terça-feira, 26 de abril de 2011

Dodge LeBaron 1980 Prata Tibet

                               Hoje narro a história do meu 21° carro, 14° dodge.
                               Seguidamente eu vejo em outros blogs a polêmica que se criou a respeito da cor original das rodas dos nossos Dodges.  Tenho opinião formada sobre isto, e posso dizer com certeza, e até posso parecer repetitivo, mas, tem muito Dodge alterado neste Brasil. E muitas são as pessoas que não sabem como foi a história pregressa dos seus carros e costumes dos seus antigos donos.
                               A cultura das décadas passadas de incremantar os carros é mais ou menos como hoje em dia. Não chega a ser tanto como naquela época, mas muitos ainda colocam rodas esportivas e outros adornos que descaracterizam os carros. Antigamente tu mandava o teu carro para uma oficina fazer algum retoque na pintura, ou até mesmo um polimento, prontamente junto a isto, era feita pintura nas rodas para revitalizar o carro. E ninguém pintava as rodas dos Dodges de azul, eram todas repintadas de cinza ou preto!
                                E quando os novos proprietários de Dodge me falam que seus carros tem pouquissima quilometragem, só porque marca no hodômetro do painel do carro, eu realmente perco as forças!!!  Ora,  um dos carros mais caros e luxuosos do nossa frota passada, que hoje tem mais de trinta anos de uso, beirando os quarenta, e não foi rodado?? Me perdoem, mas esta é uma afirmação bem duvidosa!!! Noventa  por cento dos Dodges que existem por aí passaram as décadas de oitenta e noventa nas mãos de picaretas. Gente que não sabia nada de Dodge! Os carros foram muito alterados no passado.                 
                              Uma coisa que escuto muito falar: "-Engraçado!! O estepe do meu Dodge é pintado da cor azul e as rodas são cinzas!"  É que quando as rodas azuis foram pintadas no passado, por economia de tinta ou mão de obra, não pintaram os estepes!! Podem acreditar!
                                Falo aqui das rodas de Charger 74/78 e dos Dart acima de 1976.  Exceto todos os SE e os Dart 70/75, que vinham com as rodas pintadas de cinza. Charger que não tinha roda magnum tinha roda rallye azul.
                                A algum tempo atrás, li e assino em baixo, o que o nosso amigo Badolato falou a respeito dos dodges alterados no passado. "O cara que altera um dodge, não imagina o custo de deixa-lo novamente original, colocar fora todo aquele monte de entulhos que colocaram no carro e retransforma-lo ao estado original dá muito trabalho e tem um custo bem elevado". É a pura verdade!
                                 Como diz o ditado: -Mato a cobra e mostro o pau:

Rodas do Charger R/T 1974 - Azul!!!

Rodas do Charger R/T 1975 - Azul!!!
Rodas do Charger R/T 1976 - Azul!!!

Rodas do Charger R/T 1977 - Azul!!!
Rodas do Charger R/T 1978 -Azul!!!

Estas duas aí, tem até os pneus originais ainda!! Linha 79- Pirelli Cinturato CN15-185/70-14 Azulzinhas como vieram de fábrica 
                                                        LeBaron 1980
                               Certo dia meu pai me contou que tinha um cliente na cidade de Parobé, e este, estava lhe devendo dinheiro de algumas vendas. Este senhor, tinha comprado mercadorias do meu pai e não estava conseguindo pagar. Meu pai então me falou que o mesmo teria lhe oferecido um Dodge LeBaron como pagamento.  Combinamos um dia e fomos lá olhar o carro. Quando chegamos em frente a casa deste senhor eu, de cara, já me desgostei da situação, não pelo carro propriamente dito, mas por uma cena que eu vi.
                               Era uma casa simples com uma garagem ao lado, a porta da garagem estava entreaberta e dava para se ver parte da traseira do LeBaron, foi a primeira coisa que vi. Mas quando desci do carro, avistei  um guri,de no máximo uns 8 anos, sentado na varanda da frente da casa. Este pestinha estava com o manual do proprietario do LeBaron nas mãos, arrancava folha por folha. O jardim da frente da casa estava repleto de páginas deste manual. E a pateta da mãe sentada ao lado não fazia nada! Quase me avancei no guri, mas o certo mesmo era ter avançado no pai dele!! Não atinei mais nada e sem pudor algum, comecei a juntar as páginas e coloca-las no meu bolso.
                               Bom, fiquei tão enojado da cena que não quis o carro. Meu pai argumentou para olharmos o carro, então fui até na garagem. O carro por fora era razoável, mas por dentro, inacreditavelmente, estava novo!! Os bancos do LeBaron eram impecáveis, o tecido perfeito, com os botões da forração todos em seus lugares. Realmente o Lebaron tem um interior inigualável!!! Mas, continuei minha inspeção e quando abri o porta malas quase tive um ataque!  Aí tive a certeza que não queria aquele carro, encontrei dois butijões de gás!! O carro era movido a gás de cozinha. Não teve mais argumento, não queria mais o carro de jeito nenhum. Hoje me arrependo, mas na época botei a boca no dono do LeBaron. Coitado,era apenas um fruto do sistema da época.
                                Quando virei as costas para sair, o senhor me pediu as folhas do manual, que eu tinha juntado do chão. Eu me virei para trás e disse: "-O QUE????? O senhor não tem vergonha?? Não sabe ensinar ao próprio filho o que deve e não deve ser feito!! Estas folhas iriam todas voar para o lixo!! Não devolvo!!".  Aproveitei o momento e frisei bem os meus motivos para não querer o carro: "-Não quero este carro porque voces são uns relaxados!!" E fomos embora, não devolvi a s páginas.
                               Nas décadas de oitenta e novente existiam milhares de carros grandes movidos a gás de cozinha, na maioria deles Galaxies, Dodges, Mavericks e Opalas 4100. Alguns dias atrás, quando conversava com meu amigo Mário Buzian, comentei sobre os Dodges existentes com baixa quilometragem. Isto é raro!!! Os proprietários de hoje não tem idéia do que faziam com estes carros no passado. As pessoas de poder aquisitivo alto, que tinham estes carros, rodavam muito, mas muito mesmo!! Quando os menos favorecidos financeiramente adquiriram os carros, também queriam rodar. Então usavam de todos os subterfugios para isto, e o gás de cozinha era o preferido!! Existiam milhares de Dodges movidos por este combustível na década de noventa. Lembro bem que quando eu era abordado em uma blitz da polícia, a primeira coisa que eles perguntavam era:-"É movido a gás??" Sempre me mandavam abrir o porta malas!!
                              Por isto seguidamente eu fico meio embasbacado quando alguem me vem dizer hoje em dia que : Aah , o meu Dodge tem só 30 mil km, 40mil km, 80 ou 100mil!!! Como tu sabe ???? São raros os proprietarios que sabem da vida pregressa dos seus carros. Dodge com mais de 500mil quilometros é bem comum!     
                              Quando eu estava fazendo faculdade, as vezes ia de carona com um senhor, ele tinha uma Caravan 1979, Verde , SS6. Nova, muito inteira mesmo! Movida à gás!! Dá prara acreditar???    
                              Bom, passados alguns meses, um cliente meu comprou o LeBaron do cliente do meu pai. Sujeito bem conhecido aqui na região pelo apelido de Perinha. Este andou com o carro por algum tempo.  Em uma certa madrugada o Péra vinha pela RS115, Novo Hamburgo a Taquara, e deu uma bangornada com o LeBaron na traseira de um outro carro. O estrago foi grande na frente. Quebrou todo o bico de fibra, o capô dobrou bem no meio e os dois paralamas dianteiros amassaram. Me disse o Perinha  que a mira do Dodge voou uns cem metros de distância na hora do choque!

Logo na semana em que foi comprado, desmontei a frente toda para poder ver o real estado do carro. E foi grande, tive que colocar o Ciborg. Ate as longarinas entortaram. 
                                Bom, o carro estava com a documentação toda atrasada e foi recolhido para o depósito do guincho. O Perinha por sua vez, bem desligadão, deixou o carro preso no depósito. Passado mais um tempo ele comprou um Charger na cidade de Campo Bom-RS. Este Charger estava sendo restaurado em uma oficina daquela cidade. O Perinha veio a minha procura para que eu concluisse o serviço no novo Dodge. Entramos no seguinte acordo. Eu terminaria o Charger em troca do LeBaron, e assim foi. Paguei os documentos atrasados, o serviço do guincho e busquei o Dodge.
                                Primeiro alinhei e recoloquei a frente do LeBaron toda no lugar, troquei capô e o bico de fibra. Quando fiz o motor funcionar, me apavorei com o que vi. O motor do carro parecia ser a diesel, não queimava óleo, derramava óleo pelo cano de descarga. Batia e fumava como nunca tinha visto Dodge algum fazer.
                                Então comecei a andar com este carro do jeito que estava, colocava óleo de caixa de câmbio no motor, hipoide 90. É nestas horas que digo que um Dodge é um tanque. Andei vários meses com óleo 90 no motor. Fazia uma fumaceira e saía um cheiro horrivel, parecia que o carro era uma grande frigideira, cheia de batata frita. Certamente ninguém queria andar atrás de mim. Pensei para mim mesmo, vou andar com este carro assim como está, até fundir o motor. Coloquei pula macacos nas velas e segui andando. Mas isto não aconteceu! O motor não fundia. Pegava bem e nos meses em que andei com ele assim, nunca me deixou na mão.
                                Foi bem nesta época que comecei a namorar minha esposa. Em uma das primeiras vezes que fui a casa dela, fui com este carro. Era horrivel, tinha várias cores diferentes. O capô era preto, um dos paralamas era verde e o outro branco. E aquele fedorão de óleo queimado?? Nem me fala. Bom , jantei na casa dos meus futuros sogros e lá pela meia noite resolvi ir embora. A rua em frente a casa deles, estava sendo asfaltada. Tinham feito enormes boeiros na beira da rua. Quando estava dando marcha à ré no LeBaron, caí em um destes boeiros. A cena era triste de ver!! A lateral traseira do dodge ficou acavalada no asfalto, uma roda traseira, a direita, ficou no ar dentro do boeiro. No dia em que conheci meu sogro , tive que ir pedir ajuda para tirar o carro do boeiro. Paguei um baita micão na largada!!! Depois de algumas macaqueadas tiramos o LeBaron do buraco.
                                Então, certo dia parei de andar com ele e comecei a reforma-lo. Motor eu tinha varios, então coloquei um outro. A lata é que deu bastante trabalho. O interior do carro era muito bom, dava gosto de ver. Era o que me animava no carro. Não sei como com aqueles relaxados, mas era ótimo. No final das contas o carro ficou lindo, o vinil ainda original e sem rasgos, fez um lindo acabamento externo.
                                Sei que na véspera das minhas férias o carro ficou pronto. Fiz uma praia sensacional com ele. Logo que voltei, minha então namorada Valquiria, precisava de uma carro. Ela lecionava em um colégio na cidade de Parobé e precisava ir todos os dias aquela cidade. Então, este LeBaron foi o primeiro dos três dodges que dei de presente à ela.                
                               Usou o carro por um ano inteiro, todos os dias. Neste tempo, ela acabou achando mais cinco professoras para irem com ela, rachavam a gasolina. Imaginem a festa que essa mulherada não fazia dentro de um belo carro como o LeBaron!! Um dia me ligou meio apavorada, tinha acavalado as marchas do Dodge. A alavanca tinha ficado trancada na terceira marcha. Disse a ela que viesse até Taquara assim mesmo. A dificuldade maior seria nas arrancadas, mas queimando um pouco de embreagem, o dodge arranca em terceira razoavelmente bem. No final do ano quando ela entrou em férias já estava decidida a não voltar a lecionar no próximo. Então ficou usando o LeBaron no dia a dia.
                               Foi justamente nesta época em que apareceu o Vanderlei, aquele que tinha se desiludido com um Charger, e que eu comprei com a promessa de lhe arranjar um Dodge. Colocou os olhos em cima do carro e se apaixonou.

Na semana em que a reforma foi concluída, esta é uma das primeiras fotos do LeBaron restaurado
                              Depois de uma breve tratativa, entramos em um acordo para a compra e venda do LeBaron. O amigo Vaderlei ficou muito satisfeito com o carro, andou com ele um bom tempo sem ter problemas.
                               Passados alguns meses ele me ligou meio apavorado, tinha batido o carro em um poste de iluminação pública. Isto foi em uma sexta à noite. Me disse que tinha saido com alguns amigos e tomado uns tragos a mais, se perdeu no centro da cidade de Parobé, subiu a calçada e parou somente ao encontrar o poste.
                               Mandei buscar o carro com um guincho e levei para minha oficina. Um mês depois o carro estava pronto novamente. Como o Vanderlei não tinha muita grana, eu combinei com ele que faria o serviço em 4 pagamentos.  Mas o Vanderlei era um cara que ganhava muito pouco, morava ainda com os pais. Foi uma dificuldade para ele conseguir me pagar o conserto. Levou oito meses! Neste meio tempo ele ficou desempregado e vendeu o LeBaron.
Notem que não tem o chapão traseiro (Magnum/LeBaron). É o que seguidamente comento sobre acabamentos, se não for impecável, melhor não colocar. E foi o que eu fiz.
                                   No tempo em que esteve comigo, usei este LeBaron para rebocar alguns outros dodges que comprei. Tem algumas histórias bem bacanas, como quando comprei um Dart 79 conversível em Porto Alegre, foi uma festa a volta. E outro foi um Galaxie Limosine. Mas estas eu conto quando chegar a vez dos carros.
Placas amarelas, ainda da cidade de parobé- RS


                        Algum tempo depois eu vi este dodge em um ferro velho da cidade de Novo Hamburgo, já todo picado. Foi o fim de um carro que literalmente não teve muita sorte na vida. É uma pena, pois foi uma dos melhores dodges que dirigi!
                        Semana passada lembrei de um fato bacana deste dodge. Aqui na nossa região tem um costume que vem de muito tempo na semana santa. Na noite da quinta feira santa para a madrugada de sexta, acontece a colheita da marcela. São milhares de motoqueiros que passam por Taquara em direção a São Francisco de Paula. Eles vem de todos os lugares. Hoje não participo mais, mas à alguns anos atrás, eu e alguns amigos ficavamos na RS020 esperando os motoqueiros passarem, isto ia madrugada a dentro até o amanhecer do dia. Taquara era um ponto de parada para quase todos eles, paravam na cidade para descansar e se abastecer de garrafões de vinho e cachaça. Brigavam, riam, faziam todo o tipo de prova com suas motos. Naquela época esta legião de motoqueiros, quando paravam em Taquara, sempre faziam muitas loucuras. Toda a extensão da RS020 era tomada por expectadores taquarenses. Por muitas vezes, seguimos junto com eles até seu destino, São Francisco. Chegando lá, a única coisa que não queriam fazer era colher marcela, todos se reuniam em um bar no centro da cidade. Virava uma cidade sem lei, até mortes a tiro aconteceram. Hoje em dia, o policiamento é todo reforçado nesta madrugada.
                        Certa vez, combinei com minha namorada de subir a serra junto com o bando de milhares de motoqueiros, parar em um local da RS020, uns 10km abaixo de São Francisco onde existe um refúgio, paradouro, e fazer um churrasco madrugada a dentro. Coloquei no porta malas do LeBaron uma churrasqueira portátil, uma caixa de isopor cheia de cerveja e nos mandamos. Saímos de Taquara por volta das oito da noite, chegando ao local estava muito frio, então parei o LeBaron e comecei o fogo ao lado do dodge. Conforme os motoqueiros iam passando, viam  o Dodge parado, paravam também. Eles acharam que eu tinha colocado uma banca de venda de churrasquinho e cerveja. Todos chegavam e queriam comprar espetinhos e cerveja gelada. Eu gostei da idéia e comecei a vender churrasco e cerveja. Cada vez mais motoqueiros paravam no local. Em pouco tempo o pequeno espaço do refúgio estava tomado de motoqueiros. Berravam e faziam mais algazarra que um bando de papagaios. Se tivesse me progaramado e imaginado aquilo tudo!! Perdi uma ótima oportunidade de faturar uma boa grana aquela noite.
                          Hoje de manhã, segunda feira 25/04, comprei uma nova churrasqueira portátil. Pretendo repetir a dose no próximo fim de semana no encontro de carros antigos de São Marcos (30/04). Vou lá para tirar algumas fotos, passar o dia de domingo olhando alguns dodges e comer um churrasquinho.
                                         Na proxima postagem falo a respeito da minha segunda moto. Uma Yamaha RD350, ano 1974 verde. A famosa Viúva Negra.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Dart de Luxo Sedan 1979 Preto

                              Hoje narro a história do meu vigésimo carro, décimo terceiro dodge.
                              Dedico esta postagem aos amigos da turma do V8, época mágica da minha juventude: Tiago Seger, Carlos Alberto de Oliveira (Ganso), Eraldo Cananni e Alnei Max Badermann. Escolhi esta postagem para falar um pouco mais deles porque este Dart sedan, foi também, do irmão do Eraldo, então é mais uma coisa em comum entre nós.
                              Conheci o Alnei e o Eraldo no ano de 1970, quando todos nós entramos no jardim da infância. Foi no Grupo Escolar Rodolfo Von Ihering. Esta escola fica bem em frente onde tenho meu escritório/oficina hoje. Depois nos afastamos, pois eles foram estudar em colégios diferentes dos quais eu estudei.  Sei que os dois sempre andaram juntos. Eram amigos muito unidos, com toda certeza, da nossa turma da época eram os mais ligados.
                              Muitos anos mais tarde nos reaproximamos, foi lá pelo ano de 1978 ou 79,acho eu.  Quando isto aconteceu, a dupla já tinham se juntado a mais dois amigos. Então conheci o Tiago e o Ganso. Foi uma fase da minha vida muito boa. Talvez nem eles saibam o quanto.
                              O tempo foi passando e a nossa turma ficando cada vez mais unida, nos encontrávamos todos os dias, ou quase, e ficavamos até alta madrugada trovando nas esquinas de Taquara. Época que existiam três boates famosas em nossa cidade, duas convencionais e uma não. As duas convencionais ficavam no centro da cidade, uma era no Clube comercial, se chamava Gota D'agua. A outra era no clube GEU. Bem diferente dos dias atuais, estas duas eram famosas por toda região. Taquara era uma cidade referência, tinha um enorme comércio, restaurantes, cinema, bares, entre tantas outras coisas, o que fazia da nossa cidade um grande centro regional.
                             As duas boates ficavam dentro dos clubes mais tradicionais da região. A outra, bem menos comentada, mas  muito mais famosa e badalada, servia a classe masculina. Era conhecida no estado inteiro, na época nem eu sabia disto. Muitos anos mais tarde, fiquei sabendo nas minhas andanças por Porto Alegre e região metropolitana, que a boate Apolo 11 era referência estadual, trouxe cantores famosos do Brasil e até do exterior para animarem as grandes noitadas.
                               Portanto, nos sábados à noite vinham pessoas de várias cidades e consequëntemente apareciam muitos Dodges estranhos por aqui. E nós ficávamos vagando pelas ruas observando atentamente esta legião de carros e pessoas diferentes. Dificilmente um de nós cinco tinha um programa separado. Tem um outro camarada, mas este, não se juntava a nós com uma frequência assídua, o Kaka. Carlinhos. 
                                Dos cinco, o único que sempre estava de carro era o Alnei, sempre teve muita liberdade dos pais, gente rica. Já contei isto aqui no blog antes, mas vale lembrar, o pai do Alnei foi quem comprou o primeiro Maverick GT 302-V8 novo da cidade, ano 1974, vermelho Cadmiun. Lembro como se fosse hoje, na vitrine da agência Ford, Carluf ltda, estavam expostos dois Mavericks GT, um vermelho e um amarelo . O outro Maverick GT, o amarelo, foi vendido para um senhor, também conhecido nosso, do interior do município.
                               Neste Maverick do pai do meu amigo, nunca andei. Já tinham vendido quando me reaprocimei. Sei que algum tempo depois de compra-lo, o sr Hari, pai do Alnei, emprestou o Maverick GT para um cliente da fábrica e este caiu de uma ponte com o carro, então o venderam como estava. Foi consertado pelo novo dono. Posteriormente vi este GT por muitos anos andando em Taquara. O cara que comprou não tinha garagem, o carro dormia na rua , em frente a um edifício. Por fim, o dono dele foi morar nos EUA, e o Maverick também sumiu.
                                O avô do Alnei, sr Max, comprou o último Maverick 1979 LDO V8 que foi vendido na agência Ford de Taquara, que também durou pouco na família, pois foi abalrroado por um Fuca e destruiram a frente do carro. Mas antes de terem destruido o carro, houve muitas saidas nossas com ele. O sr Max morava em um apartamento no centro de Taquara, que dava para os fundos da fábrica. Por várias vezes pegamos o carro "emprestado" nas noites e madrugadas.
                                Certa vez escutamos uma conversa da avó do Alnei, dona Osmilda, com o marido, sr. Max. Ela disse, em tom bem alemoado: -"Max, este carro (Maverick) tem algum problema, é novo, tem só cinco mil quilometros, tem três pneus novos ainda, mas o pneu traseiro direito está completamente careca!!"
                               Para quem conhece, os Mavericks 79 sairam com os famosos pneus goodyear G800 205/70-14. Além de serem bem largos, eram os pneus mais bonitos que eu já vi na vida. Certa vez a dona Osmilda bateu em um cordão de calçada com o Maverick e cortou um dos pneus, deu um talho na banda. Eles colocaram o pneu fora e eu guardei de lembrança.
Pneu GoodYear, G800. 205/70-14. Para mim, um dos mais lindos pneus brasileiros. Eram de linha nos Mavericks V8 ano 1979. Também saíram nos Galaxies apartir de 1978. Este da foto, é  muito especial para mim. É o pneu original do Maverick LDO do avô do meu amigo Alnei. Saiu da fábrica da Ford. Tenho ele guardado a sete chaves, todas as vezes que o vejo, me vem lembranças muito agradaveis.
                                Depois que este Maverick foi batido, venderam ele e compraram um Galaxie LTD marrom, que também , por várias vezes saímos nas madrugadas. Tem muitas histórias desta noites, quando saíamos com estes carros novos. Este Maverick V8 LDO, depois do acidente com a avó do Alnei, foi comprado por um dono de oficina, que o arrumou e andou por anos. Depois vendeu e também se perdeu, nunca mais vi. Quando o sr Max morreu, o Galaxie também foi vendido.
                                O pai do Ganso, seu Joel, também teve um Maverick Super V8, muito bonito. Era vermelho e tinha teto de vinil preto. Várias vezes fui junto com eles passear em Gramado nos finais de semana. Tenho boas lembranças das nossas conversas, quando nos encontravamos todos os sábados, em frente a casa dele. O Maverickão parado na rua e nós apreciando. Que tempo aquele!!!
                                No início da década de oitenta o Tiago tinha ganho do pai, senhor Rudi, uma Honda CB200 linda, que algum tempo depois trocaram, quando lançaram a CB400. Fato que lembro bem eram os nossos encontros no centro de Taquara, todos reunidos e tagarelando. Eu e o Ganso é que ficavamos até mais tarde da madrugada, os outros iam dormir. Nos domingos de manhã, eu dormia até meio dia, e seguidamente o Tiago que levantava cedo, passava lá em casa com a Honda CB400. Ia lá só para me tirar da cama as 9 ou 10 da manhã. Ula que eu tinha raiva daquilo!!! Tu era um xaropão cara!!!  Mas amigo a gente releva.
                                Certa vez, estávamos eu e o Ganso na cidade de Igrejinha com o Opala de Luxo, 1978 do meu pai. Nesta época, eu ainda não tinha carteira de motorista. Mas, era outra época, então seguido nós iamos até esta cidade para dar umas voltas. Naquela noite, casualmente, estavam inaugurando uma boate no centro da cidade, a calçada em frente ao prédio estava lotada de gente, todos aguardando na bilheteria.  Parei em frente a boate e comecei a fazer zeros com o Opalão, foi uma sequência de várias voltas, pé no fundo. Até hoje deve ter fumaça daqueles pneus voando pelos ares da região. Fazia uma sequência alternada, dando primeira no fundo, passando para segunda e retornando para primeira, alternando as marchas conforme a rotação do motor ia exigindo. Se o meu pai ler isto me mata!!! Até que em uma destas trocas de marcha, de primeira para segunda, a nojenta da caixa de 4 marchas do Opala, entrou ré. Quer dizer, claro que não chegou a entrar, mas acavalou as marchas. Tudo trancado, não ia nem para frente nem para trás. Entrei em pânico, pensei: to Fud...., enrolado, que vou fazer meu Deus do céu!!!!Nunca mais vou poder voltar para casa!!!
                              Já passava das duas da manhã, entramos desesperados na boate atrás de um amigo taquarense, que minutos antes,  tinhamos visto entrar. Seu apelido é Fet Boy. Depois de alguns minutos lá dentro, encontramos o Fet, ele estava completamente mamado de cerveja. Contamos o que tinha acontecido e ele disse categórico:-"Vou resolver o teu problema". (Já viram algum bebado resolver problema de alguém????) Disse que conhecia um ótimo mecânico na cidade, que este era seu amigo, e que iria desacavalar as marchas do Opala. E eu acreditei!!!!!!!!!!
                              Bom, saímos da boate e entramos todos no Fuca do Fet. Ele durinho da manguaça,  mas... saímos em busca do tal mecânico. O Fet Boy dirigia alucinadamente pelas ruas desertas da cidade, parecia que iria terminar o mundo!Acreditem, após andarmos algumas quadras  ele entrou em uma rua na contramão, e não deu outra, tinha um enorme de um Galaxie estacionado em frente a um hotel, Galaxie novinho, novinho!! E..., nós batemos de frente no Galaxie!!! Eu estava sentado atrás, o Ganso na frente, lado carona e o Fet na boleia. No momento da batida, eu não esperava, voei para frente empurrando o banco dianteiro. Como o fuca não tem trava do banco, empurrei o Ganso contra o parabrisa. Imediatamente a nossa busca foi interrompida por aquela "parede".
                               No momento da batida o Fet disse: Vamos fugir, vamos fugir!!! Bebado é sem noção mesmo!! Não viu que o fuquinha não andava mais!!! O Ganso abriu a porta e voou para fora segurando a boca e berrando: Quebrei os dentes , quebrei os dentes...!!! Neste exato momento apareceu o porteiro do hotel, que mais parecia um General do Exército, gritando: Parem onde estão!! Tá todo mundo preso!! Se instaurou o caos na minha cabeça!!
                              Graças a Deus o Ganso não quebrou nenhum dente, nem ao menos se cortou. Foi só o susto. Alguns minutos depois o dono do Galaxie desceu do apartamento para o olhar o estrago no carro. Era um representante comercial que estava hospedado na cidade. Eu, neste momento, estava quase infartando! Só lembrava do meu pai, o que ele iria dizer do Opala!! Bom, fui olhar os estragos no Fuca, amassou a dianteira. Capô e paralamas. Incrivelmente o Galaxie apenas rasgou a borrachinha que tem no parachoque. Era um carro do ano, zero quilometro. O dono foi muito camarada, não chamou a polícia e não cobrou o estrago do Galaxie. A chutes e pauladas colocamos os paralamas do fuca no lugar e destravou as rodas. Eu estava totalmente desnorteado. Não quis mais entrar no fuca e voltei para onde estava o Opala a pé.
                              Chegando lá, entrei em um bar, pedi ao dono para dar um telefonema. Liguei para a casa do meu amigo Alnei. Eram três da manhã, seu Hari atendeu o telefone meio dormindo. Pedi desculpas e expliquei o caso a ele. Precisava urgentemente do Alnei, para me rebocar até Taquara com a Toyota. Ele me disse que o Alnei tinha ido à Porto Alegre, mas assim que chegasse, daria o recado.
                              Aí desanimei, fiquei sem ação, achava muito difícil o seu Hari falar com o Alnei naquela madrugada, pois estava dormindo. Caso falasse, achava quase impossível o Alnei, aquela hora da manhã, ir me socorrer. Literalmente eu estava em um mato sem cachorro!
                              Quando eram quase 5hr da manhã, as ruas já vazias, escutei o ronco da Toyota em alta velocidade cortando a avenida. Gritei e pulei como se tivesse ganho na megasena. Lembro muito bem do rosto dele, como sempre, estava com um belo sorriso. Ao parar a Toyota disse:"- Vocês só me dão trabalho!!!" E começou a rir. Atrelamos o Opala atrás da Toyota e fomos para Taquara. Na chegada a cidade, paramos e fui testar o Opala, para minha surpresa, a caixa continuava acavalada, mas tinha engatado a segunda, portanto o carro andava, só em segunda mas andava. Então fui para casa andando. Quando entrei portão a dentro, eram 6hr da manhã. Esperei meu pai acordar e contei que tinha acavalado as marchas do Opala, claro que omitindo alguns fatos. Levei uma bela e merecida de uma bronca e fui dormir.
                              A caixa do Opala/Caravan 4 marchas, a meu ver, tem um grave defeito. Uma chavetinha que segura os garfos, lá dentro, que é muito frágil. Anos depois aconteceu comigo a mesma coisa com uma Caravan 4100/250-S.
                              Esta foi apenas uma, entre as centenas das histórias com meus amigos. Todos foram ótimos amigos, mas o Alnei se destacava por algumas coisas. Pessoa muito boa,  honesta e muito prestativo. Nunca vi ele falar de outra pessoa que não fosse para elogios. O que era dele era de todos. Nunca se negou a ajudar ninguém. Esta me fazendo falta e acredito que para meus outros amigos também.
                              Em seguida compramos nossos próprios carros, o Dart sedan 75 foi o primeiro deles e depois o Chevrolet  Impala. O tempo foi passando, todos nós fazendo cursinho para vestibular,etc, etc. A vida ia seguindo conforme o combinado, até o dia 10 de julho de 1986, por volta das cinco horas da tarde. O Alnei estava indo a Porto Alegre para mais uma aula no cursinho pré vestibular e se envolveu em um acidente. Bateu de frente em um caminhão Chevrolet. Quando foram lá em casa me avisar do acidente, já me anteciparam que meu amigo não tinha resistido ao impacto. Lembro que passei aquela noita inteira sem dormir, fiquei andando pela cidade, a pé. Foi uma noite fria de inverno,  o céu estava totalmente limpo e estrelado. Lembro bem a última vez em que eu e o Alnei conversamos, foi no domingo anterior ao acidente, em frente ao cinema Cruzeiro. Ele estava muito alegre, como sempre! Foi a nossa despedida.
                                 Alguns dias depois , ganhei da dona Loiri, mãe do Alnei, a caixa de ferramentas do meu amigo. Ela estava atrás do banco do carro acidentado, totalmente amassada. Guardo ela até hoje.
                                 Após a morte do meu amigo, a nossa turma ficou bem abalada, e tenho certeza absoluta, quem mais sofreu foi o Eraldo. O Tiago logo foi morar em Porto Alegre, eu e os outros dois ficamos em Taquara, mas não nos viamos mais com muita frequência.

Esta foto do meu amigo Alnei Max badermann foi me entregue pela mãe dele, dona Loiri, alguns dias depois da trágica morte do meu amigo

Nesta foto, nós estavamos no interior da fábrica. O Alnei tinha tirado o motor de uma DKW que ele tinha comprado recentemente, para reforma. Ao fundo o motor.

Para mim esta foto é nostálgica. Lembro claramente o dia em que foi tirada. Na esquerda o João Nicolinni, no centro o Alnei e a direita sua namorada Déinha. Ao fundo, em cima de tonéis, a DKW, toda desmontada. Esta foto foi tirada alguns dias antes do acidante que vitimou os dois. O Nicolinni tinha pego uma carona com o Alnei, também se foi!
                                                  Muitos anos depois....Dart de Luxo Sedan 1979
                                 O Eraldo tem dois irmãos, Duda e o Aldo. O Aldo comprou este Dart, mas quem andava muito com ele era o Eraldo. E este Dodge sedan era ótimo de andar, macio e silencioso. E com uma mecânica talmente confiável. O carro éra muito inteiro, não tinha massa plástica, tinha os estofamentos originais, câmbio de 3 marchas na coluna. Conforme saiu do forno! Logo que foi comprado foi feita uma revisão geral, e o que se constatou foi de que havia sido uma ótima aquisição.
                                 Teve uma época em que eu e o Eraldo iamos com o carro quase todas as sextas à noite para Porto Alegre. Eu ficava com o Dodge já nas quintas feiras ou as vezes nas sextas pela manhã. O Eraldo trabalhava em Parobé, em uma fábrica de sapatos. Ao fim da tarde, eu ia a Parobé , pegava o Eraldo, e iamos direto a Porto Alegre.
                                 O nosso amigo Tiago já morava lá, na rua Duque de Caxias. Por algumas vezes passamos no apartamento e ele ia junto nas nossas festas. Iamos em bares ou boates e ficavamos até o fim da madrugada. Por algumas vezes encostavamos o carro em uma rua qualquer e dormiamos dentro. Não digo que passavamos uma ótima noite de sono, mas com um pouco de trago na cabeça, vai bem.
Foto clássica, em frente a fábrica Max Badermann. O Dart Sedan Preto e o Magnum Ártico. Foto tirada em um domingo à tarde. Após a morte do nosso amigo, por várias vezes nós paravamos para prosear em frente aos predios da fábrica, local em que tanto nos divertimos dentro. Passamos muitas tardes neste local, relembrando das nossas histórias. 
                                   Sei que o tempo foi passando e o Aldo acabou vendendo este Dodge, não sei para quem, mas algum tempo depois vi o carro à venda em Novo Hamburgo. Fui até lá e comprei o Sedan. Praticamente usei ele só para ir a faculdade, durante um mês inteiro, lembro bem das idas para a faculdade, passava mais andando no centro de São Leopoldo do que nas salas de aula. Mais ou menos um mês depois, apareceu um cara na oficina, olhou o Dart e não parou de incomodar enquanto eu não vendi o carro para ele. O sujeito era da cidade de Caxias do Sul.  Certo dia  fiquei sabendo que quem estava com o Dart, era o meu amigo Corvão, lá de Canela. Fiquei feliz em saber, pois o Dodge era muito bom.
                                   Algum tempo depois, apareceu um cliente desesperado atras de uma caixa de 4 marchas do Dodge, e eu não tinha mais nenhuma em meu estoque. Fui até Canela e falei com o corvão, ele tinha duas e me vendeu uma. Passou mais algum tempo, o Corvão me ligou oferecendo a outra caixa, então, combinei com ele que nos dias seguintes iria busca-la.
                                    Na semana seguinte, acho que foi uma quinta feira, bem cedo por volta das 6hr, estava eu subindo a serra para buscar a outra caixa do Corvão, cheguei na cidade de Gramado e peguei a estrada para Canela. Logo na saida da cidade de Gramado, existe um paradouro (Belvedere). A vista é muito linda, é um penhasco, de uns... sei lá, mil metros, é muito alto! É muito profundo, é bonito e assustador ao mesmo tempo. Quando eu estava passando bem em frente a este paradouro, olho para a murada de concreto e vejo o Corvão parado, meio descabelado! Parei e ele me disse, olha onde está o meu Dart preto. Olhei lá para baixo, só se via umas latarias amassadas, de cores pretas. O carro estava pendurado em galhos de árvores. Acho que o carro despencou uns duzentos metros morro  abaixo e ficou grudado em árvores. Foi a sorte dele, um pouco mais abaixo não tinham mais árvores, iria ser uma queda livre.
                                   Perguntei: -Que houve?? E ele: -Fui em uma festa em Gramado, tomei todas, quando estava voltando para casa nesta madrugada, dormi no volante e caí lá em baixo.
Como da para observar, não sobrou muita coisa do Dart. Não ficou uma peça de lataria sem amassados, quebraran-se todos os vidros. Ficou em estado pior do que se tivesse participado de uma prova de shock-car. Mas o mais incrivel disto tudo, é que o carro veio rodando de Canela até Taquara. Incrivel!!
                                       Bom, fiquei ali até que veio um guincho puxar ele de volta para a estrada. O mais impressionante de tudo, foi que quando o carro foi puxado e colocado na estrada novamente, o Corvão entrou dentro do carro, bateu arranque e o Dart funcionou!! Acertou com o guincheiro e o dispensou. Do local onde estavamos até a casa do Corvão, dá uns 15km, foi rodando com o Dart, e eu de batedor. Chegando em casa é que ele foi olhar os estragos do carro. Não tinha mais volta para o Sedan.
                                        Eu que tinha ido lá para comprar a outra caixa de dodge, acabei comprando a caixa e o Dodge Sedan novamente. Dois dias depois fui lá buscar o carro. Como ele estava funcionando, fiz a viagem de Canela a Taquara rodando. Já conhecia uma boa rota alternativa, a mesma que tinha feito com o Dart azul Capri. A viagem foi bem engraça, cruzei por algumas pessoas e carros no caminho. Todos tinham uma visão diferente e inusitada. Faziam caras de pavor ao olhar para o carro. Eu tinha levado um capacete para usar, pois tinham muitos cacos de vidro dentro do carro, sem contar o vento gelado. Parecia um carro de rali, que participava de uma prova e capotou.
                                        Cheguei em Taquara estava anoitecendo. No dia seguinte  comecei a desmanchar o carro. De todos os dodges que desmanchei, este foi o mais rápido que vendi todas as peças. Do dia em que comprei ele, não levaram dois meses, vendi tudo em peças. Tive um lucro fenomenal. Até porque, era um carro de uso diário, não estava abandonado. Então as peças que não estragaram no acidente, eram todas boas.
                                       Houve uma época, em que quase todos os sábados, eu e alguns amigos faziamos churrasco na minha oficina, como eu não tinha churrasqueira, tive a idéia improvisar uma no porta malas deste Dartão!! Tirei a tampa do porta malas e fazia o fogo no assoalho. Os espetos eram escorados no lugar da tampa. A carne tinha um gosto todo especial, sabor Dodge Dart!!  Foram vários e vários churrascos ali dentro, até que certo dia o assoalho caiu!! Foram tiradas algumas fotos destes eventos, mas infelizmente não achei.
                                        Na proxima postagem falo sobre um Dodge Le Baron 1980, prata

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Dart DeLuxo 1975 Branco Valencia

                                       Hoje, na contagem geral,  falo sobre o meu décimo nono carro, décimo segundo Dodge.
                          Recebo semanalmente na minha caixa de mensagem, inúmeros e-mails de alguns leitores deste blog. Alguns deles querem agradecer pela iniviativa do blog, outros querem peças, dicas de manutenção, outros apenas conversar sobre dodges, e etc, etc. Mas, tem  alguns em especial, que realmente me deixam profundamente sensibilizado. São relatos particulares, profundos, íntimos, que apenas são relatados entre grandes amigos. Um exemplo, foi o que recebi semana passada, do amigo Fabrício (Dart 74 preto onix). Cara, tu realmente é uma pessoa honrada, no verdadeiro sentido que esta palavra significa,  a tua felicidade nesta vida está garantida.
                          Em uma noite no final do ano de 1996, o meu grande amigo Darcy Ferrari (o homem que realmente tinha milhares de peças de dodge) me ligou para conversar. Ficamos quase uma hora ao telefone. Ele tinha perdido o único filho recentemente e estava passando por uma fase bem difícil da vida. Me disse que, para ele, a vida não tinha mais sentido, estava velho e cansado. Perdera o encanto pela vida, estava sem forças para continuar. Não queria mais trabalhar. Estava muito abatido e triste. No final da nossa conversa ele me ofereceu todo o estoque de peças que tinha e mais 4 Dodges que tinha em casa. Tentei muito anima-lo, mas... nestas horas acho que não tem muito o que se falar para animar uma pessoa. O melhor é escutar e deixar a pessoa desabafar.
                           Disse a ele que iria lhe fazer uma visita nos próximos dias, mas já de ante mão, avisei que não poderia comprar as peças, e muito menos os carros. Pois eu estava em ritmo acelerado na construção da minha casa. Se me virasse de cabeça para baixo, só cairiam contas. Eu também não queria que ele parasse de trabalhar, ele sempre foi um incentivador, parceiro e modelo para mim. Principalmente nas épocas criticas de se trabalhar com dodges. Que foram praticamente toda a década de noventa. Os ricos que tinham dodges quando novos, praticamente já não existiam mais. A nova classe de proprietários era bem baixa, em todos os sentidos. Claro , com exceções.
                            Os dodges passaram por uma fase de destruição nos anos 90. E digo de certeza para vocês, as pessoas como eu e ele sofreram muito nesta época. Nós investimos a nossa vida inteira em restaurações e compras de peças. Foram feitos investimentos de grande monta em ferramentas, pesquisas e tudo mais relacionado a Dodge. Foram milhares de reais investidos, que nesta fase, não houve um retorno satisfatório. Os preços dos carros cairam vertiginosamente e paralelamente a isto, ninguém queria pagar quase nada pelas peças. Conheci inúmeras pessoas que trabalhavam com peças de Dodge e Galaxie que abandonaram tudo, ou porque faliram ou se desesperançaram com as vendas. Eu mesmo, muitas vezes, fui  desencorajado por alguns amigos mais intimos, eles me diziam :-" Cara, larga tudo isto porque já era, estes carros nunca mais vão valer alguma coisa!!  Mas, eu sempre fui muito persistente e acreditei que as coisas iriam mudar. Como dizia o meu sogro, em um negócio o cara tem de criar limo nas mãos. Todo tipo de ramo tem seus altos e baixos. Mas naquela época realmente estava demais.
                           Não é difícil imaginar. Pensem no ramo de negócios de vocês. Tu faz vários investimentos esperando um retorno e ele não vem. Somado a isto, por diversas vezes, apareciam compradores maldosos e inescrupulosos, que quase na sua totalidade, não tinham a mínima condição financeira de ter um carro. Como não tinham condições de comprar peças, quando saiam da minha frente falavam mal e denegriam a imagem. Senti isto na pele! É que naquela época, dodge não era um carro antigo, era um carro velho, este diferencial é muito significativo!! Este tipo de gente existe até hoje, são pessoas que não tem a mínima noção do que é, e era, empreender no ramo de autopeças antigas.
                           Hoje em dia é muito bom se comparado naquela época! Não estou falando de ferro velho! E mesmo que assim falasse, se pensarmos em um ferro velho, este lida com todos os tipos de carros e não somente com uma marca exclusiva, e pior ainda se esta marca for falida! Comprar um produto sabendo que só vai vende-lo anos depois, ou até mesmo nunca vende-lo, é literalmente ficar com o dinheiro em uma prateleira! Também não queiram comparar com as pessoas que, aleatoriamente, tem uma peça ou outra. Por isto, eu particularmente, não vendo peças baratas. Graças a Deus, não dependo mais destas vendas para sobreviver. Por muitas vezes comprei peças sem precisar comprar. Por várias vezes deixei de fazer o que gostava para manter estoques ou pelo prazer de possuir as tão desejadas caixinhas azul/branco/vermelho.
Uma pequena amostra das inumeras caixinhas mágicas Mopar
                           Tenho investimentos guardados de quase trinta anos atrás, não vou entrega-los assim. Imaginem se todo aquele dinheiro fosse corrigido até hoje?? Falo isto porque, provavelmente, para uma grande porcentagem de vocês que estão lendo, já devem ter xingado algum vendedor de peças antigas!! Certo?? Certo! Mas pensem no lado do vendedor, a quanto tempo tem aquela mercadoria guardada?? E em alguma época do passado aquilo foi comprado e pago! É como digo sempre, Dodge para mim, além de muito prazer, foi um negócio! E negócio tem de dar lucro, se não quebra!
                             Mas voltando ao Ferrari. Uma semana depois fui até a oficina dele. Passei o dia inteiro lá,  conversamos muito, relembramos das coisas boas que tinhamos vivenciado juntos, de tudo de bom que tinhamos adquirido com o nosso trabalho. Relembramos dos clientes e dos casos engraçados que tinhamos vivenciado. Tinhamos passado muita coisa em comum. Alguns dias depois ele me ligou novamente para dizer que iria contiuar trabalhando por mais algum tempo, tocar a vida pra frente! Acho que valeu a pena a minha visita a ele!
                            Bom, neste época comprei o serviço de guincho em Taquara. Fazia a remoção de carros acidentados,  problemas de documentação, carros roubados, etc. Trabalhava integrado com as três polícias da cidade. Civil, militar e rodoviária. Trabalhava neste serviço 7 dias por semana, 24 hora por dia. Meu plantão era permanente, foi uma época em que fiquei quase louco! Então nos afastamos por alguns anos. Seguidas foram as vezes que fui a Porto Alegre levar um carro acidentado, mas quase sempre, minhas idas até Porto Alegre eram à noite ou durante as madrugadas. Nas poucas vezes que fui durante o dia, dava uma rápida passada lá para por as conversas em dia. Mas, infelizmente, eu não via mais felicidade em seus olhos! Nas últimas vezes que fui, não encontrei ninguém, tanto na oficina como em casa. Também por escassas vezes nos ligavamos.
                             Passaram-se alguns anos, certo dia um outro senhor de Porto Alegre me ligou oferecendo um razoável estoque de peças de Dodge. Combinamos um horário e fui até lá. O sujeito morava em um apartamento bem no centro da cidade, e este estava atulhado de peças. Ele morava sozinho, tinha apenas um cachorrinho que vivia com ele. Para andar no apartamento a gente tinha que pular por cima das peças. Era lindo e horrivel ao mesmo tempo. Se ele fosse casado, seria o caos! Isto vem bem a calhar com o que escrevi em uma postagem passada. Os antigos donos de Dodge montaram verdadeiros acessórios em casa. Bom, para variar um pouco, comprei todas as peças dele. Fiz duas viagens com minha Chevrolet C10, atulhada, para poder trazer tudo. Na segunda e última viagem que fiz, quando estava saindo de Porto Alegre, me bateu uma saudade enorme do amigo Ferrari, então resolvi voltar e passar na casa dele. Pensei que se tivesse sorte, encontraria ele em casa.
                              Cheguei em frente a casa e bati palmas várias vezes. Esperei por uns 10 minutos e nada! Estava quase indo embora quando vi movimento dentro de casa.. Quem me atendeu foi dona Angela, esposa do Ferrari. No primeiro momento ela não me reconheceu, aí eu disse: -Sou eu, o Cuti! de Taquara! Ela respondeu sorrindo:" -Nossa, como tu envelheceu! Não te reconheci sem cabelos e de barba grisalha!" Rimos um pouco e lhe perguntei pelo meu amigo. Ela me respondeu: "-Infelizmente o teu grande amigo faleceu, já fazem 4 meses". Não escondo que fiquei com os olhos marejados, exatamente como agora, enquanto relembro esta história...
                               Dona Angela e eu, conversamos demoradamente sobre o meu amigo. Ela me contou que, nos últimos tempos de vida, o Ferrari falava muito em mim, quase que todos os dias. Que me queria como se fosse um filho, me ensinou muitas coisas e também prendeu! Naquele momento eu tinha um enorme nó entalado na minha garganta. Ela continuava falando e eu não escutava nada! Na minha cabeça passava um filme, em alta rotação, recheado de imagens e lembranças dos tempos de convívio com meu amigo. Passaram-se alguns minutos até que eu voltasse a realidade e começasse a escuta-la novamente. Eu sabia que aquele momento seria um marco para mim. Uma amizade ímpar tinha chegado ao fim da jornada. E certamente, a minha vida, também não seria mais a mesma coisa.
                               Conversamos por mais de uma hora e não tive coragem de lhe perguntar a respeito das peças, mas... não foi preciso, ele mesma falou.
                               Me disse: "-Cuti, por diversas vezes pensei... quando tu irias aparecer aqui, não te liguei porque não sabia teu número. O Ferrari, prevendo sua partida, alguns dias antes de falecer, me mandou esperar, porque sabia que, mais dia menos dia tu irias aparecer e quando tu viesse, eu vendesse todas as ´peças pra ti. Elas estão te esperando já faz algum tempo".
                               Ela continuou: "-Eu não entendo nada de peças, a algum tempo veio um rapaz aqui, queria uma lanterna traseira do Magnum. Fui até o depósito e peguei uma nova. O rapaz disse que iria me pagar na outra semana. Ele levou a lanterna e nunca mais apareceu, não recebi até hoje, depois de meses". Realmente eu não consigo acreditar que um ser humano possa se aproveitar de uma senhora, em uma hora difícil como a que ela estava passando!
                                 Bom, acertamos o preço, peguei o talão de cheques e paguei ela naquele momento, sem ao menos olhar o que tinha de peças em estoque. Sentia um misto de tristeza, saudade e alegria. Uma combinação nada harmônica. Combinei com ela de começar a buscar as peças na semana seguinte, pois já estava com a minha C10 lotada de peças da outra compra. Os Dodges, o Ferrari tinha vendido antes de morrer.
Esta foi o primeiro dos vários cartões que ganhei do Ferrari. Início da década de oitenta.
                               No dia combinado, cheguei lá e dona Angela já estava a minha espera. Conversamos um pouco e fomos até o depósito das peças. Quando as portas foram abertas e olhei o quanto de peças novas tinha lá dentro, quase tive um infarto!!!, Fiquei chocado, paralisado, estupefacto, não sei qual palavra usar! Fiquei tonto e não sabia por onde começar. Com toda certeza, dos inúmeros estoques de peças que desentoquei, este estaria entre os maiores. Até mesmo das concessionárias que limpei.
                               Dona Angela olhou para mim,  me pediu licença e disse-me que precisaria dar uma saída, mas voltava logo. Que eu ficasse a vontade, com se estivesse em casa. Virou as costas a saiu.
                               Antes de começar a carregar as peças, sentei em uma cadeira que ali estava, fechei os olhos e pedi perdão ao meu amigo. Perdão por estar levando tudo aquilo que ele amealhou em uma vida inteira de trabalho. Em seguida, agradeci a ele por ter deixado tudo aquilo para mim! Só então, lentamente comecei a separar e carregar as coisas. Levei quase dois meses para pegar tudo, foram exatamente 17 viagens com a minha C10. A caçamba lotada até a altura da cabine, e dentro dela, somente sobrou um pequeno espaço para eu poder dirigir. Lotada mesmo, em todas as dezessete viagens.
Meu cartão da oficina nas décadas de 80 e 90

Cartão da época do guincho

                                                         Muitos anos antes...    Dart de Luxo 1975.
                                      Certa vez apareceu na oficina, um senhor que veio de mudança do interior do estado.  Se chamava Machado. Queria me conhecer e falar a respeito da manutenção do Dodge que tinha. Este homem tinha vários postos de gasolina no estado do RS. Sendo que,  dois deles, tinha comprado recentemente em Taquara.
                                     Além de ser uma ótima pessoa, se tornou um excelente cliente. Fazia manutenções regulares no Dodge, pois viajava regularmente com o carro por todo o estado do RS. Ele logo se agradou do meu jeito simples e prático de fazer as coisas. Acho que por isto fiz tantos clientes no estado inteiro, tenho facilidade em explicar as coisas de um modo tão simples que o mais leigo entende rapidamente. Conheci inumeros mecânicos que gostavam, e gostam até hoje, de usar palavras difíceis, termos em ingles, cálculos matemáticos e físicos que somente são usados na NASA, mas na realidade  não conseguem explicar e convencer a eles mesmos. Sei que neste ramo de mecânicos, como a maioria das profissões, existe muita inveja, falta de caráter. E assim como todo mundo, de longe fui uma unanimidade! Tem muita gente que fala mal da concorrência, e eu também não escapei disto. Semana passada quando o Mário Buzian esteve aqui me visitando, me falou de mais um. O engraçado disto, é que, nas raras vezes que  encontro o tal sujeito, vem me puxar saco! É mole?? E não é somente os mecânicos, tem cliente também. Cada um no seu setor. Os mecânicos porque querem os teus clientes e os clientes porque o cara é um careiro de marca maior, pelo menos no meu caso, porque, nos meus quase trinta anos de oficina, não lembro de um cliente que saisse descontente com a qualidade do serviço, por preço sim, eu nunca fui barateiro! Mas, desejo sorte a todos eles, porque eu já fiz a minha parte, e quando me perguntam sobre alguém, dificilmente vão me escutar denegrindo a imagem, procuro sempre ressaltar algo positivo!
                                      Bueno, desculpe o desabafo!! Fiquei fazendo a manutenção deste carro por aproximadamente um ano, depois o sr Machado trocou o Dodge por um Maverick V8, com o qual, eu também comecei a realizar a manutenção periódicamente.
                                     O sr Machado ficou com o Maverick por apenas alguns meses, acho que se decepcionou um pouco, pois o carro não era grande coisa, e provavelmente se decepcionou também com os postos de combustível em Taquara. pois acabou vendendo o carro e os dois postos de combustível.
                                     A coisa mais gratificante para um profissional, é ser reconhecido pelo que faz bem feito. As vezes é ate mais importante que o dinheiro. Existem várias pessoas que não fazem esta gentileza, mas não foi o caso do senhor Machado. No dia em que foi embora de Taquara, me convidou para uma grande festa que fez, para se despedir dos amigos que tinha feito na cidade. E eu fui um dos homenageados.
                                     Senhor Machado, se algum dia chegar a ler esta postagem, quero que saibas que também o considero, até hoje, um grande amigo.Obrigado por tudo!
                                     Nunca mais tive notícias dele. Não sei também que fim levou o Maverick. 

Em frente a minha primeira oficina, que se localizava no terreno ao lado da casa dos meus pais
                                            Algum tempo depois, descobri que o Dodge estava com um cara que fazia entregas com uma Kombi. Este sejeito não tinha garagem e deixava o carro na rua. Certa noite, um bebum dirigindo uma Brasilia achou o Dodge estacionado e colocou  a traseira para dentro. O dono  não tinha recursos para arrumar o Dodge e muito menos o borracho que bateu nele. 
                                            Então o Dodge ficou parado e abandonado no local por algum tempo. A aparência do carro até não era muito boa, mas a macânica eu conhecia, então passei lá e comprei o Dodge. Comecei a depena-lo no mesmo dia. Tinha encomendas de várias peças.   Tinha um ótimo motor e uma caixa de 4marchas muito boa.
 Esta foto foi tirada na semana em que comprei o Dart, imediatamente já foram vendidas algumas peças

Imaginem o estrago que esta bundinha linda aí fez na Brasilia

Olha o cantinho do Maverick GT, esta louco para que chegue a vez dele ser postado no blog
                                            Na proxima postagem Dodge Dart de Luxo Sedan, ano 1979 preto.