem, mas acho que passaram-se mais de um ano até que eu fosse atrás desta. Não fosse um outro cliente que era caminhoneiro, que certa vez me contou esta mesma história. Disse ele que foi contratado para puxar um mato que estava sendo derrubado naquela região e durante as horas vagas, como também era um apaixonado por dodges, o assunto entrou na conversa. Indaguei a ele sobre o local exato do sítio, mas este não soube me precisar. Talvez até porque ele mesmo teria interesse no carro. Mas por alto, me explicou o local.
                       Alguns dias depois saí bem cedo de casa para achar o tal sítio! Chegando perto do local indicado, passei horas procurando, perguntei para dezenas de pessoas, inúmeras paradas e conversas e nada!! Ninguém sabia de dodge nenhum abandonado naquela região, alguns até nem sabiam o que era um dodge!! Quase findando o dia, retornei para casa, xingando bastante todos que tinham me colocado mais uma história maluca na cabeça.
                       Meses depois,  eu estava na oficina auto-elétrica de um outro amigo, e entre uma rodada e outra de chimarrão, um sujeito que estava presente, contou a mesma história!! Imediatamente eu iterrompi a conversa e lhe disse que era lenda!! Contei que já tinha gastado muita gasolina e saliva atrás deste dodge e que tudo era uma grande invenção de alguém. Mas este, insistiu no assunto, me disse que além de ser verdade, até já tinha visto o carro. 
                       Então expliquei ao meu novo amigo o local em que eu havia estado à algum tempo atrás, ele de pronto, me respondeu que eu tinha estado no local errado. A estrada que eu tinha percorrido era outra! Na hora pensei no cliente caminhoneiro, com certeza tinha me dado coordenadas falças para que eu não achasse o dodge. Peguei uma folha de papel e fiz o sujeito fazer um pequeno mapa, pois aquela região é crivada de pequenas estradinhas vicinais, é um verdadeiro emaranhado de estradas do interior. Feito o mapa detalhado, guardei em meu bolso e não tocamos mais no assunto.
                       O tempo acabou passando e acabei esquecendo da história. Somente passados mais alguns meses é que me veio a cabeça a história toda.  Então, em uma semana de pouco movimento na oficina resolvi novamente sair em busca do dodge abandonado. Seguindo as indicações do mapa feito pelo sujeito, encontrei a estrada e o sítio onde, supostamente, estava o Dart. Parei em frente a uma cancela, bati palmas, chamei diversas vezes por alguém, mas tudo em vão. Não tinha viva alma no sítio. Segui em diante e fui até uma próxima entrada, de outro sítio. Vi movimento e entrei!
                        Chegando na casa, perguntei a um senhor sobre o sitio vizinho, disse a ele que precisava falar com o dono sobre um assunto particular. Este me informou que o proprietário morava em Porto Alegre, vinha ao sítio no máximo uma vez por mês, quando vinha!! Bom, conversa vai e conversa vem, acabei contando ao senhor do porque eu estava atrás do seu vizinho lindeiro.
                         Lhe perguntei se era realmente verdade que existia um dodge abandonado no galpão. O senhor me respondeu: - "Olha, não sei se é dodge ou um galaxie, mas sei que tem um banheirão atirado lá dentro, mas já de antemão, posso te dizer com quase 100% de certeza, que seu Osvaldo não vende o carro!" Nesta hora fiquei satisfeito, pelo menos por ter encontrado o carro, e que desta vez não tinha perdido meu tempo. Perguntei o porque da afirmação em que ele dizia que o dono não venderia o carro, ele me disse que este senhor era uma pessoa muito reservada, e também guardava inúmeras antiguidades no sítio. Me disse também que algumas outras pessoas já estiveram ali com o mesmo propósito que eu. Pelas poucas conversas que teve com seu vizinho, sabia que este gostava das suas velharias.
                          Bom, depois de uma longa prosa, perguntei a ele se o senhor Osvaldo tinha algum caseiro no sítio, alguém que pudesse me dar alguma informação de como achar o seu proprietário. Ele me respondeu que não, que a única coisa que tinha de concreto que poderia me dar era o nome completo do seu vizinho! Já era alguma coisa!! O cordial senhor me passou o nome, agradeci e fui embora.
                          Nos dias que se seguiram, passei tirando informações do sobrenome do senhor Osvaldo. Achei até uma pessoa em Taquara que tinha o mesmo sobrenome, mas este não o conhecia. Acabei por achar duas pessoas com sobrenome igual à ele na lista telefônica de Porto Alegre. Liguei para os dois, um não tinha nem idéia de quem seria seu Osvaldo. O outro era uma senhora que me disse o seguinte: O marido já falecido tinha um parente com este nome, ela achava que eram primos, mas não o via a muitos anos. Contei a história toda para esta mulher, que sensibilizada, ficou de procurar por alguma pista em alguns dias.
                          Uma semana depois liguei para a senhora, ela me disse que revirando antigos cartões de Natal, havia achado um que foi enviado ao seu marido no Natal de 1976, com o nome do sr Osvaldo. Ela então me passou o endereço que estava no cartão.
                           Na semana seguinte, fui à Porto Alegre entregar algumas peças para alguns clientes, aproveitei e fui até o endereço. Me deparei com uma bela casa, em um bairro muito agradável da cidade. Ao bater, uma moça me atendeu e logo perguntei a respeito do senhor Osvaldo. Esta me perguntou qual era o assunto e disse: "-Aguarde um instante".
                           Minutos depois estava na minha frente seu Osvaldo, um senhor de uns 70 anos, mas de uma lucidez e educação primorosa. Expliquei o porque estava ali, ele me convidou a entrar e então conversamos por uma meia hora. Me falou bastante do carro, tinha o comprado em 1980 quase novo. Eu lhe perguntei o porque do carro estar parado e ele me contou que em 1988, uma de suas filhas saiu com o dodge para ensinar sua neta a dirigir. Bom, as duas sairam com o dodge pelas estradas do interior do sítio, lá pelas tantas, a neta caiu em um valo. Então a filha no desespero, correu e chamou um vizinho, que com a ajuda de uma junta de bois, puxaram o carro do buraco. Sem olhar os estragos que tinha feito, sairam rodando e voltaram a propriedade. Quando chegaram em casa, seu Osvaldo veio ao encontro delas e viu que saia muita fumaça do motor do carro. Deitou em baixo e viu que havia um grande buraco no cárter do motor.
                            Seu Osvaldo acabou por deixar o dodge lá no sítio por uns dois meses, até que chamou um mecânico para dar uma olhada. Fizeram o motor funcionar e o mecânico disse que tinha estourado o motor por andar sem óleo. Seu Osvaldo não quiz arrumar o motor e abandonou o Dart no galpão.
                            Bom, lhe perguntei se estaria interessado em vedê-lo e se eu poderia ver o dodge. Ele me disse que não pretendia ir ao sítio por algum tempo, mas que quando fosse, me ligaria para que eu visse o carro. Me despedi e fui embora.
                            Três meses depois, recebi uma ligação do senhor Osvaldo, combinamos o dia e fui até lá. Olhei o carro detalhadamente, o que mais me imprecionou foi seu interior, era um carro impecável por dentro!! Resumindo, fiz uma propósta para seu Osvaldo, alegando o quanto gastaria para colocar o o Dart em dia. Este pensou por alguns instantes, e me disse o seguinte: Nunca tinha pensado em vender o carro, mas aceitava minha propósta por ter visto em mim um grande apaixonado pela marca! Eu , mais do que satisfeito, agradeci e fachamos negócio.
                             No outro dia fui até lá e reboquei o Dart até minha oficina. Tirei o motor, retifiquei o virabrequim, bomba de óleo nova, cárter trocado e tudo resolvido. O Dart estava rodando novamente. O carro era muito bonito, apenas mal cuidado pelo abandono, mas dei aquele trato e ficou muito apresentável. Um mês depois vendi o Dart para um rapaz da cidade de Três Coroas.
                            Um ano mais tarde, procurando peças de dodge no ferro velho do senhor Turco, naquela cidade, me deparo com o Dart empilhado em cima de um Galaxie, fiquei chocado!! O dodge tinha toda a lateral esquerda amassada. Acabei comprando várias coisas dele, praticamente limpei o carro, inclusive,  comprei o motor e a caixa. Depois de passar o dia desmontando o carro voltei pra casa.    
Estas 4 fotos que seguem consegui de um amigo que fotografou o carro em um domingo de tarde no centro de Taquara. Reviramos a casa dele inteira para achar as fotos 



                      Na proxima postagem, meu segundo Maverick V8, um sedan 1974 hidramático