terça-feira, 29 de março de 2011

Ford Galaxie LTD 1976 Marrom

                          Andei meio sem idéia por estes dias, acho até que pelo excesso de trabalho que tive, ou talvez pela minha mania negativa de pensar muito no que já passou, e isto por vezes, atrapalha a minha vida presente! Quem entende do assunto, diz que não devemos viver pensando no passado e sim no presente, pois isto pode tornar a pessoa depressiva. Mas... a mente é uma coisa da qual não temos o menor controle, e se dependesse do que eu penso, não existiria, entre milhares de outras coisas, este computador aqui na minha frente. Sem sombra de dúvidas, antigamente viviamos muito melhor. A felicidade está nas coisas pequenas e simples.
                           Mas, não bastasse o dia a dia, tem certas datas que a gente tira para refletir mais ainda sobre a vida, no meu caso principalmente, sobre o passado. E constato o óbvio nestas reflexões: A vida vai passando, e bem rápido. Quando lembro de coisas que fiz a 30, 40 anos atrás, imediatamente me vem a cabeça, que muito provavelmente, eu não tenha mais um outro tanto deste tempo pele frente, pelo menos com uma boa qualidade de vida. Se parar para pensar nos milhões de planos e sonhos que tenho, provavelmente neste curto espaço de tempo eu não consiga realizar uma boa parte deles. Mas temos que seguir em frente, e caso consiga realizar alguns, obrigatoriamente precisa ser em um médio prazo.
                          Mas em contra partida a isto, já notaram que conforme vamos envelhecendo, gradativamente tudo vai mudando junto. Claro, fisicamente nem se fala, cai tudo!! Estou falando psiclogicamente. As nossas prioridades vão se tornando outras, e coisas que queriamos em um passado próximo, vão perdendo pouco a pouco o nosso interesse. O que em alguma época está no topo da lista, se não for conquistado, vai gradativamente descendo de posto, e em poucos anos  não terá o mesmo sabor, ou até mesmo nenhum sabor. Entende-se isto claramente quando pensamos no porque as pessoas que são apaixonadas por um determinado bem ( no caso carro), em alguma época da vida, os vendem?? Porque?? O interesse do ser humano pelas coisas é muito passageiro!! E acreditem, não tem o valor que pensamos ter. É fugaz, efêmero.
                         Bom... apesar disto, lá, bem no fundo do meu íntimo e  apesar de eu não cozinhar mais na primeira fervura, em certos momentos, ainda penso como um guri! E espero que estes rompantes pensamentos continuem a vir de quando em vez!!
                         Bueno, resolvi postar hoje porque é um dia especial para mim, neste 30 de março, compléto 46 anos. Então dedico esta postagem em prol de tudo o que realmente nos faz seguir e olhar para frente. Os meus familiares e amigos, incluindo vocês, meus amigos virtuais, que muitos, espero conhecer pessoalmente em um futuro próximo.

                          Como todos vocês sabem, e estão carecas como eu de saber, sempre me interessou tudo que fosse relacionado a Dodge. A algum tempo atrás, coloquei no blog alguns recortes de anûncios de compra e venda, que eu colecionava.  Mas estes não éram os únicos, tinham outros recortes que me interessavam bastante e que eu também me dava ao trabalho de recortar dos jornais e guarda-los. Eram as reportagens com os acidentes de trânsito envolvendo Dodge, Galaxie e Maverick.
                           Desde o tempo em que viajei com meu pai como vendedor, isto lá nos longínquos anos setenta, estive sempre atento onde tinham desmanches de carros, depósitos de veículos apreendidos em acidentes de trânsito ou postos de polícia rodoviária. Sempre, ou quase sempre, tinham dodges, galaxies ou mavericks batidos.
                           Acho que nas décadas de setenta e oitenta, os acidentes de trânsito também contribuiram, e muito, para o extermínio destes três automóveis. Gostaria de ter dados de estatísticas sobre os acidentes envolvendo estes três carros. Mas acho que infelizmente isto não existe.
                           Lembro bem de um Charger RT 1978, bege indiano, com um grande trailer atrelado atrás, ( Buzian, acho que era turiscar), este carro estava no posto da Policía Rodoviária Federal, na BR101, em Araranguá-SC. Meu pai parou para olharmos o carro. Isto foi no ano de 1978 ou no máximo 1979. Uma carreta Scania simplesmente cortou  o Charger ao meio. O banco dianteiro do passageiro estava exposto, pendurado no carro. Não existia mais carro no lado esquerdo. Segundo contaram as pessoas presentes no local, o Dodge estava tentando uma ultrapassagem forçada e bateu de frente em um Scania Vabis.
                           Outro que lembro bem, um Dart sedan, também em um posto da Policia Rodoviária Federal, na BR386, perto de Lageado-RS. O Dartão literalmente virou um chinelo, acho que um caminhão deve ter virado em cima dele.
                           Outro acidente, e este inusitado, foi o que eu e um amigo presenciamos no início da década de 80, em Porto Alegre. Foi em uma madrugada de quinta para sexta feira, na lomba da rua Mostardeiros,  logo que termina a Av Independência. Estavam um Opala e um Charger RT preto fazendo um pega, quando o Charger pegou a descida da Mostardeiros, se perdeu. Eu e meu amigo estavamos lá em baixo, na Av. Goethe. Para quem não conhece, a Goethe corta a Mostardeiro. Quando escutamos o ronco dos carros e olhamos para cima, o Dodge já vinha se atravessando no meio da rua. E o aclive desta rua é muito forte. Dependendo da velocidade que o carro venha, quando entra na descida da Mostardeiro, o carro tira as quatro rodas do chão. Parece as ruas de São Fancisco nos EUA. Acho que foi exatamente isto que aconteceu com o Charger preto.  No meio da descida, depois de uma série de gineteadas, bateu direto em um poste de ferro, da iluminação pública. Corremos em direção ao acidente. O cara que estava dirigindo o Dodge se machucou bastante, mas que eu saiba não morreu. Lembro que o paralamas e a porta, lado esquerdo, foram arrancados do carro e pararam longe. Pareciam peças de papel retorcido. O carro ficou destruido.
                          Outro acidente que me marcou bastante, que tentei muito conseguir uma foto no jornalzinho aqui da região, mas não foi possivel. Foi com um Dodge Dart 1980 preto. Novo! Isto foi no ano de 1981. Um dentista, bem conhecido aqui na região tinha adquirido este Dart quase novo, o carro tinha apenas alguns meses de uso. Alguns meses depois de compra-lo, ele estava indo de Taquara para a cidade de Três Coroas, via RS115. Na metade do caminho fica a cidade de Igrejinha, aqui ao lado de Taquara.  Neste percurso existe um viaduto, o Dart ia em um sentido e uma Brasilia vinha no sentido contrário. Bem em cima do viaduto, na soleira, estavam indo dois guris em uma bicicleta. Os guris se desequilibraram e entraram na via. A Brasilia não tinha como desviar a direita, pois estava em cima do viaduto. Então desviou dos guris para o lado esquerdo da via. Deu de frente no Dart. No Volks estavam um casal de idosos que morreram na hora. O Dono do Dart não se machucou, mas destruiu a frente do carro. Algum tempo depois, eu e minha turma estávamos no ferro velho do Fábio, em Novo Hamburgo e encontramos o Dart lá, todo desmanchado.
                                   Alguns recortes: 
Este é bem conhecido, saiu em todos os jornais do Brasil e até no exterior. O jogador do Gremio, Everaldo. Ano 1974.

Este foi na Avenida Carlos Gomes em Porto Alegre. A Brasilia cruzou um sinal vermelho e o Magnum deu com tudo. Me parece que morreram os três ou quatro caras que estavam na Brasilia. Ano 1982. O Magnum portanto era quase 0K!

Este não tem o que dizer, é só ler a reportagem!! Ano de 1981. Só uma ressalva, Dodge na frente!!!

Este acidente o Dodge não foi o ator principal, mas vale o registro. Houve um assalto e os bandidos roubaram este Puma GTB, foram perseguidos pela polícia e por um Dodge Charger. Os bandidos se perderam e deram em um poste de iluminação pública

O Dodge que perseguia o PumaGTB, parado em frente a uma delegacia de polícia

Maverick GT se envolveu em um engavetamento, na BR116, São Leopoldo-RS

É o que eu sempre digo, Galaxie é uma potência!!! O onibus cruzou uma preferencial e o Galaxie deu no meio!!! Resultado: Capotou o onibus. E vejam como ficou o abitáculo do Galaxie? Intacto!! Se fosse com qualquer outro carro, já era!!
                         Bom, não foi por acaso que hoje resolvi mostrar estes recortes de jornais com acidentes. Nesta postagem contarei um fato que aconteceu comigo que poderia ter virado uma trajédia., é bom para a gente refletir e nunca esquecer dos perigos que corremos dioturnamente nas estradas, e cada vez mais com este trânsito infernal.
                                                             O Galaxie LTD
                         Este carro estava parado por muito tempo dentro de uma garagem de um quarto de motel de Taquara. Eu conhecia o dono, sr Germano, sujeito muito simpático e calmo. Tem um defeito de nascença nas pernas e não conseguia mais dirigir o Galaxie.
                         A poucos dias atrás encontrei ele no centro de Taquara, conversamos por algum tempo e lhe perguntei se não tinha algumas fotos do Galaxie. Infelizmente ele não tinha.
                        Nas diversas vezes em que fui a este local profano, este carro encontrava-se parado, sempre na mesma garagem. Então, em uma certa madrugada quando estava saindo deste motel,  perguntei ao sr Germano se o carro era de venda. Ele me disse que precisava urgentemente desocupar a garagem e que ele já tinha dado o carro de presente para um conhecido amigo dele, mas como o cara não vinha buscar, ele me venderia a "banheira".  Aí lhe perguntei por quanto $$ ? Ele disse:-Me paga mais uma diaria no motel e ele é teu!  Fechamos negócio ali mesmo, no guiche do motel, as 4hr da matina.
                          No outro dia de tarde fui buscar o carro. Foi até engraçado, pois entrei no motel com meu irmão Diogo, porque o carro estava parado a bastante tempo e tive que reboca-lo, então levei meu irmão junto para vir na boléia do Galaxie.
                          Na mesma semana fiz o motor funcionar, estava em bom estado. Então comecei a andar com ele por uns tempos, a trabalho.
                          Em uma das tantas vezes que fui com este carro a Porto Alegre, levei meu amigo Ganso junto. Saímos de manhã cedo para passarmos o dia na metrópole. Tinham  muitas encomendas por entregar, em vários bairros diferentes. E apesar do grande movimento de veículos e o estress de se dirigir em uma cidade grande, o dia transcorreu maravilhosamente bem.
                          Como de costume, fazia o que tinha por fazer durante o dia, e por algumas vezes, à noite, ia jantar na churrascaria de um amigo. Jantamos e fomos embora. Éra perto das 10hr da noite quando saímos de Porto Alegre, pegamos a BR116, indo em direção a Novo Hamburgo-RS. Vinhamos andando em uma velocidade boa, entre 110 e 120km/h.
                           Passamos pelas cidades de Canoas, Esteio, Sapucaia e tudo tranqüilo. Quando estávamos chegando a São Leopoldo, mais precisamente ao acesso da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de longe, avistei as sinaleiras (semáforos) do entroncamento de acesso a faculdade. O sinal estava vermelho para mim. Como nós vinhamos bem embalados e tem um leve declive naquela direção, coloquei ponto morto no Galaxie e deixei ele ir indo no embalo, diminuindo a velocidade por si só, gradativamente.
                          Quando estávamos a poucos metros o sinal mudou para verde, então, engatei uma terceira e dei gas. No exato momento em que estávamos para cruzar o entroncamento, andando em torno de 100, 110km/h, uma Fiorino cruzou as várias pistas. Já sentiram o coração literalmente gelar?? Foi o que senti. Só lembro que virei o volante, por puro refléxo ou instinto, sei lá. Tentei uma manobra impossível na velocidade que vinhamos.Para tentar evitar a batida, tentei entrar no acesso a Unisinos. Simplesmente o Galaxie atravessou as duas pista laterais cantando pneu, obedecendo o meu comando. Foi tão rápido que não lembro direito.
                           Mas a velocidade era alta demais para a manobra. Simplesmente o Galaxie trepou por cima do enorme  trevo que tem ali. O impacto com os cordões (meio fio) do trevo foi assustador, o Galaxie bateu lateralmente neste meio fio com as duas rodas, dianteira e traseira, simultâneamente. O carro deu um grande "tranco"e ultrapassou estes cordões como um trator. Cruzei por dentro do canteiro central do trevo de lado. Lembro que na hora do impacto das rodas com os cordões, a minha porta se abriu! Imediatamente senti a mão do meu amigo Ganso segurando o meu braço, na tetativa de evitar que eu caisse para fora do carro!! Mas eu estava grudado ao volante como se tivesse passado um tubo inteiro de "bonder".
                           Com a minha porta aberta, via o gramado do canteiro passando a poucos centímetros do meu corpo, literalmente eu sentia a grama entrando para dentro do Galaxie!! Por uma fração de segundos, também vi o vulto das duas calotas esquerdas do galaxie voando como discos voadores!!
                           Fui sair no outro lado, na pista em que descem os carros que vem da universidade, em direção a BR116. O gramado fofo do canteiro central amorteceu a velocidade, mas o Galaxie não apagou o motor e o carro continuou andando, só que agora em baixa velocidade. Segui por alguns metros e paramos na lateral da via. Totalmente atordoados, saímos de dentro do carro.

Desenho do trevo de acesso a universidade, na BR116 em São Leopoldo -RS
                         Na minha cabeça, eu jurava que tinha batido em cheio na lateral da Fiorino, que tinha matado todo mundo dentro do outro carro. Que tinha havido uma grande desgraça, mas, neste momento parou um Monza ao nosso lado, era uma moça que estava indo em direção a universidade. Ela perguntou se nós estávamos bem e eu lhe respondi afirmativamente com um gesto da cabeça.
                        A moça nos disse que, assim que o sinal se fechara para ela, parou na sinaleira logo atrás da Fiorino. Não sabia dizer o  porque, mas o cara que estava na sua frente arrancou e tentou cruzar a BR116.
                         Então eu lhe perguntei alterado: "- Como eles estão??? Muito machucados??"
                         E ela me respondeu:   "-Foram embora, fugiram!!"
                         E eu novamente:  "-Mas como??? O carro conseguiu andar???"
                         Ela:  "-Não sei como, mas vocês não se bateram, entre o teu carro e a Fiorino não passava um fio de cabelo, mas, felizmente tu conseguiu desviar do carro e evitou a batida!!!"
                        Por alguns momentos não acreditei nas palavras da moça, pois eu tinha certeza que tinha batido, pois a Fiorino havia parado bem no meio da minha pista. O barulho de pneus cantando somado aos solavancos que passamos trepando nos cordões me fizeram acreditar em uma batida. É tudo muito rápido!!   Tive um misto de alívio e raiva.
                        Bom ,aí fomos olhar os estragos no Galaxie. Resultado da brincadeira: balança inferior dianteira totalmente torta, duas rodas tortas sendo que a dianteira destruída e um pneu rasgado. Então coloquei o estepe na dianteira e fomos procurar as calotas. Achamos as duas, não sei como mas nem amassadas ficaram. Ficamos observando por algum tempo a trajetória do galaxie, os sulcos que se abriram no gramado do canteiro central eram enormes, a exata trajetória do carro ficou estampada no gramado. O meio fio onde as rodas bateram, eram bem altos e se quebraram!! Se fosse qualquer outro carro, tinha capotado quando bateu no meio fio. Dei graças a Deus por estar dentro de um Galaxie!!
                        Nesta altura, já passava da meia noite. E resolvi que iriamos embora com o Galaxie, assim como estava. Tinhamos ainda uns 70km para chegar em Taquara, foi uma viagem em compléto silêncio, só o que se ouvia éra o irritante e incansável lamento do pneu dianteiro cantando, pois a balança estava muito torta, cantou e berrou a viagem inteirinha. A roda traseira bem torta, fazia o carro balançar muito. Tive que ir a 30 por hora, não tinha como ir mais rápido. Quando cheguei em casa eram 3:30hr.
                        No outro dia consertei o Galaxie, tive que trocar a balança inferior esquerda, duas rodas, dois pneus e a ponta de eixo esquerda do diferencial.
                       Andei por mais alguns meses com o Galaxie, que me deixou duas vezes na mão. Como a procura por peças era grande, desmanchei o carro.

Nesta foto, da para se ver um pequeno pedacinho da traseira e da capóta do Galaxie, está em baixo  do Charger vermelho com této branco. Parte esquerda da foto.
                                            Na próxima postagem conto a história do meu 19° automóvel, um Dodge Dart de Luxo 1975, branco

sexta-feira, 18 de março de 2011

Dodge Magnum 1979 Branco Ártico

                             Todas as vezes que estou preparando uma postagem nova, eu leio, releio, leio de novo, e sempre acho que não está bom o suficiente. No meio de tudo isto, procuro corrigir os erros de ortografia entre outras tantas coisas. E as vezes, quando estou fazendo estas correções e escrevendo, me vem a cabeça outras lembranças interessantes. Então tenho de escrever tudo correndo para não perder o fio da meada. É uma coisa meio maluca!! Mas quando posto e começo a ler os comentários de vocês, fico imensamente gratificado e tenho a certeza que está valendo a pena espremer os miolos relembrando de coisas que achava que seriam irreleventes para o mundo de hoje, coisas que até bem pouco tempo atras, achava que iriam morrer comigo. No final, chego a conclusão que o que me move a escrever o blog são os comentários de vocês! Então, não parem de comentar!!
                            Algumas postagens atrás mencionei o nome de um grande amigo, e cliente também, sr. Cláudio Junges. Conheço este homem desde guri, mais precisamente do início da década de setenta. Época esta em que ele comprou uma casa na praia de Capão da Canoa, ao lado da casa dos meus pais. Logo que foram, ele e familia, veranear nas férias de verão, as nossas familias se deram muito bem. Lembro que o seu Cláudio fazia todas as vontades, minhas e do meu irmão Diogo. Até hoje, seguidamente lembro com muita saudade das dezenas de pescarias de muçum que fizemos no canal João Pedro, que fica na estrada do morro alto, antes de chegar a Capão. O seu Cláudio era apaixonado pela pescaria do muçum, e sempre que podia nos levava junto.
                             Lembro das feijoadas, churrascos, das tortas de bolacha da dona Mira (Esposa do seu Cláudio), dos jogos de bocha, Que saudade!! E das nossas noites sentados na área dos fundos, até de madrugada contando mentiras e piadas, que época maravilhosa que passei junto a eles. Lembro das vezes que, durante o veraneio, o seu Cláudio tinha de ir a Porto Alegre a trabalho, e por algumas vezes fui com ele. Era uma viagem maravilhosa. De Galaxie Landau! Ele sempre gostou de viajar a noite, então saíamos de Capão lá pelas 23hr, chegando em Porto Alegre, iamos dormir no apartamento deles.
                            Passávamos o dia no consultório, só saíamos ao meio dia, quando ele nos levava para almoçar em um resturante que fazia comida chinesa, eu não gostava daquela comida, então o seu Cláudio mandava o "china" preparar batatinha frita. Eu sempre comia uma montanha delas. A noite retornávamos a Capão. Lembro destas viagens como se fosse hoje, o Landau planando na Freeway, 110, 120km/h, escutando Beatles, ar ligado no máximo, e que ar tem o Galaxie, nunca vi outro igual! O conforto deste carro não tem precedentes. Neste quesito, o Galaxie é imbativel!!! Não conheço outro, pelo menos brasileiro não tem! Que viagem!! Isto foi na década de setenta.
                             Os anos foram passando e eu gostando mais e mais de Dodges e Galaxies, até que comecei a comprar os meus e arrumar os dos outros. O seu Cláudio foi um dos meus vinte ou trinta primeiros clientes. Teve época em que quando eu levava um carro pronto e revisado para ele, já voltava com outro. Nesta época ele tinha um Landau 1977, prata continental, um Dodge Magnum 1979 branco Ártico ( o mais novo que já vi na vida), uma Caravan de Luxo 4100, um Fuca e uma Brasilia. Para poder arrumar o Dodge e o Galaxie eu tive que assumir  o compromisso de arrumar os dois pequeninos e a Caravan também. Foi bom, muito bom!!
                               O seu Cláudio e a família, seguidamente vinham a Taquara nos visitar, passavam as tardes jogando cartas na casa do meu pai. Depois íamos jantar no KM4, quantos bifes com bata frita. Certa vez o seu Cláudio comeu doze ovos frito na janta, foi um recorde!!!  Foi ele também, quem levou a minha irmã mais velha, Anelise, no seu casamento.          

Minha irmã Anelise com meu pai, sr Inácio. Atras deles o seu Cláudio fechando a porta do Galaxie. Na outra esquina tem um outro Galaxie, da mesma cor, Prata Continental. Pertencia a outro cliente meu, Dr Gaspar Miranda, padrinho de batismo da noiva.
                              Prezado amigo Cláudio, talvez o senhor nunca chegue a ler esta minha humilde homenagem, mas de qualquer forma, quero deixar aqui registrado o meu grande apreço a sua pessoa, te desejo muita saúde e alegria. Não esqueço que foi uma das poucas pessoas que muito me ajudou e incentivou. Podes estar certo de que seguidamente o senhor está em meus pensamentos. Foi um grande prazer trabalhar para uma pessoa tão generosa e honesta!

                            O final da década de 80  foi quando os Dodges 79 a 81 começaram, também, a ficar baratos. Existiam centenas de ofertas. Até então, os dodges modernos tinham seus preços bem elevados. Pois muitas pessoas que tinham dinheiro, mantinham os modernos.  Tanto é verdade, que os carros anteriores a 79 eram muito encontrados para se desmanchar e os modernos, não. Era muito difícil se achar modelos novos em estado precário, e mesmo os que estavam ruins eram caros. Não se achavam modelos 79/ em ferro velho.  Mas o tempo foi passando e os "modernos" também ficaram velhos, baratos e defazados.
                            Quando os modernos se banalizaram, cheguei a ouvir dizer que estes modelos não eram Dodges. Que Dodge mesmo eram os antigos. Palavras ditas por um conhecido mecânico de Dodges da região de Novo Hamburgo e Campo Bom- RS. A minha resposta para tal afirmação é: ???!!!!!???? Mas vindo de quem veio, não me admiro!
                           Até então eu tivera vários dodges antigos e tinha sede dos novos. Até para desmanchar, pois as peças eram muito escassas, caras e procuradíssimas!
                           Tive vários clientes de Porto Alegre que tinham Dodge Magnum e LeBaron. Este carro que conto a história hoje, não era nenhuma raridade, mas de boa aparência. O antigo proprietário, senhor Gustavo, andava pouco com ele, dificilmente vinha a minha oficina mais do que duas ou três vezes ao ano.
Foto bonita!! Foi tirada em frente a fábrica Max Badermann, rua Bento Gonçalves 2525. O fotógrafo foi o Eraldo. O Dodge preto era um Dart Sedan 79, do Aldo Cananni, irmão do Eraldo. Foi comprado em um leilão do governo. Algum tempo depois comprei este carro duas vezes. Atrás o Magnum 79 Ártico e entre eles, eu. 
                           Folhando meus cadernos de clientes, vi que a última vez em que este Magnum esteve aqui na oficina para algum conserto foi em 21/09/87. Foi feita uma regulagem no motor, troca de velas e reparo do carburador. Também foi feita a pintura do paralamas dianteiro direito e porta direita.  Passados quatro meses, o senhor Gustavo me ligou  oferecendo o carro. Como eu já conhecia o Dodge, acabei comprando o carro por telefone. Depositei o valor na conta do ex-proprietário e acabei pegando o carro somente duas semanas depois.
                            Este Dodge, já naquela época, era um carro meio folgadão, barulhento por dentro. Acho até que por usar rodas gaúchas largas demais. Mas no geral era confiável, pois nos meses em que fiquei com ele não me deixou na mão. Este escapou do machado por pouco, tive que me segurar para não vender algumas peças muito boas que tinha. Um exemplo eram os dois para-choques, estavam como novos.
                            Com este carro protagonizei uma aventura inesquecível. Um amigo estava se casando, e eu e outros amigos em comum organizamos uma grande  festa de despedida de solteiro, daquelas boas mesmo, sabe como é né? Conseguimos um sítio emprestado, mais ou menos uns 25km de Taquara. O local era sensacional. Bem ermo! Tinha uma enorme casa, coisa de luxo, com piscina e várias benfeitorias.  Um legítimo sítio para festas.
                             Como este meu amigo é casado hoje, e não com a mesma mulher que era sua noiva na época, vou me abster de alguns fatos. Afinal de contas o foco do blog é DODGE!!
                              Bom, durante a semana inteira que antecedeu a festa, os preparativos foram intensos. Entre as dezenas de coisas que foram compradas, comprei umas dez caixa de fogos de artifícios (foguetes). Tinhamos planejado usar estes fogos entre uma cena e outra dos acontecimentos na festa.
                              Deu uma trabalheira a semana toda, mas valeu a pena, pois o resultado foi inesquecível. No dia marcado, fomos todos para este sítio, acho que tinha umas 20 pessoas ao todo. A noite transcorreu nas mil maravilhas, um tremendo de um churrasco, muito trago, musica boa, muita risada e tudo mais.... Eu tinha ido com o Magnum , o Eraldo tinha ido com a sua DKW branca, e um outro amigo, Raul Jaeger, tinha ido com um Monza da mãe dele, novinho em folha.
                             Para a minha sorte, as emoções durante a festa foram tantas, que acabamos por esquecer dos foguetes dentro dos carros. No Magnum tinham 4 caixas, na DKW haviam mais 3 caixas e no Monza o restante.
                               Lá pelas 4hr da manhã alguns já tinham ido embora. Restava na festa só a "nata"da sociedade! Todo mundo super embalado, decidimos ir embora do sítio. O que mais se ouvia naquela imensidão de terra e escuridão, eram as nossa risadas e gritarias.
                               Bom, pegamos a estrada e seguimos em direção a Taquara. A DKW vinha na frente, eu vinha logo atrás com o Dodge e por último o Raul com o Monza. Todos meio juntos, separados por poucas dezenas de metros.
                               Foi aí que tive uma idéia fantástica. Como os foguetes estavam intactos dentro dos carros, falei para um dos amigos que estava comigo no Dodge:-"Pega um foguete, acende e dispara contra os outros carros". Tenho que rir escrevendo isto!!! O primeiro disparo entrou bem em baixo da DKW!!! A princípio meus amigos da Dekinha levaram o maior cagasso da vida. Mas, depois do segundo tiro, que foi para tras, passando zunindo no teto do Monza, todos entenderam o que estava acontecendo!!! Se instaurou a terceira guerra mundial, só se via os clarões dos foguetes voando para todos os lados.
                                E mais do que os clarões e estouros era a gritaria. Eu escutava os outros, dentro dos outros carros gritando:- "Atira!! Atira!! Atira!! Acerta dentro do carro, mira nas janelas!!!"  Um dos disparos pegou no vidro para brisa do Dodge, quase fiquei cego com os clarões. E a coisa tomou proporções violentas, pois todo mundo estava com bastante trago na cabeça e começaram a atirar tentando acertar dentro dos carros. Felizmente ninguém conseguiu esta façanha!!
                               A minha melhor visão era a DKW, que estava a minha frente. O pessoal botava o corpo para fora das janelas, com foguetes acesos nas mãos disparando uns contra os outros. Um dos foguetes passou raspando e quase entrou para dentro da DKW. Ela tinha uns furos no assoalho, e quando algum artefato estourava embaixo, clareava todos os acupantes do carro, parecia uma máquina de raio X!! Nunca me diverti tanto na vida, uma hora eu ria tanto que quase fui parar com o Dodge na macega! Em questão de alguns minutos foram disparados dezenas de tiros e acabou a munição!! Aí o que se ouvia eram as risadas. Então, paramos na estrada, no meio da madrugada, para apreciar os estragos e conversar. Que noitada, podem se passar mil anos, que esta eu não esqueço.
                               No outro dia o Dodge tinha cheiro de pólvora dentro. Foi a melhor festa de despedida de solteiro que já participei na vida!  Algum tempo depois, neste mesmo sítio, participei de mais duas festas sensacionais.
                        
Foto tirada no estacionamento do Super Real em Capão. Pena que foi toda cortada pelos meus sobrinhos quando eram pequenos.
                            Bueno, fiquei seis meses com o Magnum e o vendi para Porto Alegre novamente.
                            Na próxima postagem falarei sobre o Ford Galaxie LTD Marrom, ano 1976

sexta-feira, 11 de março de 2011

Chevrolet Veraneio 1967 Marrom

                         Meus amigos e seguidores, só um comentário rápido a respeito do blog: Sabem quantas visitas o blog teve nos últimos trinta dias ?? 6742 acessos!!! Isto dá uma média de 225 visitas diárias ao blog.  E a última postagem, do Charger bege/marrom, bateu recorde de comentários. Quase não acredito que o blog possa agradar tanto vocês! Estou impressionado! O problema todo que isto acarreta é a grande responsabilidade que me pesa para contar boas histórias, tentando ser cada vez melhor! Espero poder chegar até o fim correspondendo as expectativas de vocês.  Obrigado e abraços a todos!!
                          Dos inúmeros comentários da postagem anterior, Charger Bege/marrom, todos, sem excessão, comentaram sobre a última parte, do acidente com o Dodge. Mas quero lhes dizer, que para mim, a parte mais bonita e sentimental é quando escrevi da minha amizade com o amigo Darcy Ferrari. Escrevi aquelas linhas com muito sentimento, abri meu coração para as lembranças do velho amigo! Até entendo, pois vocês querem ler a respeito de Dodge e não balélas de antigamente, mas eu sou muito nostálgico, eu vivo diariamente pensando nos amigos e causos do passado! De qualquer forma agradeço a todos vocês.  Acho eu, que para quem esreve um livro ou blog , que seja, a recompensa maior são os comentários, as críticas dos leitores, e neste ponto, estou sendo bem recompensado!  
                         Outra coisa, o amigo Tricky que tem o blog com o link http://chryslerdobrasil.blogspot.com/ me pediu, por favor, para que olhem o blog dele. Então se tiverem um tempinho olhem. Não acredito que meu blog seja um parâmetro para outros blogs ou mesmo uma fonte de propaganda, mas em todo caso, está aí o comercial que o Tricky me pediu.
                        Tricky! Não te preocupas com a quantidade de leitores ou visitantes. Primeiramente escreve pensando que o teu blog é feito exclusivamente para ti, te preocupando com a qualidade das postagens. O que tu escreves tem de ser primeiramente agradável a tua pessoa. O resto vem naturalmente. Abraço

                          Entre uma postagem e outra, seguidamente vou lembrando de causos com algum carro que já postei aqui neste blog e esqueci de mencionar. Semana passada, enquanto tentava relembrar algo relevante desta Veraneio, lembrei de coisas bem interessantes do meu primeiro Dodge, aquele Dart sedan marrom ano 1975, postado lá no início do blog. Este da foto abaixo!! Fatos que conto a seguir:
Notem que não tem  o vidro vigia.
                              No final dos anos setenta e início e dos oitenta, seguidamente eu e meus amigos procuravamos Dodges nos desmanches de carros. Eramos verdadeiros ratos de ferro-velho. Certo dia, de passagem pela cidade de Gravataí-RS, vimos o Dodge Sedan atirado e paramos para ver o preço. O dono do ferro velho pedia CR$100.000,00 (tenho anotado esta cifra) Como eramos de 5 amigos,(eu, Alnei, Eraldo, Ganso, Tiago) daria CR$20.000,00 para cada um. Eu não tinha "um mil réis" na carteira, acho que nem carteira eu tinha! Bom... olhamos detalhadamente o Dart, todos nós ficamos loucos para compra-lo. Como o carro não tinha o vidro vigia, lembro que saía mato pelos buracos dos alto falantes traseiros. Mas o dono do ferro-velho fez ele funcionar e pegou de primeira, ficando em marcha lenta.
                              Então... combinamos de ir buscar o carro no sábado seguinte. No dia marcado, tipo 7:30hr, meus amigos passaram lá em casa para me pegar e contavam com  minha parte no dinheiro. Bueno, quando vi eles encostarem na frente de casa, corri no meu pai e lhe pedi que me desse uns pilas para comprar um perfume de aniversário para uma amiga. Meu pai abriu a carteira e me deu  CR$50.000,00! Acredito que este valor hoje seria de R$100,00 não mais do que isto!! Dodge não valia nada, ainda mais que este estava em um ferro-velho!!!
                               Não podia dizer, de maneira nenhuma, que seria para comprar um carro de ferro-velho, se falasse isto era capaz até de levar uma bela surra! Chegamos lá e fomos fazer o lavantamento do dinheiro. Com a minha parte, que foi 50mil, lavantamos CR$90.000,00! Tivemos que pechinchar bastante, mas deu certo, o sujeito vendeu pelo que tinhamos. Só que o carro não tinha o vidro vigia, então pedimos ao homem para nos dar um vidro incluido, nada feito, pediu mais R$5000,00. Nós não tinhamos mais nada, então o carro ficou sem o vidro vigia.
                              A minha ansiedade era muito grande, lembro como se fosse hoje o que eu senti naquele dia. Eu iria comprar o meu primeiro carro, e bem diferente da grande maioria de jovens deste imenso Brasil. Iria comprar um Dodge e não um Fuca! Quase cem por cento dos caras que conheço tiveram um Fuca como seu primeiro carro.
                             Bom, compramos o Dodge e viemos praticamente até Taquara com ele sendo rebocado por uma Toyota Bandeirantes, que pertencia a Fábrica de Máquinas Max Badermann, do pai do meu amigo Alnei. A alegria desta viagem não se pode descrever. Infelizmente não tem como colocar no papel a satisfação de estar comprando um carro como um Dodge, e principalmente, de estar na companhia maravilhosa de amigos tão unidos como nós eramos. O que posso dizer é que poucas vezes na vida senti algo parecido. Com toda certeza, as emoções que a gente sente por um ato, seja ele qual for, são bem maiores quando se é novo! Depois a vida vai,  pouco a pouco,  não sendo mais tão novidade.
                            Tinhamos combinado que a entrada na cidade teria que ser triunfal, majestosa!!! Portanto queriamos chegar em Taquara com o carro andando, então quando faltavam poucos quilometros para chegar, paramos e desatrelamos o Dodge da Toyota.
                             Lá no ferro-velho, nós tinhamos usado o reservatório de água do limpador de para brisa para colocar gasolina dentro. Usamos este reservatório como tanque!!!!! Pois nós não tinhamos dinheiro para gasolina, tinhamos levado junto algo em torno de 10litros de gasolina.  Se a gente colocasse pouco combustível no tanque, a bomba talvez não iria puxar e também não saberiamos exatamente o quanto de gasosa nós tinhamos!
                             Então a capacidade do nosso novo tanque era de 1,7litro. !!! Bom, enchemos o reservatório umas cinco vezes antes de entramos em Taquara. Lembro da frase que falamos ao entramos na cidade: -"Somos proprietários de um Dodge Dart!!"
                              Ao chegar no centro da cidade, desfilamos pela rua principal e depois levamos o dodge direto para dentro dos pavilhões da Max Badermann e começamos um trabalho intenso e frenético:

Rua Bento Gonçalves, centro de Taquara.  Foto atual da antiga e extinta Fábrica de máquinas Max Badermann. Pena que a fachada da fábrica foi tapada.
                                                        -Primeira coisa foi colocar um cano reto ao lado da porta (sem abafador).
                                                       -Depois praticamente tiramos os parafusos de regulagem da altura da suspensão dianteira, a frente do carro arrastava em uma latinha de cerveja.
                                                       -Tiramos os jumelos origiais dos feixes das molas traseiras e colocamos uns bem maiores. A traseira do carro ficou super alta, e a dianteira arrastando no chão!
                                                        -Pintamos todos os cromados do carro de preto fosco, inclusive os para choques.
                                                       -Colocamos umas telas???, (meu santo Deus!!!) pintadas em preto fosco também, na frente dos faróis.
                                                      -Fizemos um furo de aproximadamente 10x10cm no assoalho, logo atrás do banco dianteiro, onde enfiavamos uma barra de ferro. Quando o Dodge estava em movimento, nós enfiavamos a barra de ferro pelo furo até ela encostar no asfalto, a barra era segurada e escorada no banco dianteiro (formava uma alavanca) O efeito é pura loucura! Sai até labaredas de fogo! Mas tem que ser à noite. O visual de quem olha de fora é  s  e  n  s  a  c  i  o  n  a  l !!
                                                       -E mais algumas coisas que não lembro. Mas e o tanque de gasolina? Ficou o reservatório do limpador!! Fica quieto!!
                                       Nós ficavamos quase todos os dias, até de madrugada dentro da fábrica. Mexiamos nos tornos, ferramentas, guinchos, em tudo. Várias vezes levamos xingões do seu Harri, pai do Alnei, por deixarmos a fábrica uma bagunça. Os funcionários chegavam de manhã e não encontravam as coisas em seus lugares.
                                      Um dia o Alnei ganhou um Kart de presente, mudamos de lugar várias máquinas e tornos para improvisar uma pista de corridas lá dentro. Até o dia em que os vizinhos fizeram um abaixo assinado e entregaram na prefeitura, pela lei do silêncio. A fábrica trabalhava o dia inteiro com os funcionarios e a noite inteira com nós lá dentro. Era um paraiso pra nós. Fomos obrigados a não fazer barulho depois das 23Hr.
                                   Uma das coisas que eu não consigo esquecer desta época foi quando criamos um torneio com este dodge. Quem conseguia dar a volta mais rápida na quadra onde ficava a Fábrica (Max Badermann). Minha gente, esta quadra fica bem no centro de Taquara! Até mesmo  naquela época tinha movimento. E o torneio era durante o dia! Durante a semana!  Lembro que as pessoas que trabalhavam nos comércios, ficavam olhando aquele Dodge entrar de lado nas esquinas, patinando como um louco. Como não mandaram nos prender??? Outros tempos!!
A Fábrica ficava extamente no meio desta quadra, onde estão aqueles carros parados, só que no lado direito da foto. Exato ponto de largada da prova. Depois de dada a largada, logo em seguida, entravamos nesta esquina, rua Guilherme Lahm, quase em duas rodas. Logo em seguida na proxima esquina entravamos na 17 de Junho, depois na  Marechal Floriano e por fim entravamos novamente na Bento Gonçalves. Com certeza nestas ruas nunca mais vai acontecer fato semelhante.  
                                   Outra lembrança deliciosa eram os domingos a noite. Em Taquara havia um cinema (Cine Cruzeiro), ficava na RS020. Esta estrada corta Taquara e vai a São Francisco de Paula. Nas noites de domingo a sessão do cinema começava as 20:30hr e terminava 22:30hr. Toda população jovem de Taquara ía ao cinema domingo!!! Era como se fosse hoje um postinho de conveniências. Lá pelas 20hr se formavam filas enormes de pessoas na bilheteria, todos aguardando a entrada no cinema. Isto era sagrado , todos os domingos. Então lá pelas 20hr nos passavamos de Dodge na frente do cinema. Imaginem a cena! No banco da frente dois sentados, e atrás, como não tinha o vidro vigia, tres sentados em cima da tampa do porta malas, com as pernas e pés em cima do banco traseiro, com as mãos batendo no teto!
Predio da antiga churrascaria Cruzeiro e ao lado o Cine Cruzeiro com hotel em cima. Pertencia a mesma pessoa 

 Estrada RS20. Ao lado do cinema, mas no mesmo prédio, funcionava uma churrascaria, que fechou suas portas bem antes do cinema. Muito espeto corrido comi lá quando criança. Olhando esta foto lembro do Dart passando nos domingos a noite!
                                   E o show era sempre com o pé no fundo, farois apagados e com o ferro enfiado no assoalho traseiro, encostando no asfalto! As faiscas voavam a metros de distância na escuridão da noite! As pessoas achavam que o Dodge estava pegando fogo. Tudo isto somado ao barulhão do V8 com cano reto! Imaginem o Dodge: sem abafador, super rebaixado na dianteira, alto na traseira, sem farol e todo preto fosco, saindo fogo por baixo!!! Era de assustar!! As mães recolhiam suas crianças das calçadas!! Cena do Mad Max!!
                                    Esta cena ficou tão conhecida que tinha gente que ia para a frente do cinema só pra ver o dodge passar!  E lá pelas 22hr nós ficávamos espreitando a saída do cinema, quando dava a largada da "boiada", faziamos um novo espetáculo!
                                    E quando certa madrugada fomos com o Dart até a cidade de Igrejinha, queríamos viajar com ele!! Imaginem, Igrejinha fica a 6km de Taquara! Bota viagem nisso!!  Colocamos gasolina umas dez vezes do reservatório do limpador! Andamos pelo centro inteiro da cidade naquela madrugada, sozinhos, não havia viva alma nas ruas. Só o que se ouvia eram nossas conversas e o ronco do V oitão, com cano reto, na lenta: glugluglugluglu... Quando estávamos na saída da cidade, cruzamos por um brigadiano parado em uma esquina. Nós gelamos, se fossemos atacados naquela época, sem documentos do carro e com um carro naquela estado. Xilindró!!
                                    Algum tempo depois compramos o Impala e abandonamos o Dodge. Ele ficou por meses atirado no pátio ao lado da Fábrica.

Neste local, é que o Dart ficou nos últimos dias de vida dele, Fica entre os dois prédios da Fábrica. Pena não te-lo resgatado em tempo
                               Quando falaram em vende-lo para um ferro-velho, fui lá para leva-lo para minha casa. Queria guarda-lo para recordação em um canto do pátio. Mas o destino tinha outros planos para o Dart Sedan. Quando cheguei para leva-lo, o guincho do ferro-velho já estava saindo com ele engatado na traseira.

                                               Muitos anos depois... Veraneio 1967
                             Nesta época, quando eu não estava pensando em Dodge, pensava em caçar e pescar. Um certo dia reunidos, eu, meu irmão e meu amigo Dinho, chegamos a conclusão de que teriamos que comprar um carro, especialmente para nossas caçadas.  Um carro que fosse grande o bastante para levar nossas tralhas, forte para passar por obstáculos quase que intransponiveis e que tivesse uma manutenção barata. Como eu já tivera uma Veraneio, batí nesta técla. Mas os outros cogitaram também outros carros, como a Rural ou uma pick-up F-75. Mas para ser sincero  eu nunca levei muita fé nos motores dos dois veículos citados. Então, depois de um pequeno debate, por unanimidade a Veraneio venceu  a concorrência.
                              Bom , a primeira coisa a fazer era achar a Veraneio, e depois de acha-la, ter dinheiro para compra-la. Um problema menor, que era a Veraneio em sí, e um problemão que era o dinheiro!
                              Passaram-se alguns dias e depois de várias Veraneios vistas, cuncluímos que não tinhamos dinheiro para comprar. Teriamos que abandonar, ou pelo menos adiar, o projeto. Ou então achar uma que estivesse abandonada, fora de uso! E foi o que aconteceu.
Estacionada em frente a casa dos meus pais. Esperando uma aventura, que nunca veio!
                                 Passou algum tempo e encontramos uma abandonada, o produto se enquadrava totalmente dentro do nosso padrão financeiro!
                                 Fomos até a casa onde a belezinha estava e logo entramos em acordo com o proprietário, acho até que ele comeu um bom churrasco por nossa conta naquele dia. Depois do contrato de compra firmado e pago, começaram as pendengas. Primeiro foi tentar fazer com que a Veraneio saísse do lugar! Não pegava de jeito nenhum, então acabamos rebocando ela para a minha oficina.
                                  Depois de alguns dias, terminado outros serviços que eu tinha na oficina, me doei inteiramente a perua. A primeira descoberta desanimadora foi no motor, estava oco. Éra mais solto do que peido em bombacha!!. Foi um balde de água fria em cima dos nossos sonhos.
Até que não era tão ruim, o problema todo era o coração da coitada! Em frente a ela, o cantinho de um outro Galaxie que tive.
                              Passaram-se alguns meses sem que eu tivesse vontade de colocar a mão na coitada. Meu irmão e o meu amigo Dinho já haviam desistido de arruma-la. Nós iriamos gastar um bom dinheiro para reformar o motor, depois suspensão, caixa, diferencial. Lata nem se fala. Era mais fácil comprar um carro pronto. O sonho acabou!!!!
                               Seguidamente eu ia  a cidade de Três Coroas, dar uma olhada no ferro-velho do Turco.  Era muito grande, tinha muito carro antigo e o ferro-velho era bem antigo também, tinham muitos dodges desmanchados lá. Verdadeiro cemitério de Galaxies,  Dodges e outras tantas raridades! Tinham tantos carros naquele lugar, que em certos pontos o mato crescia por cima dos carros, era bonito e triste ao mesmo tempo.
                               Algum tempo depois, estava eu indo de bicicleta ao Ferro-velho doTurco, (de Taquara a Três Coroas 25km), quando chegando a cidade, encontrei um Charger R/T 1975 amarelo Montego encostado na beira da estrada (RS115).

Foto meramente ilustrativa, mas o carro era idêntico a este!! Claro que não tão novo como este, tinha a pintura um pouco gasta, mas muito orignal
                           O carro era totalmente original, e quando digo totalmente, era mesmo! Tinha as faixas laterais, calotinhas do R/T, frisos completos, vinil, letreiros, os bancos de couro originais, tudo! Tudo!! Tenho a foto dele muito viva na minha lembrança. Se achasse hoje em dia um carro assim ficava louco!
                            Bom, tinha uma casa quase em frente, uns 300m, fui lá e perguntei a respeito do carro. Uma senhora me atendeu e me disse que passados alguns dias, este carro teve uma pane mecânica e o dono o deixou alí. O dono disse a ela que era da cidade de Novo Hamburgo-RS e estava em viagem a Gramado-RS e que o carro estragou. Que ela desse uma reparada no carro para ele por algum tempo, depois ele viria buscar. O carro ficou meses no mesmo lugar! Voltei a falar com a mulher e ela disse que o dono nunca mais tinha dado notícias.
                                Algum tempo depois passei novamente por lá e não vi mais o carro. Fui até o ferro-velho do Turco e tive uma infeliz surpresa. O Charger estava empilhado em cima de uns três carros. Cheio de amassados por todos os cantos.
                                Foi aí que vi um outro Charger, que havia recem chegado ao ferro velho para ser desmanchado. Já não tinha mais a coroa e pinhão do diferencial, mas o resto estava completo. Um Charger R/T 1977 Vermelho Riviera.
                                 Prontamente adentrei no estabelecimento comercial e falei com o proprietário, sr. Turco.
                      -É de venda este Dodge vermelho? Perguntei.
                     - Ele: Sim!
                     - O sr. aceita troca em uma Veraneio? Está funcionando, trago ela aqui rodando!!
                      -Ele me disse: Olha , eu não gosto de trocar coisas! Gosto de vender e comprar! Mas em todo caso, o que posso fazer é trocar taco a taco! Não te dou volta nenhuma!!! Isto se ela chegar aqui rodando!
                                Era só o que eu queria ouvir!!! Ele achando que estava fazendo um grande negócio e eu um negócio melhor ainda.
                       Disse a ele que a Veraneio estaria lá no outro dia, bem cedo da manhã. Só que com uma condição, eu queria que ele levasse o Dodge a Taquara com o guincho de graça, já que o mesmo não tinha mais o diferencial fechado. Ele concordou.
                        No outro dia foi um sufoco levar a Veraneio até lá, mas a coitadinha chegou e fizemos o negócio.
                        Mas esta história fica mais pra fente, pois tem outros carros que comprei antes.
                        Na próxima postagem falo sobre um Magnum 1979 branco Ártico      

terça-feira, 1 de março de 2011

Charger R/T 1979 Bege Cashmere/Marrom Sumatra

                                No final da década de oitenta eu já tinha um considerável estoque de peças de Dodge, fornecia para particulares e oficinas de várias cidades do RS e SC. E como o comércio de peças era mais rentável e menos trabalhoso do que o conserto de Dodges, foi nesta época que resolvi optar por algumas coisas.  A primeira delas foi de parar com o serviço de chapeação e pintura. Optei por continuar no que eu sempre gostei mais: Parte mecânica de Dodge, e, também, compra e venda de peças. Continuei a fazer as pinturas mas só nos meus carros, como faço até hoje.
                                 Precisava de mais tempo livre para fazer meus negócios na rua. Como diz o ditado, "Quem trabalha demais não tem tempo de ganhar dinheiro." Tempo livre este que ocupei com minhas vendas. Comecei a fazer um tipo de serviço de entrega de peças. O cliente me ligava, fazia uma encomenda e eu enviava a peça. Para lugares longes de Taquara, mandava pelo correio ou de onibus, mas na região metropolitana de Porto Alegre entregava pessoalmente. E com isto já aproveitava para procurar Dodges e peças. As vezes as despesas da minha ida a Porto Alegre com almoço e gasolina não era suprida pela mercadoria que eu entregava.
                                  Mas mesmo assim achava válido, pois quase sempre descobria alguma coisa nova. Quando não achava nada interessante, passava uma tarde ou manhã inteira na oficina do meu grande amigo Darcy Ferrari. Quem é de Porto Alegre ou  mesmo do interior do estado, que teve Dodge ou Galaxie nos anos 80 e 90, certamente conheceu este homem. A oficina dele ficava na Av Assis Brasil, esquina com a Sertório. Ao lado do Tumelero. Exatamente onde fica a loja Cassol hoje. Nós éramos muito amigos, trocávamos peças e conhecimentos. Aquele italiano tinha muita peça, na época era o cara que mais tinha peça de Dodge do RS.
                                  O Ferrari sempre tinha novidades em peças, lá sim era o verdadeiro parque de diversões. Digo isto porque as peças de Dodge que sempre me interessaram, e interessam até hoje, foram os acabamentos como: lanternas, frisos, molduras, letreiros, rodas, calotas, grades, ou seja, detalhes que fazem dos nossos Dodges verdadeiras raridades! Coisas dos nossos Dodges! Peças mecânicas todo mundo tem. Hoje em dia principalmente, tá cheio de gente que importa peças dos EUA, mas na grande maioria  parte mecânica. Tudo bem, só assim tem bastante peças no mercado, que bom! Mas nada comparado aos acabamentos! Dou um exemplo: "Tu manda pintar o teu carro, pintura nova, brilhosa, lindo! Motor idem, todo reformado! Mas e os acabamentos?? Lanternas feias, para-choques feios, frisos amassados, letreiros feios ou de ano diferente do teu,  etc, etc". Posso dizer de cadeira! Um carro com os acabamentos bonitos é cem vezes melhor do que um carro com pintura nova! O acabamento é o diferencial do carro antigo! Eu, particularmente, dou mil vezes mais valor entrar em um ferro velho, dos antigos, cheio de peças de Dodge penduradas, carcaças, entre outras coisas, do que entrar em uma loja moderna, com peças novas importadas. É por isto que estou lutando para fazer o meu museuzinho de peças. 
                                   O Ferrari era um cara que tinha inúmeras fontes de peças, sempre aparecia alguma raridade. Certa vez comprou uma carreta Scania, cheinha de peças da Chambord auto, ajudei ele a desempacotar e abrir muitas caixas!
                                   Uma vez cheguei lá e ele me ofereceu um motor Hemi 426 com a respectiva caixa automática. O motor e a caixa estavam jogados em um canto da oficina. Era de um argentino, amigo dele, que seguido vinha de Buenos Aires com um Challenger. Em uma destas vindas o argentino capotou o Challenger. O carro parece que não sobrou nada, mas a mecânica completa estava lá no Ferrari para venda. Não comprei o motor por  pura falta de recursos, hoje me arrependo. Eu poderia pagar como pudesse. O que eu tenho daquele motor é a tampa do distribuidor!! Ganhei de presente e hoje é meu porta canetas da minha mesa do escritório. Que tempo aquele!! Tenho saudade do amigo Ferrari! Quanta cervejinha gelada tomamos no bar do outro lado da rua! As nossa conversas eram agradaveis e bem humoradas. Este tempo não volta mais!! Em outra ocasião conto para vocês como acabei ficando com todo o estoque de peças do Ferrari, e era peça!!
                                    Bom... deixando a seção nostalgia para outra hora, vamos para o Charger Bi-color.
                                    Em uma destas minhas idas a Porto Alegre, passei em frente a uma revenda de carros importados antigos, na av. Ipiranga, e de relance olhei os carros expostos no pátio. De cara vi um Charger RT 79 e um Maverick GT78. Como tinha tempo de sobra, parei e fui lá olhar.
                                   Fiquei abobado e babando ao mesmo tempo com estes dois carros! Não sabia qual deles olhar primeiro. O Dodge tinha 18.710Km rodados e o Maverick GT-V8 24000 e poucos Km. Dois carros zero! Fiquei ali mais de uma hora olhando e sonhando. O Maverick GT era impecavelmente original, o Charger RT também, exceto o fato de ter as calotas do Magnum.

Primeira foto tirada do Charger
                                   O dono da revenda era muito gentil, um ótimo vendedor mesmo. Me convidou a entrar no escritório e conversamos muito. Me perguntou qual dos dois gostei mais e lhe disse que tinha gostado dos dois. Se tivesse dinheiro levaria-os na hora. Os dois carros tinham o mesmo preço: US$6000,00. Lembro que cada um tinha o valor equivalente a um Gol GTS ou GT novo. Sei disto porque um amigo de Taquara comprou um naqueles dias. Para a época eram valores bem altos, mas o estado dos carros exigia isto, não poderiam ser vendidos por menos.
                                    Peguei o Dart azul e fui embora, mas, nas horas e dias seguintes não pensava em outra coisa que não fosse naquelas raridades. Na semana seguinte quando fui a Porto Alegre, passei novamente na revenda, parei, olhei, pensei. Que dilema! O dono da revenda me viu e convidou a entrar nos carros, o cara deixava a pessoa a vontade. Agradeci e fui embora!

Simplesmente novo!!!!
                                    Um mês depois, uma pessoa muito próxima a mim, na época, que prefiro não falar quem é, mas... posso dizer com toda certeza que foi a maior decepção da minha vida, me apareceu com o dinheiro e o colocou na minha mão, em dolares, e eu poderia devolver a quantia em um ano.
                                     Peguei a grana e fui para a rodoviária de Taquara, depois direto para Porto Alegre. Chegando lá peguei um taxi e pedi ao motorista: - Cara!! Voando para este endereço!!! E torcendo para que o carro ainda estivesse lá. Quando o taxi encostou na frente da revenda, e eu avistei o Dodge, literalmente caí para dentro da revenda! O carro tinha sido recem lavado, estava impecável! Limpo e lindo!
O Dodge chamava muita atenção pelo seu estado

Na entrada da garagem que o acolheu por anos
                                      Fui direto e me parei ao lado do Charger, este é meu! De agora em diante ninguém coloca mais a mão!O senhor vendedor veio em minha direção, e prontamente atirei os dolares nele. Ele começou a rir e me disse: -Vamos dar uma volta para tu ver como ele é. Eu disse: -Negativo! Não precisa, eu só quero três coisas!  Um recibo, te pagar e ir embora!!!.
                                      Bom, tinhamos de ir a um cartório reconhecer firma no recibo. O cartório era no centro da cidade, então fomos de carro. Eu estava tão ansioso para resolver tudo aquilo e ir embora, que quase nem percebi o carro que fomos ao centro. O cara tinha um Camaro, acho que 74 ou 73, super inteiro. Mas eu não ouvia e nem enxergava nada. Voltamos a revenda, papelada toda certa, era só entrar no carro e sair o mais rápido possível de Porto Alegre. Tocou o telefone na revenda, era o dono do Charger que avisava que queria me conhecer. Esperei uns quinze minutos e o homem apareceu. Era um senhor mais velho, deveria ter perto de 70 anos. Conversamos um pouco, lhe perguntei das rodas originais, se por acaso não tinha em casa. Me disse que quando o carro chegou na agência, achou as rodas do Charger horriveis, tinha um Magnum ao lado, pagou uma diferença e trocaram as rodas no dia da compra do carro zero. Me disse também que no banco traseiro nunca haviam sentado pessoas. Era virgem!
                                     Perguntei a ele onde tinha comprado o carro e ele me respondeu que foi em São Leopoldo-RS, na agência "Mocauto".
                                     Depois de ver estes anûncios, fiquei com a pulga atras da orelha!!! Eu acho até que o meu Charger  pode ser este! Quem duvida disto??

Com toda certeza este Charger que esta na vitrine da agência Mocauto, em São Leopoldo, é da cor Bege Cashmere/Marrom Sumatra. Pois não parece ser  Cinza/Preto ou Azul/Azul. Outra coincidência: O sr que me vendeu o carro disse que ao lado do Charger tinha um Magnum!!! Dou quase certeza que o meu é este da foto!!

Acredito que o meu carro possa ser este da propaganda da Mocauto. Pelo número muito baixo de Charger 79 vendidos, tem possibilidades!
                                     Lembro de algumas coisas que o vendedor me falou antes de eu ir embora: : -Tu tem que abastecer, tem um posto a 200m aí em frente. Este carro em poucos anos vai valer uma fortuna, então, não roda muito e se rodar, cuida o máximo que puderes. Boa Sorte!
                                     Então, me fui!!
Que quarteto hein?

Na entrada da Garagem

Foto tirada no estacionamento do meu escritório. F600 V8 de segurança do Charger

Manual do proprietario e o catálogo de endereços das revendas Chrysler no Brasil. Junto do estojo para guardar os manuais

Manual do rádio com o esquema eletrico
                                       A minha primeira alegria com o Charger foi quando parei no posto para abastecer. O carro foi rodeado por várias pessoas. Só o que se ouvia era: -De onde saiu este carro! Outra pessoa disse:- Não sabia que ainda estavam fabricando! Mas eu só queria mesmo é sair do transito pesado da capital gaúcha, estava começando a ficar meio neurótico com todo aquele movimento. Parece que todos os carros vinham em cima de mim. Mas deu tudo certo, em pouco tempo estava na RS020, estrada calma, indo em direção a Taquara.  Neste momento em diante que comecei a relaxar e pude realmente sentir o carro que eu tinha nas mãos. Olhava detalhadamente para o seu interior, tudo novo!  Olhava o capô do motor, em movimento, lindo.
                                        O prazer daquela viagem foi inesquecível, nunca tinha andado em um carro tão silencioso e macio! Simplesmente novo! O cheiro de Dodge era prazeirosamente asfixiante dentro do carro! No banco traseiro e nas soleiras das portas ainda tinham os plásticos de fábrica. Quando cheguei em casa todo mundo se abobou, a palavra corrente era: -É novo, é novo, é novo! E eu cada vez mais pirado.
                                        Eu sempre fui muito ciumento com minhas coisas, com meus carro então nem se fala. Nunca gostei quando as pessoas olhavam meu carro com os dedos, sempre recriminava! Dizia que dedo não tem olho, carro se olha com os olhos. Tinha pavor quando alguém se encostava em meu carro, seja qual fosse! Dizia:- Isto não é poleiro!! Entre tantas outras coisas. Cheguei ao cúmulo de achar que este carro era mais importante que uma pessoa   Bom, resumindo, eu era um belo exemplar de neurótico com carro. Confesso que ainda sou um pouquinho, mas bem menos!!
                                          O Charger era tão novo e original, e eu tão ciumento, que varias e varias vezes deixei de sair com ele para não gastar. Quando andava, não gostava que as outras pessoas ficassem olhando. Adorava andar com ele, mas na época gostaria que nós dois fossemos invisiveis. Sou uma pessoa muito simples, nunca gostei de notoriedade e nem de ser o  alvo quando estou reunido com pessoas. Acho que a frase certa para definir isto é: andar nos bastidores ou por trás dos holofotes.
                                         Mas,  não sei exatamente qual força superior rege este mundo, mas que existe, ha isto existe! E foi com este carro, que esta força maior me deu uma grande lição, que jamais esqueci. Talvez até a maior lição que tive até hoje.
                                          Em um domingo muito bonito de sol, precisamente em maio de 1993, coincidência ou não, mesmo mês que comprei o carro no passado, tinhamos eu e toda a minha familia combinado um grande churrasco  na sede campestre do GTG de Taquara.
                                         Não sei porque, mas resolvi que iria com o Charger bi-clor. Então, fui cedo para lá, para bem de procurar um local adequado e seguro para colocar o Charger, de preferência longe das pessoas e protegido do sol. Encontrei um ótimo lugar, bem embaixo de uma árvore.
                                          O dia transcorria maravilhosamente bem, todo mundo animado, a carne no fogo, conversas de todo tipo rolando, um dia sensacional de outono.
                                          Quando se aproximava da uma hora da tarde, o churrasco quase pronto, o tempo começou a virar. Começou a se armar um grande temporal, o céu ficou negro, de uma hora para outra, parecia até que estava anoitecendo a uma hora da tarde. Começaram rajadas muito intensas de vento. O mundo parecia que iria vir abaixo. Todo mundo começou a ficar preocupado, aguardando  o que viria pela frente.
                                           Mas eu, na minha ignorância e prepotência, vendo toda aquela fúria da natureza, profanei o que  um ser humano jamais possa dizer, falei: -Não caindo uma árvore em cima do meu carro, o resto por mim, pode acontecer o que quiser!!
                                          Chego a ficar arrepiado só de lembrar! Dizendo aquilo, não pensei em meus pais, meus irmãos, meus sobrinhos e tantas outras pessoas que estavam lá naquele momento.
                                         Mas a força maior mostrou que a gente não é nada nesta vida, e as coisas materiais muitíssimo menos. Alguns segundos após eu fazer aquela profanação, olhei de longe para o meu carro e não consegui vê-lo, pois estava encoberto pela árvore, que poucos instantes antes, lhe protegia do sol!
                                           Corri desesperadamente para lá e constatei que a árvore fora arrancada pelos fortes ventos, e caiu bem em cima do teto do Charger! Destruiu o teto do carro.
                                            Tinham dezenas de carros lá naquela dia, dezenas de pessoas, mas as únicas coisas lesadas foram o Charger e eu. Digo coisas se referindo a minha pessoa porque um ser humano que opta entre um bem material e uma pessoa, tem de ser chamado de coisa!
                                             Eu fiquei literalmente acabado naquele dia, não sabia ao certo o que pensar. Tirei a árvore de cima do carro e fui para casa. Lembro bem da cena, dirigindo com o teto quase encostando na minha cabeça!  Coloquei o Charger na garagem, fiquei muito tempo olhando aquela imagem. Chorei e xinguei maldizendo aquilo tudo.
                                            Passaram-se os dias e os meses e aquilo tudo não me saia um minuto da lembrança. Lembrava continuamente das minhas palavras, lembrava de todos os meus familiares que estavam lá naquele dia. Como fui tão fútil, tão materialista a ponto de colocar um carro acima das pessoa que eu amava e amo até hoje. Mas a dor ensina a gemer! Tem pessoas que só aprendem sofrendo na carne.
                                              O carro ficou por anos guardado naquele estado, até que em 1999 resolvi arruma-lo. O teto até dava para arrumar, pois não amassou muito. Apesar da árvore ser enorme, quando caiu, ela se escorou em um barranco que estava ao lado e o que pegou no carro foram os galhos. Mas eu tinha um teto novo guardado e resolvi cortar o amassado. O serviço ficou ótimo, o Charger ficou igualzinho como antes. Mas desde o do dia em que  aconteceu o fato, nunca mais saí com ele da garagem. O Charger está parado a 18 anos. Com exatamente 42632Km. Ainda tem as placas amarelas e o último documento pago foi do ano de 1993.
                                            Peço que Deus me perdoe e que eu possa ser uma pessoa cada vez melhor. Que trate cada  ser humano com dignidade e respeito!
                                             Na minha próxima postagem, a segunda Chevrolet Veraneio que comprei, juntamente com meu irmão e meu amigo Dinho.
             
                               Algumas fotos do carro nos dias de hoje: