segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Charger RT 1976 Branco Valencia

                       A exatamente um ano atrás escrevi a primeira postagem do blog, confesso a vocês que o prazer em contar minhas histórias com meus dodges está indo além do que imaginava! E, uma grande parcela deste prazer, está no fato de ter tantos leitores e seguidores neste humilde blog. Só me cabe agradecer! Portanto, no primeiro aniversário do blog, vou narrar a história de um dodge bem interessante, espero que seja uma prazeirosa leitura e que preencha as expectativas de vocês. Boa leitura meus amigos!
                       Este Charger eu conheci muitos anos antes de te-lo comprado. Foi em meados da década de oitenta, quando eu tinha minha oficina lá na casa dos meus pais. Seguidamente seu proprietário o trazia a oficina para fazer as manutenções. O Charger era de um amigo e cliente de nome Jacson. Ele trabalhava na época em uma locadora de fitas cassete, no centro da cidade de Taquara. O dodge pertencia antes a dona da locadora, que posteriormente, meu amigo Jacson comprou.
                       Assim que o fez, passou a me trazer periódicamente o carro para alguma revisão. Olhando meu arquivos, a primeia vez em que consertei alguma coisa neste dodge foi em 29/11/1986. Na ocasião foram feitas as seguintes coisas no carro, regulagem motor e troca das buchas da balança superior.
                       O Jacson era, e deve ser ainda hoje, um cara muito caprichoso. O carro estava sempre impecavelmente limpo. Tinha sua pintura e seu interior muito bonitos. Os bancos de couro originais eram lindos, impecáveis! Era evidentemente claro que o seu proprietário era um cara muito zeloso e ciumento.
                       Nas vezes em que o carro passava mais de um dia na oficina, eu sempre tirava algum carro meu da garagem para colocar o Charger do Jacson, pois eu sabia que ele não gostava que o carro dormisse ao relento. Todo o cuidado era pouco quando o assunto era o Charger 76 do Jacson. Certos clientes que eu tinha, não davam a minima se o carro ficasse ao relento ou não, são coisas de cada um. Eu, particularmente, também não gosto que meus carros "durmam fora da cama".
                        Apesar de não gostar de correr ou dar pau, o Jacson era um cara que queria o dodge com o motor sempre bem afinado, sempre que notava alguma coisa ou alguma pequena falha, mandava que eu desse uma olhada. Certo dia ele veio até a oficina dizendo que o carro não estava muito bom. Então, como eu sempre conheci muito bem minhas "ovelhas", disse a ele: "-Fica tranqüilo que vou dar uma revisada geral  e deixar teu motor uma bala. Passei uns dois ou três dias me dedicando exclusivamente ao motor dele. Troquei velas, algumas coisas do carburador, enfim, uma regulagem minuciosa. Após esta revisão, o carro estava tremendamente redondo, acho que como nunca havia ficado antes.
                        Quando o Jacson veio buscá-lo, deu uma volta com o carro e retornou a oficina. Quando entrou pelo portão, olhei em seu rosto, este mostrava grande satisfação! Então, não sei porque, mas naquele dia me pediu uma coisa que jamais imaginei que pediria. Me pediu para darmos uma testada nele. Ele mesmo nunca corria ou abusava com o carro, sempre o dirigiu com muito cuidado, mas naquele dia, queria ver como o carro se mostrava em condições severas de uso.
                         Naquela época aconteciam pegas em algumas noites, geralmente nas quintas ou domingos, em uma estrada recem inaugurada, que ia de Taquara até Rolante, RS239. Praticamente não havia movimento na época, o asfalto era novo, lisinho e sem ondulações.  Também tinham grandes retas onde a gurizada se fartava loqueando nas madrugadas. Esta estrada também era para mim um campo de testes, por várias vezes fui com alguns clientes que queriam testar seus carros. 
                        Bom, então o Jacson me pediu:"- Vamos até lá para ver quanto o dodges dá no fundo!" Acho que aquele dia ele estava com o diabo no corpo. Para mim não precisava pedir duas vezes.  Era um prazer esmerilhar um dodge. Só lhe disse o seguinte: "-Não vai amarelar e te arrepender no meio da festa?? Olha que não se tira pirulito da boca de criança, é pecado!!" Ele deu uma risada e concordou!
                       Saimos da oficina e fomos até lá. Eram umas quatro horas da tarde, a estrada estava completamente vazia. Quando peguei a reta, em primeira marcha, sempre no fundo, o Charger levantou a frente, parecia que o motor iria sair para fora do carro, esquecendo o restante da lataria. Dei tudo que podia, em segundos, o ponteiro marcava 80km/h em primeira, olhei a cara do Jacson, era de pavor e espanto ao mesmo tempo. Mas já era tarde! Dei a segunda marcha no mesmo estilo, o Jacson estava paralizado e grudado ao banco! Instantes depois o ponteiro marcava 120km/h em segunda marcha. Contagiros sempre beirando os 5000RPM. Lasquei a terceira marcha com violencia, os olhos do Jacson estavam arregalados, quase caindo para fora. Mas ele se mantinha estático e calado! Em intantes o ponteiro do dodge marcava 165km/h, acho que ia mais, mas tive medo do Jacson infartar, então troquei de marcha, metendo a quarta. Foi quando escutei ele falando baixinho:"-P-e-l-o-a-m-o-r-d-e-D-e-u-s".
                        Meti a quarta sem tirar o pé do fundo do acelerador, o motor, por nem  um instante chegou a aliviar! Em poucos instantes, com a quarta marcha no fundo, ponteiro do velocímetro quase, mas quase mesmo, batendo nos 200km/h, deu um estouro e o carro perdeu completamente o seu maravilhoso rendimento. Instantaneamente a paisagem traseira do carro sumiu completamente na fumaça azul de óleo. Não se enchergava mais nada, parecia até que estava se derramando óleo fervendo dentro dos canos de descarga, em igual temperatura. O motor falhava descompassadamente!!
                          Eu me lembro de ter dito:"-Puta merda". Imediatamente escutei o Jacson gritando:"-Meu motor fundiu!!!Meu motor fundiu!!!"Olhei para ele, saiam lágrimas compulsivas em seus olhos, não acreditava no que havia acontecido. Estava completamente desolado, como se tivesse perdido um filho!!. Na hora me apavorei, achei que ele ia ter um piripaque e morrer. Hoje, escrevendo isto, não consigo conter as risadas!!
                         Encostei o carro na lateral da via e descemos, o Jacson agora não falava mais nada, parecia um autômato. O motor ligado, falhava muito, nos canos de descarga, literalmente, pingava óleo de motor. Comecei a rir, ele olhou para mim com cara de quem queria matar!! Suas feições estavam extremamente abatidas. Por um instante, enquanto eu ria, achei que ele ia me bater. Me perguntou inconformado o porque das minhas risadas. 
                         Eu disse a ele: "-Jacson, meu amigo, só se eu estiver muito enganado, mas não é nada de grave, apenas queimou a junta do cabeçote, o teu motor não estava acostumado a apanhar!" Ele não sabia se me batia ou ria. Estava muito desconfiado. Retornamos a oficina, ele calado em todo o trajéto, coloquei o Charger na garagem e levei o Jacson para a casa dele. Lhe disse apenas:"-Fica calmo, amanhã conversamos!
                         No outro dia, encostei com o Charger na frente da locadora, afinado como nunca. Ele veio correndo e disse não acreditar no que estava vendo. Me disse que tinha passado a noite em claro, sem dormir! Então eu perguntei a ele: "-O carro tá pronto, vamos testar novamente??" Ele:"-Nunca mais, nunca mais!!"
                          O tempo foi passando e a locadora em que o Jacson trabalhava abriu uma filial na cidade de Igrejinha. Ele foi nomeado para gerenciar a nova locadora, então, uma vez ou duas por semana o Jacson ia ao trabalho com o Dodge. Certa manhã, em umas destas idas, aconteceu com  o Jacson quase a mesma coisa que aconteceu comigo com o Galaxie LTD 76 marrom, que já postei aqui no blog. Só que no caso dele, foi trágico! Não para ele, mas para o Charger. Ele se deslocava com o dodge pela RS115, quase chegando na cidade de seu trabalho, em um entroncamento na entrada da cidade, teve a frente cortada por um carro. Para não bater neste, tentou desviar, subiu no canteiro e bateu de frente em um poste de iluminação pública.

Que paulada, hein?? Olhando assim, parece o Charger do filme "Fuga Alucinada", só que branco. 

Nesta foto se tem a exata noção do que era  o carro antes da batida, lindo!
                         Chegava ao fim a trajetória de mais um Charger R/T. O meu amigo acabou parando no hospital, apenas com a boca cortada, mas, o dodge, já era. Até a capóta do carro ficou com algumas rugas.
                         Alguns dias depois, o Jacson já recuperado, levou o Charger para a garagem de sua casa. Chamou várias oficinas de chapeação para fazer orçamentos, das quais, poucas aceitaram a empreitada. As que aceitaram, pediram preços altos e significativos. Como o meu amigo Jacson não dispunha de muitos recursos na época, o carro ficou parado na garagem. Passaran-se mais alguns meses até que o meu amigo, totalmente contra a vontade, me ofereceu o carro.
                         Inconsolável! Esta era a palavra para denominar o meu amigo. Me entregou o carro com pesar, mas não havia outra alternativa para ele.     
                          Na próxima postagem falo de um Dart de Luxo 1979 prata                     

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Charger R/T 1978 Azul Capri

                                O dodge que conto a história de hoje, foi comprado no início da década de 90. Nesta época eu tinha, pela primeira vez, trocado de endereço minha oficina. Após muito relutar, acabei aceitando um convite de trabalhar em sociedade,  que o irmão do meu falecido amigo Alnei tinha me feito.
                              Então, após meses pensando, acabei retirando minha oficina da casa dos meus pais. O Lú, como é chamado o irmão do meu amigo, tinha um ótimo lugar, grande, totalmente fechado, no qual eu teria total liberdade e espaço suficiente para montar minha oficina, guardar minhas peças e também meus carros. Em troca disto  me fez a seguinte proposta: Eu continuaria comercializando minhas peças e fazendo a manutenção dos dodges de meus clientes normalmente, e não teria de dividir meus lucros com ele. Mas em troca, teria que arrumar todas as caixas automáticas que ele me traria, dividindo o lucro desta mão de óbra, meio a meio. Sendo que eu faria o serviço mecânico da sociedade, ou seja, eu colocaria a mão na graxa e ele cuidaria de trazer as caixas. Ele traria os clientes e cuidaria da parte burocrática do negócio. 
                               O Lú tinha ideia de montar uma oficina especializada em caixas automáticas. Era sabido por ele, que eu dominava o funcionamento das caixas hidramáticas dos dodges e galaxies, era de sua confiança e para arrematar, éramos amigos. A proposta que tinha recebido era meio visionária, pois naquela época muito pouco carro tinha este tipo de câmbio. Mas vendo isto nos dias de hoje, ele tinha razão!!  Tinha visão no futuro. Sabia que seria uma coisa crescente no mercado.
                              Bom, eu não tinha nada a perder, apenas sabia que teria muito trabalho pela frente. Então, apesar de detestar a ideia de uma sociedade, acabei aceitando.
                             O Lu é formado em Engenharia Mecânica, se criou dentro da fábrica do avô, que depois, foi de seu pai, Max Badermann e cia Ltda. Fala  três ou quatro idiomas, viajou por vários países e tem muita cultura. Resumindo, é um sujeito de inúmeras qualidades, mas como todos nós, temos algum defeito. O dele, é gostar muito de mandar. E eu não gosto nem um pouquinho de obedecer. Principalmente quando eu domino um assunto, aceito de coração aberto, criticas construtivas e opiniões, mas nada mais além disto.
Prédio localizado no bairro Empresa, em Taquara. Hoje esta completamente abandonado, mas naquela época tinha o pátio totalmente fechado e bem cuidado.

Dentro destas paredes, no início da década de noventa, repousavam muitos dodges. Lugar é o que não faltava nos seus 2500metros quadrados  de área construida.
                                Dia 10 de março de 1991 comecei a minha mudança, foi lenta, pois não tinha urgência em desocupar a minha antiga oficina na casa dos meus pais. A princípio levei todos os carro, depois, com o passar do tempo, fui levando peças e mais peças.
                                No primeiro mês, fizemos apenas uma reforma de caixa hidramática, de um dodge. Este já era meu cliente. Mas o tempo foi passando e aos poucos o negócio começou a funcionar. Como eu tinha muitos clientes, estes começaram também a fazer propaganda da oficina, pois a proposta era arrumar caixas de todos os carros. No princípio foi difícil, pois eu dominava as caixas de Dodge e Galaxie, então passei um pouco de trabalho com outras. Até que conseguimos manuais de manutenção de inúmeras marcas de carros. Me facilitou bastante, pois cada caixa, assim como cada motor, tem suas manhas e peculiaridades. 
                               Algum tempo depois inovamos também fazendo recarga e manutenção de aparelhos de ar condicionado automotivo. Compramos aparelhos e ferramentas específicas para trabalhar em compressores de ar, manômetros, tubos e reservatórios de gás, etc, etc.  Tudo andou bem por mais ou menos um ano, foram feitos dezenas e dezenas de consertos. Eu trabalhei neste período como nunca tinha trabalhado antes. Vivia como se estivesse dentro de uma lata de óleo. Mas o dinheiro entrando, e como foi uma época ruim de trabalhar com os dodges e galaxies, este outro trabalho me rendia o provento necessário.
                              Depois de alguns meses, o serviço que inicialmente foi proposto começou a mudar. Ao invés de me trazer somente caixas, o Lú começou a me trazer carros. Então tinha que tirar a caixa, consertar e recolocar. Não era o que foi proposto, pois não tínhamos elevacar (elevador de carro).  O serviço fica bem pesado e demorado. Passava mais tempo no chão, embaixo dos carros do que consertando as caixas. E tudo sozinho.
                               Eu confesso que não estava contente com aquela situação, mas seguia trabalhando. Uma coisa que me orgulho, e muito, é de não ter medo do serviço pesado, já fiz coisas sozinho que muitos não o fazem de dois ou três.
                              O tempo foi passando, o trabalho aumentando, até que chegou o dia em que eu comecei a me sentir sufocado, não tinha mais aquela liberdade de antes. Praticamente não tinha tempo para cuidar dos meus clientes, ou seja, dos dodges! O Lú notou este descontentamento em mim, e algum tempo depois, pediu que eu saísse do prédio, desfazendo a nossa sociedade. Em um primeiro momento, até tive uma decepção com ele, mas depois entendi que foi melhor pra mim. Uma semana depois, juntei meus trapos e fui embora, sem levar uma só ferramenta do que tínhamos comprado, e não foram poucas. Levei apenas minhas coisas, peças e carros 
                                Conto esta passagem da minha vida sem constrangimentos e sem mágoa alguma. Quando me propus a fazer este blog, sabia que, para ser verdadeiro, apareceriam alguns espinhos. Se não for assim, minha história perde o "meu" crédito! Mas, meu relacionamento com o Lú é normal até hoje, quando o encontro, tiro tempo para conversar bastante com ele. O ser humano é bem maior do que isto. E sei também, que tive a minha parcela pelo fim da nossa sociedade. Não sou um cara muito fácil de trabalhar em equipe, e também porque eu nunca acreditei em sociedade.
                                                       Charger 1978 Azul Capri
                                 Certo dia apareceu lá na oficina um grande conhecido meu com este Charger Capri, seu nome era Charles Petry. O Charles era um cara de boa paz, calmo, bom de negociar. Foi dono de um dos maiores ferro velho aqui de Taquara, comprei diversas peças de Dodge com ele no passado. Como muitos sabem, estes estabelecimentos me fascinam até hoje. Foi um local em que muitas vezes passei as tardes bisbilhotando peças.
                                 Na época em que ele comprou este Charger já não tinha mais o ferroso, mas assim como ele, toda cidade sabia, que quando o assunto fosse dodge, o nome mais indicado era o meu. Então recebi sua agradável visita. O carro precisava de uma regulagem de motor e freios e assim o fiz.
                                 O Charles era um daqueles caras que gosta de carros, mas que não da uma importância específica para a marca do carro, simplesmente gostava deles, seja qual for! Provavelmente acabou comprando este Charger por puro acaso, como se fosse um bom galaxie ou outro carro.. Quando eu o via, sempre comentava que ele estava vivendo sua segunda vida. Ele ria muito disto. Protagonizou um dos acidentes mais incríveis que já ouvi falar. Certa feita, estava subindo a serra com um Chevette! O cara andava sempre de pé em baixo, gostava de sovar os carros. Foi contemporâneo de uma turma de amigos que gostavam muito de agitar, faziam quilômetros de arrancada, alguns da turma dele até correram no autódromo de Tarumã. Bom, mas voltando ao acidente, em determinado ponto do trajeto bateu de frente com o Chevette em um Galaxie, novo , do ano! Para resumir a história, o motorista do Galaxie morreu na hora, não me perguntem como!! O Charles passou meses no hospital, tinha pinos de platina espalhados pelo corpo todo. Mas se safou apenas com um defeito na perna que o deixou manco para o resto da vida.
                                  Bueno, voltando ao Charger Capri, serviço concluído, o Charles veio busca-lo. Conversa vai e conversa vem, lhe disse que tinha interesse na compra do dodge. Mas ele me falou que a princípio, naquele momento, não iria vende-lo. Talvez mais pra frente, pois queria curtir o carro por algum tempo. O tempo foi passando e passando, algum tempo depois o Charger caiu nas minhas mãos.
Neste local, vim logo após sair do prédio em que era sócio do meu amigo Lú. A única foto que mostra o Charger capri, ainda do Charles Petry. Foi tirada quando ele tinha me deixado o carro para arrumar. Aparece atrás do Maverick sem motor.


                                
                                  Tinha então comprado mais um brinquedinho, era assim que meus amigos falavam dos meus dodges. O carro era extremamente gostoso de dirigir, muito firme e nada barulhento. A lata deixava a desejar um pouco, notava-se claramente que era um carro de uso diário. Algum tempo depois, em outra mudança de endereço, foi ele que usei para transportar quase tudo para a minha "nova" oficina. Até mesmo outros carros que não possuíam mais a suspensão dianteira.
                                  Na minha proxima postagem falo de outro Charger, um R/T 1976 branco.